Capítulo 7

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  Os monstros marinhos de todas histórias do mar inundam meus piores pesadelos me remexo desconfortável sobre o chão de pedra, escuto passos e abro os olhos rápido, minha respiração acelerada pela adrenalina do pesadelo e também pelo medo do que o destino preparou pra mim, dois homens com uniforme param em frente a minha cela e a abrem, meus olhos param sobre as correntes que o segundo entra, engulo em seco sabendo que minha hora chegou.

- Eu não deveria receber a visita de um padre, ou algo do tipo?

Pergunto baixinho, minha pergunta é respondida com um riso.

- Não você bruxa.

  Ele me levanta pelo braço e prende minhas mãos com as correntes, olho para a porta e para os homens, acerto forte meu joelho entre as pernas do homem a minha frente e corro, antes de passar pela porta e minha cela o outro homem me segura eu giro rápido acertando o cotovelo livre em seu rosto e volto a correr, os gritos do primeiro homem fazem um pequeno sorriso brotar em meu rosto, a corrente dificulta que eu corra rápido o bastante, mesmo assim torço minhas pernas a continuar se movendo casa vez mais rápido, já consigo enchergar a luz no fim do corredor de pedras, algumas mais pontudas castigam meus pés, mas me nego a desistir, então continuo correndo em direção a luz, sinto a brisa bater contra meu rosto no momento que atravesso a porta mas então sinto uma não segurar meu braço me fazendo cambalear e me debater, escuto mais passos se aproximando e o homem que tinha acertado primeiro aparece a minha frente, eu junto o que me resta é coragem e guspo em seu rosto, recebo um soco no rosto como resposta, volto a ser arrastada em direção ao centro e qualquer esperança que eu tinha é deixada pra trás, qualquer resquício de coragem foi levada pelo vento, simplesmente fecho os olhos deixando me arrastar dois homens passam por nós carregando o corpo inerte de um homem, engulo em seco enquanto meus olhos acompanham o cadáver e logo depois olham para frente onde a alta construção de madeira me aguarda, uma multidão grita enfurecida envolta de mim, sinto objetos se chocarem contra meu corpo mas não consigo ver o que são, sou empurrada escada a cima, meus olhos se fixam na corda pendurada logo acima da minha cabeça.

- Rachel Amber... acusada de pirataria, roubo, traição, crimes contra a igreja e bruxaria.... condenada a ser pendurada até a morte pelos seus crimes.

  Um sorriso vazio brota em meus labios enquanto escuto minhas acusações, derrepente tudo parece acontecer em câmera lenta, um homem coloca a corda em volta do meu pescoço e eu vejo Noah de um lado um pouco afastado quando ele percebe que eu o vi ele faz um leve sinal com a cabeça para mim e eu desvio o olhar.

- Espere... Eu tenho direito a uma última declaração.

Digo tentando ganhar tempo, eles parecem me olhar surpresos mas não falam nada então continuo.

- Vocês estão cometendo um erro... eu não sou pirata nem bruxa... Sou apenas uma mulher que quer... ser livre.

  Me arrependo no momento em que digo isso pois a multidão começa a gritar impaciente e com raiva para continuarem logo, escuto um leve estralo e o chão se abrir de baixo de meus pés, fecho os olhos,  mas algo amortece minha queda, a corda não aperta meu pescoço, crio coragem pra abrir os olhos.

  - Olá senhorita... creio que está com algo que me pertence.

  O pirata me segura em seu colo com apenas uma mão e com a outra puxa uma espada da cintura e corta a corda sobre minha cabeça e das minhas mãos, logo começo a escutar gritos e tiros, me debato contra ele e volto a correr, escuto ele rir atrás de mim, não ouso olhar pra trás apenas continuo correndo, as pessoas parecem não ligar pra mim pois estão ocupadas se salvando, seguro a saia do vestido deixando as pernas livres pra correr, viro em ruas aleatórias apenas tentando despistar aquele que sei que está atrás de mim, mas o destino parece mais uma vez conspirar contra mim quando entro em uma rua sem saida, me viro na direção da única saída e vejo o capitão parado com a espada em mãos, tomo uma tocha presa à parede a aponto pra ele.

-Nem mais um passo...

  Minha ameaça sai trêmula, na verdade meu corpo todo está trêmulo e não sei quanto tempo vou aguentar até desabar.

- Você pegou algo que é meu... e ninguém rouba de mim... me entregue e eu serei rápido...

  Ele caminha em minha direção com a espada apontada para o chão, ele parece bem ter escutado o que eu falei, seguro o caderninho com as mãos tremendo o encaro, olho pra sua espada e para seus olhos "Isso parece importante", passo o dedo sobre a fivela e sem pensar o jogo no chão e a tocha em cima dele.

O capitão olha com ódio pra mim enquanto as páginas queimam rapidamente ele volta a andar em minha direção agora com a espada apontada pra mim, sem nem perceber começo a recuar até sentir a parede contra minhas costas.

  - Eu li ele... eu decorei cada rota... cada desenho... cada linha...

  Ele me olha perplexo mas com raiva brilhando em seus olhos, não era verdade que havia decorado tudo mas uma boa parte sim.

  - Eu não sei o que é... mas se é tão valioso não vai querer me matar....

Ele solta vários xingamentos que não entendo bem e comeca a me puxar pelo braço em direção a praia.

- Por enquanto não... bem vinda a tripulação do Imperatriz senhorita.

  Ele fala quando chegamos na areia, tento inutilmente me soltar finalmente entendendo o que eu tinha feito e me xingando mentalmente, paro de me debater ao ver o mar calmo e de longe o navio.

- O que tinha de tão importante no caderno pra vocês voltarem?

  Recebo apenas um empurrão pra dentro do bote "pelo menos acordada... Ele ia me matar, mas não matou... preciso pensar" ele me encara enquanto rema desvio meus olhos dele para a água do mar,  estou viva e preciso continuar assim, deixo as pequenas ondas acariciarem minha mão e sem perceber parece que meus problemas são levados por elas.

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