CAPÍTULO 15-NO AEROPORTO

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O aeroporto não estava muito cheio quando César chegou. O check-in foi rápido e em pouco menos de uma  hora ele estava sentado em uma das confortáveis cadeiras da sala vip, esperando anunciarem o seu voo.

Novamente, as memórias não lhe deixavam em paz.

_Boquinha de veludo..._César sussurrava enquanto sentia os lábios de Miguel explorarem todo o seu corpo.

E pensar que aqueles lábios agora beijavam outro corpo...o de Verônica.

Balançou a cabeça para afastar a visão que se formara em seu cérebro dos dois nus numa cama, se amando, trocando juras de amor.

Olhou o relógio novamente. Ainda faltava uma hora.

Tudo estava sendo organizado em sua mente. Voltaria para os Estados Unidos, de onde nunca deveria ter saído...esqueceria tudo aquilo e levaria sua vida normalmente. 

Seria fácil, na verdade, pelo que percebera, impor isso a sua mente: Miguel realmente estava morto. Desde o encontro com o desconhecido no banheiro da galeria, até aquele momento...tudo fora um terrível engano: aquele homem que o olhara de frente, bem dentro de seus olhos,  sem o reconhecer não poderia ser o seu marido.

O "normal", durante os últimos  vinte anos, era imaginar Miguel morto, ele viúvo, pulando de homem em homem...de cama em cama...dois, três, quatro relações fúteis a cada semana...sempre tomando o cuidado para nunca se apegar a ninguém...não queria sofrer perdas mais...nunca mais...sabia como doía...uma vez já fora o bastante. Nunca mais se envolveria emocionalmente com ninguém!

Agora faltavam apenas cinquenta e cinco minutos...

Rostos anônimos iam e vinham pelos corredores do aeroporto...histórias anônimas...diferentes...como nas ruas dos Estados Unidos, onde ninguém o reconhecia...todos viviam as suas vidas sem nunca se envolver com a vida dele e agora...Verônica queria que ele seguisse um roteiro para refazer uma vida que fora interrompida há 20 anos. 

Não...muito obrigado, ele deveria ter dito a ela. O pior ele  já passara...o pior fora há 20 anos...ter que aprender a viver sem Miguel...viver fora do Brasil...viver outra vida...se afogando em negócios, papéis, empresas falidas que ele se esforçava para resgatar, bolsa de valores, dólares, milhares de dólares!

Quantas vezes ele viera ao Brasil naquele período? Cinco...seis vezes? Sempre evitando ficar em cidades pequenas...em família...em situações que o levassem de volta a alguma memória daquela vida que ele planejara pra ele, até que Miguel lhe fora arrancado naquele acidente em que ela tivera a maior parte da culpa...aliás, TODA A CULPA.

Quarenta e sete minutos...

No fundo, estava cansado de ser um cavaleiro errante, como dizia Santiago ao vê-lo descartar os possíveis pretendentes. 

Santiago o recriminava, dizia que ele ainda era jovem...ainda não tinha 45 anos...que poderia refazer a sua vida...conquistar outro amor...outro marido...

O que Santiago sabia de perdas? O que ele sabia de pensar por um momento em nunca mais ver um rosto amado?

Naquele tempo ocioso, voltou a se questionar sobre algo que o atormentava, de vez em quando: naquela época, chegou a pensar que não se importaria se o casamento durasse dois, três meses...um curto período de paixão avassaladora, até que sentisse falta da diversidade e voltasse a procurar outros corpos, outros homens...será que teria sido  assim se Miguel não tivesse morrido? Será que ele teria se enjoado dele em algum momento e pulado fora do casamento? Ele nunca saberia.

Será que não seria justamente porque terminara de maneira tão trágica que ele tivera a impressão que seria fiel a Miguel a vida inteira? 

Será que um pouco de peso na consciência por ter envolvido o garoto sonhador de 15 anos naquela armadilha amorosa, o arrastando a se envolver em toda aquela trama de orgias, sexo irresponsável, amizades com adultos pervertidos e depravados...atiçar a ira de Verônica a ponto dela agir daquela forma traiçoeira...ele também tinha parte da culpa?

MEU CORPO NÃO TE ESQUECE!-Armando Scoth LeeOnde histórias criam vida. Descubra agora