Capítulo 1

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A chuva cai forte do lado de fora. Olho impaciente para a televisão e vejo que meu vôo atrasará. Quando acordei, senti que foi com o pé esquerdo.
Hoje é -na verdade, era pra ser- o dia que tudo vai mudar na minha vida. Há alguns meses, senti que estava na hora de ir embora de Valparaiso, depois de seis anos morando no Chile, retornar para minha terra natal é mais do que necessário. Após a morte terrível de meu marido, não existe mais nada que me prenda aqui, então, com uma ótima proposta de emprego e família a minha espera, retornarei à minha amada França.
O café já frio, que comprei em um quiosque, logo na entrada da sala de embarque, não está tão saboroso quanto antes. Termino de tomar e o jogo dentro do lixo, observo uma família feliz do outro lado do saguão, fazendo com que meu coração apertasse e meus olhos enchessem de lágrimas. Rapidamente, pego minha bolsa e minha mala de mão e vou para o banheiro. Sorte a minha que está vazio, pois não consigo mais aguentar. Tiro os óculos assim que ficam embaçados com meu choro, minha mão vai em direção ao meu rosto, tentando enxugá-lo a qualquer custo.
Vejo o reflexo no espelho de alguém entrando no banheiro, abaixo a cabeça e seco meus óculos, logo recolhendo meus pertences e voltando para perto do meu portão de embarque.

[...]

Olhei meu reflexo no vidro pela última vez antes de a porta ser aberta por um homem alto e forte.

Bom dia– ele fala abrindo espaço para eu passar.

Bom dia, onde é a sala do senhor Pierre?– pergunto tímida.

No último andar.

–Muito obrigada.

Entro no elevador junto de outro homem, super bem vestido, alto e com um cheiro maravilhoso.

–Bom dia– falo por educação.

–Bom dia– responde sem nem me olhar, apenas prestando atenção no iPhone.

–Você trabalha aqui?– pergunto, tirando ele do seu mundinho, fazendo o mesmo me encarar confuso e revelando seus belos olhos claros.

–Não. Você não me conhece?

Eu deveria te conhecer?– desvio o olhar para minhas mãos.

Acho que sim, todo mundo conhece. Mas, em todo caso, Kevin Trapp– ele continua me olhando, esperando alguma reação, mas eu apenas balancei a cabeça. –Você realmente não me conhece?

Nunca ouvi falar– respondo sincera, até demais.

Em que mundo você vive?– Não consigo diferenciar sua pergunta de um comentário grosseiro, então prefiro não rebater de forma arrogante.

No mesmo que o seu.

Acho que não, é bem burrinha pra ser do mesmo mundo que eu. Até logo– fala saindo do elevador e me deixando com cara de idiota.

Espero chegar no último andar, onde me deparo com uma enorme sala de espera, cheia de cadeiras estofadas. Caminho lentamente até a mesa da secretária e pergunto por Pierre.

Ele já está a sua espera, é bem ali.

Obrigada.

Bato na porta, que desliza automaticamente, dando a visão do dono da BFM TV. Pierre Weill.

Elizabeth?– Pergunta quando me aproximo.

Sim, bom dia, como vai?– Sento na cadeira em sua frente.

Muito bem, obrigado. Então, Elizabeth, nós já trocamos e-mails antes, gostei muito do seu currículo, já te falei isso. Ví muita personalidade em você, estou certo de que não vai me desapontar. Só preciso que assine estes papéis e me dê os documentos que pedi, depois passe no RH para acertar alguns detalhes e veja quando quer começar– ele fala muito rápido, foi bem difícil acompanha-lo, mas coloquei minha pasta de documentos em sua mesa e ele me entregou alguns papéis para analisar.

Time FliesOnde histórias criam vida. Descubra agora