Capítulo 44

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  Os dias passam cada vez mais rápidos, uma calmaria nos rodeou por quase uma semana mas o vento atendeu nossas suplicas e voltou a soprar ainda mais forte em direção ao nosso destino, durante a calmaria entendi outro dever do mestre de armas, agora meu dever, ajudar o imediato a manter a ordem quando os homens perdem a calma, há um fino corte em minha sombrancelha me lembrando disso e tenho certeza de que o homem nao vai esquecer também, eu me assegurei de que ele tivesse um lembrete.

 Levo mas um pedaço de carne a boca, a comida ainda é farta mas a água a semanas estragou e a dias acabou, mas ainda há rum, o navio balança de leve fazendo uma lamparina bater de leve em uma das vigas, mesmo durante o dia aqui em baixo é escuro, coloco um dos pés sobre o banco e com a ponta da faca levo mais um pedaço aos labios, escuto alguém sentar a minha frente mas não ergo meus olhos.

- Está se saindo muito bem com as armas pelo que soube senhorita!

Pigarreio e cravo a faca na mesa, abaixo a perna e só então ergo meus olhos para o capitão.

- Sei que ainda está zangada pelo que fiz...

- Não estou, fez o que achava certo não o culpo, lhe devo minha vida e vou pagar a divida, salvou minha pele mais de uma vez em terra depois do ocorrido, não posso ficar brava.

Ele sorri de canto e retira algo do bolso, parece um pedaço de madeira, ele estende para mim.

- Você mudou ratinha!

Pego o pequeno objeto entre os dedos, é um boneco de madeira pendurado em uma corrente grosseira, olho para ele, nunca tinha visto o objeto mas sei a quem pertenceu.

- Quero que fique com ele, eu tinha feito para minha filha antes de...(ele toma um gole de rum e suspira)-Você me lembra dela, todos os dias que olho para sua cara me lembro do que eu perdi e esse seu maldito cabelo me lembra do fogo que as tomou de mim.

 Fico sem reação, muitas palavras vem a minha mente mas não consigo pronunciar nenhuma delas, ele xinga e levanta para ir embora, sem pensar duas vezes eu o abraço, abraço como quando me machucava e minha mãe abraçava, ou quando estava com saldades de Noah. Ele me afasta pelos ombros.

- Eu estou perto de vingá-las e então poderei descançar... mas você não tem nada a ver com minha vingança, não se meta mais nisso!

 Suspiro e penduro o boneco em meu pescoço, não me meter... ele me coloca em direção de minha casa, me conta sua vida, salva a minha e pede manda que não me meta.

- Sinto muito Capitão, não posso obedecer essa ordem! 

 Ele não olha para mim apenas vira as costas.

- E não me abrace nunca mais.

 Desmorono no banco, mil e um pensamentos invadem minha cabeça, casa, estou indo pra casa, poderei ver Noah mais uma vez, meu pai talvez.... Puxo uma garrafa de rum e tomo quase metade de uma vez só.

 Debruço minha cabeça na viga atrás de mim, será que vão me reconhecer depois de todo esse tempo? Como Noah vai reagir ao ver no que me tornei? Tomo outro gole. 

 Na vida sempre existe um momento em que decisões dificis devem ser tomadas, onde o bem e o mal são divididos apenas por uma linha imaginária e que não há um caminho certo a ser seguido, esses momentos ocorrem com mais frequencia do que o desejado em minha vida,  há pessoas muito ruins em minha cidade, ruins o suficiente  para queimarem uma família inocente, para destruir um homem bom... para essas pessoas a linha não existe, e quando eu me encontrar com elas não vai existir para mim.

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