Capítulo 17

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Estremeço de frio mais uma vez antes de abrir os olhos, ainda está escuro mas a frente posso ver os primeiros raios de sol começarem a surgir no horizonte, olho para o lado onde Jaime ainda dorme, tento levantar sem o acordar, escuto ele resmungar e aos poucos abrir os olhos.

- Desculpe, não queria te acordar.

Ele me olha e pisca os olhos por alguns segundos me encarando.

- Por que está aqui?

Ele se levanta rápido, mexo meu corpo dolorido pela noite anterior e pela noite mal dormida.

- Fiquei presa pra fora...

Ele sorri de repente e me olha.

- Tá com fome?

Escuto minha barriga roncar, será que ele ouviu antes? Faço que sim com a cabeça, estremeço de leve não sei se de frio ou medo, o que o capitão faria se eu pedisse comida.

- Espera aqui!

Ele sai correndo feliz, não consigo deixar de sorrir com a alegria do garoto.

- Cuidado..!

Digo para ele lembrando de sua perna mas ele não parece escutar, olho para horizonte, o capitão disse que chegaríamos em terra pelo amanhecer mas vejo apenas água pela frente, Jaime volta e senta a minha frente.

- Aqui, toma!

Ele ampurra um prato com pães para minha frente, sem pensar duas vezes pego um pão e dou uma mordida, um gemido de satisfação involuntário escapa pela minha boca só sentir o sabor do pão, olho para o garoto ainda sorridente a minha frente.

- Então Jaime... quantos anos você tem?

Pergunto entre uma mordida e outra.

- Oito... Mas quase nove.

Ele conta orgulhoso, sorrio de leve antes de dar outra mordida no pão.

- Como está a perna... dói muito?

Ele mexe a perna como que a testando.

- Quase nem doi mais... e você? Tem quantos anos?

Engulo mais um pedaço sentindo a energia ser devolvida ao meu corpo.

- Dezessete...

Derrepente escuto passos próximos.

- O que está fazendo? Eu não disse que podia comer hoje disse?

  Solto o pão na mesma hora, sinto meu corpo todo tremer, olho de relance para Jaime e volto a olhar para o capitão.

- Me desculpe, por favor desculpe.
Coloco a mão sobre a barriga ainda dolorida da outra noite.

- Eu dei comida pra ela capitão!

  Olho ainda assustada para Jaime que agora está de pé e olhando nos olhos do capitão, ele parece um homem e não um garotinho como antes, escuto o capitão xingar várias vezes e então sou puchada pelo braço, olho nos olhos do capitão antes dele começar a me arrastar para longe de Jaime.

- Vamos continuar de onde paramos ontem... antes dos homens acordarem.

Ele fala aparentemente mais calmo e me soltando, mesmo assim estremeço.

- Me ataque!

Fico confusa por alguns instantes, recebo um soco no rosto que faz eu cambalear para trás vários passos.

- Eu disse pra atacar mulher!

Me recupero e tento acertar um soco nele mas ele desvia com facilidade e bate nas minhas costas fazendo eu cair, levanto o mais rápido que posso e volto a o encarar, ele da um passo para frente e eu recuo um.

- Por que está fazendo isso?

Como resposta recebo um chute na perna que faz com que eu caia de novo, levanto mais uma vez agora com um pouco de dificuldade, antes de estar de pé sinto seu braço em volta do meu pescoço, a pressão não deixa eu respirar, escuto algumas risadas no convés então ele me solta, caio no chão, o ar parece queimar meus pulmões, vejo Jaime e outros homens olhando de longe.

- Você só come com minha permissão, só dorme aquecida com minha permissão, só respira com minha permissão, fique em seu lugar Ratinha... E não tente fazer meus homens ficarem contra mim nunca mais.

Cerro os dentes ao escutar o apelido que a dias ele não falava, Jaime, isso foi por causa dele ter me defendido? começo a levantar com um pouco de dificuldade.

- Estamos chegando Capitão... Terra a vista.

Um marujo grita de longe, olhando para o horizonte, ando e vagar até a borda do navio e de longe posso ver a sinueta de montanhas não muito altas.

- Vá para o quarto!

Escuto o capitão falar atrás de mim, não o questiono, caminho um pouco tonta ate o quarto e entro batendo a porta, sento na cama e levanto a blusa, analiso meus hematomas passando o dedo sobre elas, uma a uma, pontadas de dor me atingem a cada toque.

Escuto a porta se abrir e abaixo a camisa na mesma hora e o olho, não vejo expressão alguma em seu rosto.

- Você vai ficar no barco... não quero você zanzando na cidade, fique no quarto o dia todo e nem pense em fugir... ou eu te acho.

Ele fala olhando em meus olhos então começa a se aproximar de mim, olho em volta sem ter pra onde correr, sinto seus dedos apertarem meu queixo me forçando a olhar para ele.

- Entendeu?

Seu bafo cheira a Rum e seu corpo a suor, estremeço de medo.

- Sim.

- Sim?

- Sim senhor!

Completo e ele parece satisfeito com a resposta e sai me deixando sozinha.

Sete MaresOnde histórias criam vida. Descubra agora