Sete Mares

Capítulo 13

  Acordo sem nem entender que havia adormecido ali mesmo no chão, onde tinha passado boa parte do dia anterior, tremendo e chorando,com ódio e medo, meu corpo está dolorido percebo ao tentar levantar, meus olhos param sobre um prato a minha frete com dois pães, sem ao menos pensar duas vezes pego um dos pães e mordo, não posso evitar um suspiro de prazer ao sentir aos poucos meu estômago se encher novamente o que é um alívio visto que a dias não comia, em poucos minutos o prato está vazio, sinto a força voltar para meu corpo, sorrio comigo mesma por alguns segundos, fecho os olhos ainda sorrindo com o simples fato de ter comida, me levanto e caminho até a mesa onde o caderno parece me esperar com suas folhas em branco prontas para serem preenchidas, sento e abro o caderno foleando até encontrar a folha que estava escrevendo suspiro e pego a pena, escuto gritos incompreensíveis do lado de fora, resmungo tentando me concentrar na folha em branco, molho a pena e começo a escrever alguns números, mas um forte estrondo faz com que eu risque a folha com o susto, sinto o barco balançar, levanto rápido quase caindo corro até a porta que para minha surpresa está aberta, olho em volta sem entender por que os homens correm então vejo outro navio ao lado desse, vejo alguns homens pularem do navio inimigo para o nosso, meu corpo parece congelado, quero correr mas meu corpo não obedece meu desejo, em poucos minutos tudo que posso ouvir e o barulho de espada contra espada acompanhado de gritos de dor e de vitória, vejo aos poucos sangue escorrer pela madeira enquanto homens caem gritando e outros já sem vida, o barulho de tiros e metal é muito alto mas não o suficiente para não escutar os gritos agonizantes, então do outro lado do navio vejo o garoto, Jaime, lutando contra um homem que deve ter o dobro de seu tamanho, minhas pernas parecem se guiar sozinhas, eu corro em direção a ele, em meio aos homens, sinto uma mão segurar meu braço me viro já me debatendo, vejo um homem moreno com uma grande cicatriz atravessando seu rosto.

- Uma mulher?!

  Ele parece surpreso ao me ver, aproveito sua distração e acerto um chute em meio a suas pernas, me soltando volto a correr sem olhar para trás, posso sentir o sangue correr em minhas veias, fixo meus olhos em Jaime que está poucos metros a minha frente um homem cai a minha frente, um grito escapa pela minha garganta, tropeço sem querer em seu corpo e caio, vejo uma espada no chão ao seu lado e a pego rápido levanto rápido, ergo a espada bloqueando um ataque que nem tinha visto, um homem me olha intrigado por alguns instantes antes de investir de novo com a espada, bloqueio seu ataque com a espada na minha mão, sinto todo meu braço tremer com o impacto, do nada vejo ele cair no chão, sangue respinga na minha roupa, sem parar para pensar pego a sua espada também e volto a correr, vejo a espada de Jaime ser jogada longe, tudo parece ficar em câmera lenta, ele começa a se afastar, sinto meus pés saírem do chão, o homem ergue a espada sobre a cabeça do garoto, afundo minha espada em suas costas, um grito de raiva escapa pela minha garganta, que tipo de homem tenta matar uma criança? O homem cai, ainda segurando a espada de joelho sobre o homem morto olho para Jaime.

  O garoto parece surpreso ao me ver, ele me olha com os olhos arregalados, então como se acordasse do transe ele junta sua espada.

- Você tá bem?

  Pergunto mas a voz parece ter vontade própria como se não fosse eu falando apesar da voz ser minha.

- Tô... Não preciso da sua ajuda.

  Ele fala me olhando com raiva, não entendo por que dele estar bravo comigo agora, não que ele precise de um motivo. Fico de pé e tento sem sucesso tirar a espada das costas do homem, uma mão segurar meu braço com força olho para o lado já erguendo a espada e encontro os olhos do capitão.

- Pra dentro... Agora!... E leve Jaime com você, não saiam de lá até que eu avise.

  Apenas faço que sim várias vezes e sem perguntar pego a mão do garoto e começo a puxar ele rápido para o quarto do capitão, escuto ele me xingar várias vezes e mandar solta-lo mas o ignoro, o puxo para dentro rápido e fecho a porta, ainda escuto ele reclamando que sabe se cuidar e que precisa lutar com os outros, empurro a mesinha para porta trancando a passagem de qualquer um que tente entrar, então olho o garoto parando os olhos em sua perna esquerda.

- Você tá machucado!

  Até eu fico surpresa com a calma que consigo falar isso, ele olha para sua perna e parece se assustar.

- Co..como?

  Abro o baú do capitão em busca de uma camisa mais limpa escolho uma e rasgo, sem me importar com o que o capitão  vai achar, olho para ele.

- Senta... Vou ter que enfaixar tá... Pra não perder muito sangue.

  Ele não diz nada apenas senta ainda me olhando, vou até ele e me abaixo a sua frente, rasgo a sua calça revelando um corte profundo, ele parece com dor, olho em seus olhos ele contém lágrimas e está com uma expressão que muitas vezes vi em mim mesma.

- Gosta de histórias Jaime?

  Ele me olha sem entender muito mas faz que sim com a cabeça.

- Ok então vou lhe contar uma história tá bom?!

  Ele confirma com a cabeca, rasgo a camisa mais uma vez e começo a tentar limpar sua perna, vejo a dor tomar sua expressão, quero distrai-lo de sua dor, vasculho minha mente atrás de uma das histórias com que Noah me encantava por horas.

- Foi a muito tempo atrás...