Capítulo 21

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Ontem a noite foi em um restaurante. Precisei aturar várias gracinhas, por ser a única mulher e por estar acompanhando Kevin. Tivemos de companhia: Edi, Paulo, Rodrigo, Thiago e Adrien. O último fazia provocações para deixar Kevin irritado, sempre me elogiando e dizendo estar apaixonado. É claro que eu morri de rir ao ver Kevin tentando disfarçar sua raiva.
No final da noite, Adrien, Paulo e Rodrigo seguiram até uma boate, enquanto os outros me deixaram em casa e foram para o hotel dormir. Kevin me deixou na porta de meu apartamento e só foi embora após eu o dar um beijo -na verdade, foram vários- de despedida. Antes de entrar no elevador, disse que volta aqui antes de eu voltar para a França.
Hoje, eu acordei meio triste. Levantei cinco e meia da manhã e fui assistir até uma igreja rezar por Ramon, depois disso, tomei café da manhã e, como estou de folga, voltei em casa apenas para buscar Barbie para dar uma volta.
A trouxe no parque de sempre, onde ela pode ficar solta brincando com os outros cachorros, mas dessa vez ela apenas deitou ao meu lado e ficou me fazendo companhia. Em um ano muita coisa mudou. Eu nunca me imaginei sem Ramon.
Lembro de quando ele chegou na escola, no meio do ano. Completamente tímido. A pausa de inverno havia acabado de terminar e não era esperado que alguém entrasse naquela época. Alguns meninos fizeram graça com ele, mas ele parecia não ligar, na verdade, não entendia. Eu, uma garotinha magrela e pequena de onze anos os mandei para o inferno e sentei ao lado do garoto até então desconhecido. Lembro de ter arrumado os óculos e o cabelo antes de puxar um assunto qualquer.

–Quel est ton nom?– Pergunto e ele demora alguns segundos para responder.
Como você se chama?

–Ramon. Et toi?– Seu francês é extremamente carregado de sotaque.
Ramon. E você?

–Je m'appelle Elizabeth, mais vous pouvez appeler Liz. D'où venez-vous?
Me chamo Elizabeth, mas pode me chamar de Liz. De onde você vem?

–Eu sou chileno, vim para cá porque meu pai foi transferido.

–Entendi. Então, se você precisar de qualquer coisa, pode falar comigo. Posso ver seu horário?– Ele tira o papel da mochila e me entrega.– Temos mais quatro aulas juntos e nosso almoço é no mesmo horário. Se você não se importar, posso te ajudar com a adaptação.

E a nossa amizade começou. No ano novo do ano seguinte, nossas famílias viajaram juntas para o Courchevel 1850, onde demos nosso primeiro beijo.

–Ramon, aqui é muito frio– falo o abraçando quando chegamos no alto do teleférico.

–Aproveita a vista– ficamos olhando as montanhas cobertas de neve.

Já sentia algo a mais por ele. Era tudo muito confuso. Eu comentei com uma amiga e ela disse que estava na cara que ele também gostava de mim.
Assim que chegamos no chão, fomos andando até o rinque de patinação. Não íamos patinar, só queríamos o aquecedor.
Sentamos em uma das arquibancadas e ele segurou minha mão, enquanto me encarava com seus olhos azuis.

–Liz, eu tenho uma coisa pra dizer, mas eu preciso que você prometa que se você não gostar, não vai mudar nossa amizade.

–Pode falar, eu prometo– ele ficou calado por alguns segundos, buscando coragem.

–Então, é que, eu meio que... hum... gosto de você– fico quieta o olhando, assimilando suas palavras.– Como mais que amiga.

–Sério?– Sorri e ele fez o mesmo.

–Sim. Agora, eu quero saber se você quer ser minha namorada.

–Quero!– O abraço forte e ele nos afasta um pouco após um tempo.

Ele cola nossos lábios em um selinho longo.
Nós não sabíamos como beijar com a língua, afinal, éramos duas crianças. Combinamos que nosso namoro seria segredo, mesmo todos sabendo que nós estávamos "juntos". Nós nos encarávamos, ríamos e fugíamos juntos. Nossos pais já sabiam que isso iria acontecer. Três meses depois, nós nos assumimos enquanto nossas famílias jantavam em uma pizzaria. Só viemos beijar de língua com seis meses de namoro, e a primeira vez não foi muito agradável, nem a segunda, nem a terceira... enfim, pelo menos chegou uma hora em que funcionou.
Lembro da nossa primeira vez. Tínhamos dezesseis anos e foi em um dia de outono, que terminamos de estudar e ficamos no quarto dele assistindo filme e nos beijando. As coisas começaram a esquentar e eu decidi que dessa vez iria ceder. Pedi para que ele trancasse a porta e colocasse uma música, para que seus pais não ouvissem nada. E aconteceu. Doeu no começo, mas depois ficou bom. Tudo com ele era bom.
Ele esteve comigo em todos os momentos bons e ruins. Esteve quando eu perdi meu avô, e quando meu pai foi embora. Também esteve quando eu consegui uma vaga na faculdade, quando consegui meu primeiro emprego.
E quando ele me pediu em casamento no meio de uma viagem de carro. Ele simplesmente parou o carro no acostamento e pediu para casar comigo.
Casamos em Cannes, em uma cerimônia pequena.

(Sugestão: ouçam Skyfall-Adele)

E o dia mais triste da minha vida. Quando ele morreu. Caminhávamos calmamente na Playa Mansa. Era final da tarde e estávamos em uma parte com poucas pessoas. Nos beijamos pela última vez, e foi questão de segundos até alguém gritar e eu escutar o primeiro disparo. Em seguida vieram o segundo e terceiro. Me joguei no chão chorando, puxando Ramon junto comigo para que nós não nos feríssemos. Mas ele só se jogou após mais dois tiros. Depois que o barulho das sirenes ecoaram na praia, consegui abrir os olhos e vi meu marido quase morto em minha frente. O sacudi enquanto chorava e ele tossiu.

–Liz, você é o amor da minha vida– falou fraco e eu não conseguia parar de chorar.– Me desculpa.

–Para! Ramon, você vai melhorar. Por favor, aguenta mais um pouco, já estão chegando– ele sorriu e olhou meu rosto inteiro.

–Você é tão linda, Liz. Eu te amei mais que tudo nessa vida. Eu vou te amar pra sempre.

–Não me deixa, por favor, eu te amo muito.

C'est la vie– sussurrou.– Você foi o ser mais bonito, mais puro que eu conheci– uma lágrima escorre do olho dele e eu seco.– Fica bem. Eu nunca vou te abandonar. Nunca mesmo. Eu te amo.

–Eu te amo muito, muito, muito, muito.

–Eu te amo demais. Você e minha família são as pessoas mais importantes da minha vida. E agora, Liz– tento segurar o choro mas não consigo.– Eu estou indo em paz, porque eu sei que passei minha vida da melhor maneira que eu podia.

–Você não está indo a lugar nenhum.

–Estou, Liz. Quero que você siga sua vida. Não fique presa a mim. Saiba que eu te amo e quero te ver feliz.

–Você vai continuar comigo! Ramon, por favor!

Os médicos chegaram e me afastaram dele. Ele sussurrou um "eu te amo" e eu fiz o mesmo. Me examinaram mas eu não tinha nada, então me levaram para a delegacia para depor.
Agora, algumas pessoas me encaram por eu estar chorando, mas eu não ligo. Barbie continua deitada do meu lado, e eu faço carinho nela.
Durante o dia, recebi mensagens de muitas pessoas, mas não li nenhuma. Não estou preparada para isso.

🍪🍪🍪🍪🍪🍪🍪🍪🍪🍪🍪🍪🍪
Capítulo pesado hein 😬😬
Precisava falar da relação deles dois!!!
Juro que chorei muito escrevendo enquanto ouvia as músicas da Adele
Espero que tenham gostado
Próximo capítulo vai ser MUITOOOO legal pra quem gosta do Kevin e da Liz juntos😊😊😊

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