Ensoul

Prólogo

A neve recobre as ruas da adorável, e chuvosa, Portland. As crianças estão voltando do recesso de inverno, elas estão indo para a escola. Eu também estaria fazendo isso se eu ainda fosse para lá. Não, eu não sou adulto, eu acho que sou adolescente como os alunos da escola em minha frente, mas não tenho certeza. Não, eu não estou matando aula ou desisti de estudar, eu simplesmente não posso mais ir para lá e não estou falando de expulsão.

Eu não sei se já tive algum tipo de amigo, eu apenas me recordo de um sorriso. De alguém, mas eu realmente não me lembro de nada mais que isso. Ah, me esqueci de contar que minha memória não está a meu favor, com isso, mal lembro meu apelido.

Talvez eu tenha tido uma família, pois me lembro de abraços carinhosos maternos, mas também não me lembro de seu rosto. Se eu tive um pai ou irmãos, isso eu não consigo alcançar, está tudo muito confuso assim como grande parte das lembranças.

Eu sei que eu tinha um cachorro, estranhamente apenas me recordo de seus latidos. Mas só latidos. Se eu soubesse seu nome, poderia procurá-lo e poderia chegar a minha família, algo estranho de se fazer. Pode haver vários cachorros com o mesmo nome, e como descobriria o nome de todos os cães da cidade?

Levanto-me da calçada fria e úmida do outro lado da rua da escola, mas minhas roupas estão secas. Eu caminho entre os estudantes, agitados e turbulentos — dificilmente vão me notar. Antes que eu possa pensar em dar mais um passo, um garoto vem correndo em minha direção.

Sinto uma mistura no estômago, quase como um tipo de mal estar. Olho por cima do ombro, ele já está do outro lado cumprimentando os amigos, nem se dando conta que acabara de me atravessar. Ah, minha memória está tão ruim que me esqueci de dizer: eu estou morto.