São tantas coisas que estou me desfazendo, é uma pena já que continuarei aqui em casa, o ano letivo enfim acabou para e eu tenho certeza de que não vou sentir falta dele. Ao longo do tempo, venho tendo surtos e a minha deficiência piorou o meu estado de humor.
Por que eu tenho que me animar com o meu futuro?
Não gosto de pensar nele e nem sei se eu o mereço, ouvi tanta coisa no ensino médio, como:
“Ei surdo, por que você ainda insiste em ter um futuro? Nem falar pode!”
Não estão errados, porque muitos deficientes como eu... — Bem, não gosto dessa palavra, mamãe a nomeou como: Anjo do som. Não é pra ser irônico, mamãe falou que Deus não tirou minha fala, nem me impediu de ouvir o sons, ele apenas me desafia a encontrá-los no meu coração. —... Não mereço ter um futuro, não é feito para mim.
É um modo bonito que mamãe usa para ver as coisas que me relaciona, eu não falo nada — se vem que não tem como mesmo — e deixo a pensar que acredito no que me diz. Minha deficiência não é tão pior quanto as outras; posso ouvir com a ajuda de um aparelho; aonde aumento e diminuo o volume, ele me ajudou muito ao longo dos anos, também consigo falar, mas não normal como as pessoas comuns, não sei formar as palavras direito, é como um bebê tentando aprender a falar, olho para o movimento da boca que as pessoas fazem e tento aprender, mas evito, porque não gosto do modo que falo e tenho que evitar que as pessoas me ouçam.
Não saio, não gosto de para festas da família — nem qualquer outra — e não gosto de pessoas elas me assustam.
Me interesso por música e amo escrever, porque pelas histórias tenho minhas palavras inteiras, não pingadas como tenho falar na realidade, por elas tenho minha própria voz e ouvidos. É o meu mundo, que posso ser eu mesmo sem medo. Uso um aparelho auditivo para poder entender as pessoas a minha volta, na história eles são inexistentes, eu sou normal.
Vivo com o meu padrasto Robin, Anne; minha mãe, eles são donos de uma loja veterinária e petshopping, lembro que passava tardes com eles, me divertindo com os animais... e tem Gemma; minha irmã mais velha que está noiva de um advogado bem sucedido chamado, Tony, eles já fazem planos para a casa nova. Gemma é professora da educação infantil numa escola perto da nossa casa. Ela é a melhor irmã que alguém poderia querer ter um dia, não vou mentir, sentirei sua falta quando ela mudar com o noivo. Mas tudo bem, as pessoas tem que viver suas vidas e não se prenderem a mim.
E embora a minha vida pareça ser triste e solitária, digo que não sou sozinho completamente, tenho dois amigos; Liam e Niall, cujo um não tem visão e o outro tem loucura mesmo de nascença. Liam é o universitário e não possui nenhuma deficiência, ele é gay e não esconde isso de ninguém, seu curso é de arquitetura e ele ama muito. Niall não possui a visão mas também estuda, ele quer ensinar música para os deficientes visuais, diz que não pode deixar sua vida parar por alguma coisa — ele é bem humorado e meu melhor amigo, não é colocando Liam no baixo, ele fica no topo também, mas Niall, nossa conexão é diferente, não sei explicar em palavras ou gestos.
Na maior parte do tempo e da minha vida, fico em casa, a arrumo quando está bagunçada, junto uma pilha de livros e os coloco na cama, fingindo que estou estudando para um vestibular — embora eu não me interesse por nada que venha me fazer lembrar do futuro, completarei meus dezenove anos logo na semana que vem, nunca passei em alguma prova dessas, mesmo estudando, sou um fracasso e burro demais, quem faz a mesma prova duas vezes e não passa?
Ah sim, eu mesmo, Harry Styles.
Tentar pela terceira vez, por que seria diferente?
Naquela tarde quase noite, estava cansado de não fazer nada, largo meu caderno na cama, olhando pela janela aberta do meu quarto, do outro lado ficava o velho playground aonde costumava brincar quando criança, como aquelas que ali estavam, gritavam eufóricas e riam, infância é boa, ruim é crescer e perceber que as responsabilidades fazem parte da sua vida. E tudo o que você quer fazer é fugir para poder voltar a ser criança novamente. O vento soprou denso e frio no meu rosto, jogando meus cachos para trás, e a minha pele arrepiar devido ao clima que começou a esfriar, assim que me inclinei no parapeito da janela, torci meu nariz, voltando para dentro e me sentando na cadeira giratória.
Hoje acordei sem inspiração para escrever, então fiquei de bobeira encarando a parede cheia de posters que tenho no meu quarto; eles se tornaram tão feios e chatos, olhando bem agora.
Bufei arrumando meus cachos e comecei a bater a caneta impaciente na perna, mordendo meus lábios ressecados e encarando a pilha de livros sob a minha cama, estavam abertos em uma página qualquer — para quando a luz vermelha que tem no alto da minha porta piscar, me avisando que alguém se aproxima, assim corro para a cama e coloco o livro na cara, fazendo meu teatro de “estou estudando”.
Liam fora quem inventou para mim, sou grato por ter além de um arquiteto, um gênio-inventor, como amigo.
“Você pode estudar”, falava a voz na minha mente.
— Hum...hum! — neguei com um murmúrio.
Larguei a caneta na cama e desci para comer alguma coisa, acabei preparando um sanduíche natural e um suco, voltando para meu quarto e não sei porque sentei na frente do computador, que estava ligado faz uma hora mostrando os ursos pandas na minha tela.
Não medo na internet como muitos adolescentes, eu não posso, mamãe me proibiu porque uma vez, tentei me enturmar com as pessoas nas redes sociais famosas: Facebook, Twitter e Instagram, mas acabei me decepcionando e me obecava pela vida perfeita que essas pessoas tem, me perguntando porque não podia ser como elas, nascidos perfeitos. Acabei ficando maluco e transtornado, querendo cada vez mais a vida dos famosos para mim.
Tipo: “ser normal”. Com isso, acabei ficando mais doente do que já sou e pirei, mamãe me levou para uma clínica e tive que me tratar — descobrindo que tenho transtorno mental, mudança de humor, ansiedade, depressão e todas as coisas a mais... Depois desse ocorrido, Anne me disse para evitar as redes sociais, tem medo de tudo voltar a acontecer novamente e que eu tente me jogar na frente de um carro como fiz antes.
Olhei para a bolinha verde, vermelha e amarela com o fundo azul, aonde Google estava escrito.
“Não Harry”, dizia a voz.
Contudo já havia clicado e uma página de pesquisa carregou. Sei que era errado contradizer as ordens da mamãe, mas eu ficaria longe das redes sociais famosas.
Meus dedos digitaram: “sites de histórias anônimas”, lembro do Liam comentar com o Niall que lia histórias tipo em um “blog” e que era tudo privado, ninguém precisava usar seu nome verdadeiro e foto, era um site “legal”, dizia ele. E apareceram vários links e páginas de navegação, eu clicava em alguns mas nada de ser atraído... Até que... Um site me chama a atenção:
A.C.H — ANÔNIMOS CRIADORES DE HISTÓRIAS
Era o que estava escrito, acabei me interessando por ele e cliquei na página, logo me cadastrando, inseri meus dados e fiz a conta anônima, antes de buscar alguma história, vi que precisava de uma foto (opcional colocar) e o nome do user. Fui na minha galeria e escolhi o urso panda tapando a boca — para mim era uma imagem que mostra quem sou eu, de modo irônico nela, para os outros era apenas uma imagem bonitinha — em seguida escrevi o nome do user: @cupkake e iniciei minhas buscas.
Havia vários gêneros de histórias, não sabia por onde começar mas tendo a certeza de que aquele era meu mundo. Meu universo. Vaguei meu olhar pela tela e vai uma história: “Infinidade”, escrita pelo autor @boobear. O número de visualização era GRANDE, e ele tinha muitos leitores. Cliquei na história, lendo a sinopse e gostando do que se tratava, logo me encantando e “comendo” cada capítulo que ali estava pronto, quando percebi já era quase noite, meus pais estavam prestes a chegar mas não queria deixar de ler, também queria ter alguma forma de agradecer ao autor por escrever tão bem, porque gosto de elogiar os trabalhos das pessoas, ainda mais quando são bons. Corri o olhar para seu perfil e com medo, apertei em enviar uma solicitação de amizade e comecei a o seguir.
Desliguei a tela do computador quando vi uma luz forte na garagem e sabia que era meus pais.
Foi quando me dei conta que havia feito uma burrice de mandar solicitação dr amizade para um autor que bem “famoso”, não vi muito, mas olhei na Timeline que ele tinha muitos amigos, afinal, por que ele iria querer ser meu amigo?
Deitei na cama, bastando os punhos na testa. Oh céus!
![](https://img.wattpad.com/cover/145283460-288-k269544.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Secret Love History - Larry Stylinson
Fiksi RemajaQuantas noites você contou as estrelas do céu? Quantas vezes desejou ver aquela pessoa que está a um encruzilhada de estar ao seu lado? Harry Styles estava perdendo a sua vida, as chances de sair ileso do seu acidente era pequena até o momento em q...