Um acerto de contas

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Quando Lua entrou na cozinha, Melissa estava sentada na mesa, com as mãos sobre o rosto, ela chorava.

    - O que aconteceu? – Ela sentou do lado da tia.

    -Lu… a – Não conseguia falar, então só apontou para o armário. Lua se levantou imediatamente, abriu- o:

    -A comida ainda não chegou? Onde estão os sacos de arroz? Tinha um saco de arroz aqui ontem! – Estava ficando desesperada, começou abrir as gavetas do gabinete, depois a geladeira. Não havia nada. Imediatamente ela sentia uma angústia – O que significa isso? Você pegou a comida?

Melissa a olhou, havia raiva ali, muita raiva

    -Como assim eu peguei? O que eu faria com toda essa comida? – Melissa perguntou, levantando-se.

    -Eu  não sei, mas é muito estranho porque só você que faz a comida, então deveria no mínimo ter uma resposta pra isso! – Lua responde desafiadora.

    -Você não mudou! – Melissa disse rindo e limpando o rosto das lágrimas – Continua colocando a culpa nas outras pessoas, nunca teve responsabilidade! E mesmo assim se acha capaz de julgar as outras pessoas!

    -Eu não estou te julgando, tudo bem?  Desculpa, mas você deveria saber sim onde esta a comida, até porque você era a responsável por isso! Ou vai dizer que não? – Lua estava tentando manter a calma ainda, mas as lágrimas estavam vindo aos poucos. Já tiveram aquela conversa antes.

    -Quem foi a pessoa que me nomeou responsável por isso? Você Lua? Lyra? Nós não somos um grupo? Um grupo de pessoas que devem se ajudar? Por que só eu deveria cuidar da comida? Eu posso ser burra, Lua, mas você não pode colocar a culpa só em mim, nem por isso, e nem por eu ter te batido. Desculpa.

    Era a primeira vez que ela pedia desculpa, pensou Lua.

    -Quando você foi embora, Lyra teria ficado com ódio de você, mas eu dizia a ela que a culpa não era só sua, a culpa nunca pode ser só sua quando se vive assim…

    -Assim, como?  - Lua não estava entendendo o que a tia queria dizer. Melissa se sentou:

    -Olha em volta, Lua. Estamos voltando à sua querida aldeia, Lua. Você falava do nosso suposto lar com muita raiva, mas o pior pra mim foi quando você começou a escrever aquelas coisas, você me chamava de loba e dizia que minha maldade contaminaria as pessoas

    -Você leu o meu diário? – lua perguntou.

    -Sim, várias vezes, e cada vez eu te odiava mais, te odiava porque sabia que tinha razão, eu tinha me transformado naquela mulher que havia me criado

    -Sua mãe? – Lua perguntou, mas ainda continuava imóvel, somente as lágrimas caiam do seu rosto.

    -Eu, assim como você, não fui criada pela minha mãe, e adivinha? A mulher que me criou, me batia, mas ela não fazia só isso: Me proibia de ir à escola, de ter amigas, de visitar o túmulo da minha mãe. Eu só trabalhava e pronto.

    -Isso ainda não justifica o que você fazia comigo – Lua disse. Mesmo não conseguindo sentir raiva, tinha certeza daquilo: Nada justificava a violência, ou a falta de respeito.

    -Não, não mesmo. Perdão, Lua. Nesse momento eu só preciso do seu perdão, você precisa saber que todas as vezes que eu te batia eu chorava depois, eu lembrava o que havia me levado até ali, até a violência.

    -O que te levou à violência? Uma infância perturbada?

    -Eu te conheço Lua, se não, já teria desistido, quando você foi embora eu senti muito orgulho de você, porque, mesmo pensando individualmente, com aquela história da aldeia, sua vitimização, Lua! Você estava pensando em todas as pessoas, estava falando de todo o tipo de violência, e eu tenho certeza que enxergava a violência que eu sofria!

    Lua sentou na mesa, de frente para a tia:

    -Meu tio – Disse.

A aldeiaOnde histórias criam vida. Descubra agora