REPOSTADO [2021]
- Pode soltar ela. - ouço Miguel falar.
Meus olhos estão vendados, meus braços estão erguidos, presos em um gancho metálico no teto. Sinto mãos soltando meus pulsos e meus tornozelos.
Estou há dois dias presa em pé, sem comer, sem beber, sem sequer tomar banho.
Um homem grande me solta, cambaleio pela fraqueza mas as mãos fortes me impedem de cair. Sou empurrada. Apesar da venda, a luz do dia chega aos meus olhos. Por um momento acredito que irão me libertar.
Não poderia estar mais enganada.
Permaneço parada, encolhida. Com um puxão brusco a venda é tirada de meu rosto.
- Olá, garotinha. - Miguel diz com um sorriso sádico.
Aqueles homens me tiram do galpão onde estava. Sou levada para dentro do casarão, me empurram para dentro de um banheiro. Há toalhas limpas e um roupão dobrados sobre o vaso sanitário, sabonetes perfumados e shampoos. Tiro a roupa suja e rasgada, entro no box, ligo o chuveiro apressada e encho minha boca com a água que cai.
Uma água morna escorre pelo meu corpo, pelas minhas coxas e minhas pernas. Tomo banho apreciando cada segundo desse momento mas temendo o que está por vir.
Alguém bate na porta com força, sem dizer nada. Entendo o recado, me enxaguo e visto o roupão. Ao abrir a porta do banheiro um homem me guia até um quarto do andar de cima e me deixa sozinha. As janelas tem grades e mesmo que não tivessem, o quarto fica no terceiro andar, não conseguiria pular.
Após alguns minutos André entra no quarto, acompanhado de Miguel e outro homem, mais velho. Me encolho em um canto do quarto, Miguel tranca a porta e André vem até mim, com uma seringa na mão. Ele segura meu pescoço contra a parede e enfia a seringa em meu braço, injetando todo seu conteúdo em mim.
Não sei por quanto tempo fiquei apagada. Abro os olhos com dificuldade, minha visão está turva e os sons parecem vir de longe. Meu rosto está pressionado contra o colchão e há um homem em cima de mim. minhas pernas estão flexionadas, não consigo me mover. O roupão que me vestia está no chão.
No sofá ao lado da cama há outra garota. Ela está nua, de bruços e Miguel está em cima dela, completamente nu. Ela está acordada e não está relutante, mas chora constantemente.
O homem em cima de mim está me estuprando. Eu não consigo me mover, apenas chorar. André está segurando meu quadril para que outro homem me estupre, como se servisse uma refeição à um convidado.
Miguel sai de cima da garota, com dificuldade ela se encolhe no sofá chorando compulsivamente, vejo medo em seu rosto. Ele caminha em minha direção e vai para trás de mim. O homem mais velho caminha até a outra garota e faz com ela o mesmo que Miguel está fazendo comigo. Quando finalmente sinto meus braços tento empurrar Miguel de cima de mim, mas André me imobiliza.
Após minutos gritando e tentando empurrar Miguel mesmo sem forças, percebo porque a outra garota apenas chora: Porque ela não tem mais esperanças de sair desse quarto com vida. E eu também não.
André enfia uma seringa em meu pescoço dessa vez. Quando abro os olhos, sem noção alguma de quanto tempo passou, o quarto está vazio, com manchas de sangue e preservativos usados espalhados pelo chão. Visto o roupão rapidamente e sento no chão, encolhida contra a parede. O choro me consome, grito de desespero, de raiva.
- Luíza! Acorda, Luíza! - Amanda gritou, me segurando pelos ombros. A encarei, assustada. - Você estava falando dormindo!
Meu choro estava carregado de dor. Amanda me abraçou, tão assustada quanto eu.
- Eu não aguento mais esses sonhos! - desabafei, aos prantos. - Não importa pra onde eu vá ou quanto tempo se passe, eu não consigo deixar esse inferno para trás!
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Quando Conheci Luíza [em revisão]
RomanceFugindo de lembranças dolorosas e de pessoas perigosas, Luíza vai para a capital do estado em busca de um recomeço. Quando a jovem pensa que poderá viver sem medo o passado ressurge, abrindo suas feridas. Henrique é um empresário de sucesso mas guar...