(9 luas depois)
Metal contra metal, o tilintar de espada contra espada ecoa por todo convés, a lua brilha sobre nossas cabeças, giro meu corpo me esquivando de mais um ataque do capitão, tento mais uma vez um ataque direto que ele protege com sua espada, escuto a risada de vários homens e incentivos, sorrio por poucos segundos antes de tentar de novo, e de novo, sinto o seu pé acertar a parte de trás da minha perna fazendo eu cair de joelho, antes que eu consiga reagir a isso sinto o frio da lâmina encostada no meu pescoço.
Olho para cima encontrando os olhos do capitão, largo minha espada e ele sorri afastando a sua do meu pescoço.- Foi trapaça.
Digo rindo um pouco.
- Não confie nos piratas ratinha.
Ele fala me estendendo a mão para mim, repitindo o que ele sempre fala quando reclamo de suas trapaças.
Sorrio de leve fazendo minha melhor cara de vítima e rápido passo uma rasteira nele o derrubando de costas, dou risada e me levanto sozinha, os outros pararam de rir por alguns instantes ao ver seu capitão no chão mas então esplodiram em risadas.- Nunca confie em uma mulher capitão.
Digo sorrindo para ele, que levanta me olhando.
- Muito menos em uma mulher pirata.
Ele gargalha com seus homens, sorrio comigo mesma, satisfeita por ter o derrubado pela primeira vez em várias luas de treino após treino, Jaime me tira de meus pensamentos trazendo uma garrafa de rum para mim e para o capitão, agradeço a ele e tomo um longo gole e ergo a garrafa em comemoração, me afasto deles indo para ponta do navio, me escoro na borda no navio, não me canso de sentir o cheiro do mar, nesses meses em que fiquei aqui aos poucos conquistei meu lugar, não como uma prisioneira, mas como algo mais, conheci outros marujos e suas histórias, agora consigo os ver como homens e não como monstros do mar, tomo mais um gole e olho para lua cheia que ilumina o mar negro na noite.
- Você melhorou... Um pouco.
Sorrio ao ouvir sua voz ao meu lado, ainda não entendo como ele pode chegar sem que eu veja.
- Só um pouco?
Olho para ele sorrindo de lado ainda me sentindo vitoriosa.
- Claro... Tive umas sete chances de ganhar.
Ele fala levando a garrafa aos lábios.
- E perdeu todas essas chances?
- Não quis bater em uma menininha.
Engasgo com um gole de rum, tusso várias vezes rindo, tento me controlar e olho em seus olhos, volto a rir ao ver sua expressão séria.
- Eu não concordo.
Ele dá risada de mim, todas as vezes que apanhei deles voltam a passar pela minha mente, quando ficava presa ao mastro nas noites frias, já não consigo mais contar quantos hematomas tenho em meu corpo, olho para a água batendo contra o casco do navio, eu achava que depois do ocorrido em terra ele não me machucaria mais, estava enganada.
Olho para o horizonte e penso no que Noah pode estar fazendo, se ele está bem.- Sente falta dele?
Engasgo de novo mas não olho para ele, sinto um bolo crescer em minha garganta.
- De quem?
Em momento algum tinha falado sobre minha vida na ilha, então ele sabia poucas coisas sobre meu passado, passei duas noites no mastro por me recusar a contar.
- Ora garota... Dá pra ver no seu olhar, seu pai era um bêbado nogento... Mas você vive com os olhos no horizonte, tem alguém lhe esperando em casa?
Suspiro, e tomo outro gole impedindo as lágrimas de caírem.- Tenho... Ele é meu melhor amigo desde sempre, me ajudava a conseguir comida.
Posso ver seu sorriso.
- A roubar comida não é mesmo?
- Sim... Como sabe disso?
Ele dá risada e sinto seus olhos sobre mim.
- Você roubou de mim... Com certeza não foi sua primeira vez.
Acompanho ele com uma risada fraca.
- Não mesmo... Desde bem pequena roubava pães na feira ou maçãs, ele me ajudava a fugir... Sem o Noah eu não conseguia subir em alguns lugares e acabavam me pegando.
Conto baixo, sinto como se um peso fosse tirado de minha mente ao contar a ele sobre isso, sobre mim, sobre Noah. Tiro uma mecha de cabelo para trás mostrando minha orelha com um grande rasgo ele larga a garrafa, levo um susto com o vidro quebrando no chão, ele segura minha cabeça e analisa minha orelha, escuto ele xingar baixo desviando o olhar e me soltando.
- Capitão... Agora que eu contei sobre mim... Podia me contar algo sobre você...
Arrisco o pedido, mordo o lábio um pouco nervosa e olho para ele que está sério ainda, suspiro tentando controlar o turbilhão de emoções no meu peito.
- O que quer saber?
Ele pergunta virando o rosto para o mar.
- Seu nome? Da onde você é? Por que decidiu ser um pirata?
Pergunto rápido tudo que a tempos atormentava minha mente.
- O que? Não gosta de Capitão, ou Imperador?
Ele pergunta rindo de seus nomes, nomes contados em histórias de suas pilhagens, o demônio do mar, capitão do Imperatriz.
-Pois bem... Façamos um acordo, se conseguir me vencer mais uma vez eu respondo a uma pergunta.
Ele estende a mão para mim e eu a aperto.
- Não vou pegar leve como hoje... Foi apenas uma brincadeira até agora... Agora vai ser pra valer.
Passo a mão pelo cabo da espada presa a minha cintura, sua lâmina fina e seu cabo negro com filigranas de prata, a adaga presa na outra perna.
Volto a olhar para o horizonte e ofereço a garrafa a ele.
- Se era pra me deixar com medo... Não conseguiu capitão.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sete Mares
AdventureNuma época em que piratas aterrorizam os mares, soldados lutam para manter suas cidades seguras, onde os ricos, os fortes e poderosos oprimem os mais fracos, onde o dinheiro fala mais alto que a razão, uma simples garota luta contra a oportunidade d...