Capítulo 14

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REPOSTADO [2021]

Luíza:

Acordei com a garganta arranhando de sede. Estava zonza e com dificuldade para enxergar. Meus ombros e pulsos doíam, senti meu rosto latejar. A porta se abriu e pude ver a silhueta de três homens entrando no local.

Reconheci Otávio. Ele se aproximou e a luz revelou seu rosto. Em seguida o rosto de Carlos também se revelou. O terceiro homem eu não sabia o nome, mas também o reconheci.

- Sentiu minha falta? - Carlos perguntou, sorrindo.

Permaneci calada, tentando formar algum plano enquanto ignorava a dor em todos os meus músculos. 

- Ela vai apanhar mais um pouco, pra aprender a ter bons modos. - Otávio disse, em zombaria.

- Preciso ir ao banheiro. - minha voz falhou ao dizer.

Carlos se pôs atrás de mim e soltou minhas mãos, rompendo a silver tape com um canivete.

- Se tentar alguma gracinha eu enfio uma bala na sua cabeça. - ele disse, com seu hálito quente contra o meu rosto.

Em seguida soltou meus pés e me empurrou para o banheiro, batendo a porta atrás de mim.

Do outro lado da porta podia ouvir sua respiração ofegante. Tentei alongar os braços e estralar alguns ossos, enquanto analisava o banheiro. Meus olhos vasculharam cada centímetro daquele pequeno espaço, em busca de alguma esperança.

Não havia como fugir. A pequena janela tinha barras grossas de ferro. Espiei para o lado de fora mas não pude ver nada além da escuridão da noite.

Meus olhos planaram sobre o espelho quebrado, mas não me reconheci. Suspirei, controlando a vontade de chorar. Depois de tanto tempo fugindo, lá estava eu novamente, nas garras daquele homens nojentos.

Meu rosto estava desfigurado. Tinha um corte em minha testa, a cima da sobrancelha. O lado esquerdo do meu rosto estava tão inchado que eu nem conseguia abrir o olho. Minha pele estava vermelha e roxa, com hematomas e sujeira de sangue seco.

Abri a torneira para que eles não me ouvissem chorar. Sozinha naquele banheiro sujo, vendo meu reflexo em um espelho quebrado, me permiti chorar. As lágrimas salgadas fazem linhas sobre meu rosto, ardendo em minha pele lesionada.

Pensei em tudo o que me levou até aquele momento. Lembrei de como André era gentil, e de como se tornou violento. Lembrei de tia Telma, dizendo que eu estava me envolvendo com as pessoas erradas.

Eu tinha certeza que iria morrer. Tentei tanto fugir, mas no final seria só mais uma garota que fez escolhas erradas, confiou nas pessoas erradas, nasceu da forma errada, estava no lugar errado... Só mais um número para as estatísticas.

Encarei meu reflexo no espelho mais uma vez, e tive uma ideia. Uma última esperança. Com a ponta das unhas puxei uma lasca de vidro, de formato triangular pontiagudo. Escondi dentro de minha roupa, pressionado contra meu cóccix.

Lavei meu rosto na água que escorria da torneira. Fiz uma conchinha com as mãos, tomando alguns goles. Buscava na água que se acumulava em minhas mãos, a coragem necessária para não desistir de mim mesma. Eu só precisava esperar pela oportunidade certa.

Fechei a torneira e saí do banheiro.

Carlos logo agarrou meu braço, me empurrando de volta para a cadeira. Torceu meus braços para trás, me prendendo com silver tape novamente. Repetiu o processo com meus tornozelos.

Otávio apenas observava calado, fumando um cigarro. Ele estava se deleitando ao me ver ferida e presa novamente.

O celular dele tocou. Ele encarou a tela por alguns segundos e sua feição mudou completamente. Sua raiva tornou-se perceptível.

Quando Conheci Luíza [em revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora