Quando chego ao quarto de Therasia, encontro a garota na cama com o laptop no colo. Na barra do site de buscas ela digitou "Médium Portland OR".
— O que você está fazendo? — pergunto, sem tirar os olhos do cursor nervoso que percorre a página.
— Uma pesquisa — diz enquanto rola pelos resultados da busca, clicando na primeira sugestão logo em seguida. Quando a página carrega revelando seu conteúdo, digo:
— Irmãs Rey?
— Mas o sobrenome delas nem é Rey... — ela observa, distraidamente, completando com sarcasmo: — Olhe, há até uma lista de serviços com tabela de preços. Animador!
A página está nomeada como "Serviços" e nela está listado tudo o que as tais Irmãs Rey oferecem: assassinatos não resolvidos, desemprego, perda de um ente querido, morte de uma criança, problemas familiares, superação de medos, sucesso pessoal e até regressão a vidas passadas, além de muitos outros itens estranhos e até nunca mencionados por vivos comuns. Se Therasia acha o site estranho como eu, não demonstra.
— Cento e sessenta dólares por uma consulta! — Therasia exclama repentinamente, assustando-me. — E mais, quem diabos paga cem dólares por uma consulta pelo telefone?! Isso é um roubo. E o pior é que não podemos optar pela do telefone pelo simples fato de que elas precisam ver você.
— Eu não preciso de dinheiro, mas sei o que ele significa para você vivos. — Espero-a olhar para mim antes de continuar. — Pode haver outra opção, não é?
— Você conseguiria visitar as Irmãs Rey sozinho?
— E se...
— Esquece. Vamos lá. Se jogar minha mesada fora em duas médiuns notoriamente falsas possa me livrar de você, eu farei. — Ela pula da cama, andando até sua escrivaninha atrás de alguma coisa e depois correndo na direção da porta. — Vamos lá!
— Você ao menos se deu o trabalho de checar o endereço? — grito, indo atrás dela.
— É claro. Não é muito longe do Memorial. — Responde, já vestindo seu casaco perto da porta de saída.
Nós não andamos por muito tempo até chegar a uma típica casa da região, que não se destacaria se não houvesse nenhum tipo de sinalização. Há uma placa no jardim da frente, ao lado de uma árvore aparentemente morta, divulgando o suposto negócio das Irmãs Rey.
Paramos em frente ao portão da casa. Therasia observa, nitidamente, com pesar as notas amassadas em sua mão direita, suspira e finalmente decide entrar. Eu apenas a sigo um pouco hesitante, o lugar possuí uma energia estranha para mim. Eu nunca soube como vem essas sensações, tudo o que eu sei é que elas vêm de lugares em particular e pessoas — geralmente relacionadas às emoções delas. É como um tipo de "intuição", como dizem os vivos.
— Eu sei que observar os entalhes da porta pode ser muito interessante, mas podemos entrar agora? — Digo quando finalmente percebo estarmos paradas em frente à entrada da residência, mas sem fazer nada.
— É difícil deixar cento e sessenta dólares da sua mesada que levou MESES para chegar a trezentos. — Ela resmunga, mas no fim, adentra na vivenda — o mais lento e vagaroso possível.
Aparentemente, a entrada em si não há de especial. Há algumas cadeiras e um quadro avisos, e no final do cômodo existe uma única porta que deve levar para o resto da casa. Antes mesmo que Therasia possa pensar em chegar até o outro lado, a porta é aberta por uma mulher — como se tivesse previsto nossa entrada. A garota dos cabelos azuis, diferente de mim, não demonstra surpresa — apenas desconfiança rasteja brevemente por seus olhos.
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Ensoul
ParanormalO que aconteceria se um dia você acordasse e não conseguisse se lembrar de nada? Se apenas uma pessoa pudesse ajudá-lo? Esta é a história de Ed, um garoto que poderia ser normal - poderia. Mas ser amnésico e invisível nunca esteve na definição de...