"Hey, girl, open your walls
Play with your dolls
We'll be a perfect family
Places, places, get in your places
Throw on your dress
And put on your doll faces
Everyone thinks that we're perfect
Please, don't let them look
Through the curtains".
-Dollhouse, Melanie Martinez.
Ainda 63 dias antes...
13:00 pm.
-Meu padrasto era abusivo. - Astrid disse depois de muitos momentos de silêncio. Ela havia se acalmado há alguns minutos e ela e Soluço continuavam abraçados, com ele sentado na beirada da cama e ela em seu colo com a cabeça apoiada em um dos ombros do rapaz.
Ele não disse nada, apenas esperou que ela continuasse.
-Ele me trancava no porão da casa, dizia que nós brincaríamos. Minha mãe me drogava para que eu não soubesse o que estava acontecendo e não pudesse contar ao meu pai. - A voz dela falhou por um momento quando um nó se formou na garganta da loira, Soluço a apertou um pouco mais forte para que ela soubesse que estava tudo bem, ela soltou uma respiração e continuou: - Mas às vezes... Às vezes o efeito da droga passava antes que ele tivesse terminado e eu podia ver, podia ouvir podia... sentir tudo o que ele fazia comigo e eu me lembro... - ela engoliu algumas das lágrimas que ameaçavam cair - me lembro de pedir para que ele parasse e minha mãe dizia que eu estava sendo uma bebê chorona. - Ela riu por um momento com ironia, deixando as lágrimas caírem e Soluço fechou os olhos, se recusando a imaginar todas aquelas cenas. - E eu acreditava naquela vadia, - ela continuou - eu confiava naquela vagabunda quando ela dizia para não contar ao papai, que aquele era nosso segredo, eu achava que ter um segredo com ela significava que ela confiava em mim, então eu tinha que confiar nela. - Ela riu outra vez. - Eu era tão estúpida.
-Você não era estúpida, - Soluço a interrompeu - era inocente.
Astrid balançou a cabeça.
-Eu devia ter percebido que aquilo era errado.
Soluço franziu a testa.
-E como você perceberia? Era sua mãe quem te levava para o porão, era normal você confiar nela!
Astrid se afastou dele apenas o suficiente para olha-lo nos olhos.
-Mas não é normal sua mãe te trancar no porão enquanto seu padrasto e os amigos dele se revezam para... - Ela parou no meio da frase e fechou os olhos com força e Soluço não precisou que ela terminasse.
Ele beijou o topo da cabeça dela e ela o abraçou com força, deixando mais lágrimas escaparem.
-Astrid, está tudo bem, - ele sussurrou no ouvido dela tentando acalma-la - você está segura agora.
-Eu sei. -Ela disse entre lágrimas. - Mas só de pensar no que aconteceria se meu pai não tivesse descoberto...
-Mas ele descobriu, não é?
Ela assentiu.
-Então não perca tempo com os "e se", nada disso vai acontecer.
Ele beijou a cabeça dela outra vez e esperou até que ela se acalmasse. Quando ela se acalmou, ele suspirou e começou a dizer:
-Minha mãe morreu quando eu tinha oito anos. - Foi a vez dela de apenas esperar que ele continuasse e ele assim fez.
-Ela e meu pai eram separados porque ele era muito ocupado, mas ele sempre nos visitava quando podia. Eu vivia com ela, ela era trapezista em um circo, então nós vivíamos mudando de uma cidade para outra. Era a semana do meu aniversário quando chegamos à capital, o circo faria algumas apresentações em um parque de diversões daqui e eu estava atrás das cortinas, como sempre ficava para assistir ao show.
Ele parou por um momento, fechando os olhos e se perdendo nas memórias do lugar.
-As luzes diminuíram e os holofotes estavam todos nela, ela era incrível, estava linda como sempre. Ela sorriu para mim e pulou da plataforma, mas assim que ela alcançou o trapézio, foi atingida com um tiro na cabeça, quando ela atingiu o solo já estava morta.
Ele sentiu a mão de Astrid em seu rosto e abriu os olhos para se encontrar com os dela. O toque dela era leve e quente em sua pele e ele se permitiu apreciar aquele momento que era tão raro entre os dois. Ela se inclinou, grudando a testa na dele com os olhos fechados e ele fechou os olhos outra vez, adorando o jeito com que ela o tocava.
-Sinto muito que tenha passado por tudo isso. - Ela susssurrou e Soluço soltou uma respiração que não sabia que segurava.
-Eu aprendi a superar com tempo. E também, se não fosse por tudo isso acho que eu não estaria aqui hoje.
Eles abriram os olhos e ela sorriu.
-E você se orgulha de quem você é?
Ele riu.
-Não, eu quis dizer literalmente aqui, hoje, com você. - Ele disse a olhando nos olhos e ela sentiu seu peito saltar por um momento, mas ignorou, ao invés disso ela continuou sorrindo.
-Eu fico feliz em saber que você goste de me ver chorar.
Ele riu outra vez e a beijou rapidamente nos lábios antes de colocá-la na cama e se levantar. Ela franziu a testa.
-Aonde está indo? - Ela perguntou confusa.
-Eu tenho uma reunião com um sócio de um dos cassinos. - Ele mentiu, mas ela não percebeu. - Volto antes do anoitecer. - Ele avisou antes de sair do quarto.
Astrid pegou o celular que estava na mesa de cabeceira ao lado da cama. Ela digitou "Haddock" no Google e esperou que os resultados aparecessem, Soluço havia dito muito pouco sobre a mãe e ela havia ficado curiosa.
Os resultados apareceram e ela olhou atentamente para eles:
Cassino Lovegate é inalgurado na capital.
Família Haddock inalgura o maior cassino da história.
Família Haddock financiou a candidatura do Prefeito de Berk.
Valka Haddock: O assassinato que chocou o país.
Ela parou, olhando para o título do assassinato por um tempo. Ela se perguntava se aquilo estava certo, talvez Soluço não estivesse pronto para que ela soubesse da história toda...
Ela balançou a cabeça e por fim abriu a matéria.
Ela leu sobre a vida de Valka como uma trapezista, do casamento dela com Estóico Haddock e, por fim, da noite do crime. Ela foi até o final da página, encontrando uma galeria.
Ela viu Valka com o marido no dia do casamento, com o Soluço. Ela viu as fotos da noite do crime e deixou o celular cair nos lençóis da cama, ela olhou bem para a mulher em uma roupa de trapezista cor-de-rosa, olhou até se convencer de que não estava delirando e quando se convenceu achou que fosse desmaiar. Aquilo não podia estar acontecendo, não podia ser verdade...
O Soluço é o Fúria da Noite.
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I Need A Gangsta
Fanfiction[LIVRO #1] Todos nós temos um passado, seja ele bom ou ruim, e esse passado reflete em quem somos, nas decisões que tomamos, em como agimos e até mesmo o que sentimos. Soluço Haddock e Astrid Hofferson sabem muito bem como o passado pode afetar seu...