CAPÍTULO 23

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Saí da casa de Thalia querendo ficar

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Saí da casa de Thalia querendo ficar. Querendo explicar a minha sogra que não era da forma que ela poderia estar pensando. Que estava envolvido, que ainda faltava dizer-lhe do noivado forjado, da sujeira entre mim e meu pai, mas precisava de tempo, precisava estar no Rio para conversar primeiro com Laura para que ela garantisse a Thalia toda a farsa.

Marcos mostrava-me o povoado com orgulho, contando suas histórias, como as pessoas sobreviviam ali e como a infraestrutura da ilha em saúde e educação era tão bem cuidadas. Ele acabou contando que o povoado era mantido daquela forma graças a doações anônimas de um empresário. Obviamente se fosse pelo governo corrupto do país aquela ilha estaria abandonada.

Logo voltamos a praça onde eu dei-lhe um dinheiro agradecendo pela sua simpatia e paciência em me fazer companhia e me mostrar o resto do povoado, ele relutou em aceitar mas no fim cedeu. Um olhar chamou minha atenção, era uma mulher de meia idade, era negra e tinha os cabelos armados como os de Amélia mas estavam amarrados em um rabo de cavalo.

Ela tinha muitas semelhanças com Thalia e sua mãe e logo deduzi que seria sua tia Sandra, a mãe de Júnior que trabalhava. Seu olhar parecia me analisar clinicamente, sem mais ela se virou e entrou em uma casa enquanto eu continuei seguindo até a casa de Amélia onde a encontrei lavando os pratos.

-Posso secar os pratos se a senhora quiser –Me ofereci entrando na pequena cozinha.

-Ora por favor, claro que não. Não está aqui para isso, eu só queria ter duas palavrinhas com você. –Ela diz séria e termina de enxaguar o último prato. Ela era baixinha mas eu senti o sangue correr do meu rosto me deixando pálido.

-Pode dizer dona Amélia –Digo quase gaguejando.

Ela cruza os braços séria e se recosta na pia. Seus olhos eram astutos, encaravam no fundo dos meus como se extraísse tudo de mim.

-Minha menina parece valente, cheia de si... Mas aquilo é a casca dela Miguel. –Ela diz e seus olhos brilham. –Por dentro ela é um menina, ela amadureceu muito rápido mas nunca se abriu para ninguém assim emocionalmente. Em todos esses anos eu nunca vi a minha filha tão feliz como hoje. Ela é minha pedra mais preciosa, é tudo que tenho de maior valor do mundo. Então eu te peço meu rapaz... Cuide dela, faça ela feliz, não a iluda, minha menina não merece sofrer.

-Dona Amélia, tudo que eu mais quero é fazer dela a mulher mais feliz do mundo. –Eu digo tentando conter a emoção. – Eu a amo muito, eu prometo que irei cuidar dela, eu tenho coisas ainda a contar... só procuro o momento certo para isso dona Amélia, é muito difícil.

Ela carinhosamente pega minha mão e ali eu sinto as lágrimas molharem minha face. Ela não se parecia em nada fisicamente com a minha mãe, mas aquele olhar refletia amor, cuidado, carinho que só recebi quando minha mãe ainda era viva. É uma falta que sempre sentirei ainda mais porque eu era o culpado direto do seu suicídio.

Perdoar (LIVRO 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora