— Por que esta mulher só me pede coisas difíceis? - Henry passou a mão pelo seu rosto, tentando aliviar o estresse de horas sem dormir.
— Ela quer te fazer desistir, senhor. - Andrew respondeu, enquanto bebericava o seu vinho e olhava pela janela do aposento real.
Henry se aproximou de Andrew e começou a apreciar as várias estrelas e árvores, que estavam além dos muros do palácio. Aquela paisagem deixava um certo mistério na floresta.
— Essas árvores, me lembram de quando eu ia encontrá-la as escondidas. - Henry comentou um pouco abalado, fazendo Andrew o olhar preocupado. — Eu as atravessava para ir de encontro com Camille. Era perigoso, eu sei, porém valia à pena... Pelo o amor que eu sentia por ela, valia à pena.
— Sinto muito, meu senhor. - Andrew finalizou o seu vinho, e tentou desviar do assunto depressivo. — Eu estive pensando em como resolver o pedido de Camille.
— Diga, então.
— Vamos lavar a camisa de cambraia em um lugar comum, de qualquer modo, ela nunca irá saber. - O conselheiro deu de ombros, mas viu que o seu Rei não havia ficado tão animado com a idéia.
— Henry. - Andrew o chamou informalmente, para que o outro soubesse que a conversa seria de amigo para amigo. — O que te aflige? Sei que não é apenas Camille.
— Será que isso irá valer tudo, Andrew? Eu tenho diversas responsabilidades, eu nem sequer consigo sair deste palácio sem um soldado por perto. Meus súditos não comentam tanto, mas sei que eles esperam por um herdeiro.
— Só o tempo dirá. - Andrew apertou de leve o ombro de Henry para confortá-lo.
— Obrigado meu amigo, por tudo que está fazendo. - O rei sorriu.
Eles ficaram conversando por mais algum tempo, como os velhos tempos.
[...]
Alguns soldados acompanharam Andrew até um pequeno riacho. Junto dele estava uma senhora, que era uma criada do palácio, com a camisa de cambraia. O riacho ficava próximo do palácio, entre as mesmas árvores que Andrew e Henry haviam admirado na noite anteiror.
A criada havia levado um sabão de pedra e esfregou um pouco a camisa nos locais sujos de cola. Mergulhou o tecido na água fria do riacho uma, duas... na terceira vez, Andrew e a criada perceberam que o tecido se soltou um pouco.
— S-Senhor. - A senhora ficou assustada, poderia ter acabado de estragar uma peça de roupa do rei.
— Acalme-se. Deixe-me ver isto. - Ele esticou a mão e pegou a camisa molhada.
Ao passar os dedos, sentiu a cola junto com a água grudando em seus dedos, soltando cada vez mais o tecido.
— Vamos embora. - o rosto de Andrew estava contorcido de raiva. — Teremos um dia longo.
Ele entregou o tecido para a senhora, e pediu pra que ela fosse a frente com os soldados. Queria aproveitar um pouco da paisagem para poder pensar em como falaria aquilo para Henry. A brisa um pouco gelada, fez com que ele relaxasse, e logo, o seu semblante calmo de sempre estava de volta em seu rosto.
— Não acredito. - Andrew cerrou as sobrancelhas ao reconhecer a voz feminina. — Vossa Graça anda me perseguindo agora?
Ele se virou para se encontrar com Camille que estava com um cesto de frutas em suas mãos.
— Você não deveria estar na feira? - Ele perguntou sem ânimo, não querendo ficar ouvindo comentários sarcásticos da plebéia.
— E você não deveria estar no Palácio? - Ela retrucou. Ela se aproximou da beira do riacho para lavar as frutas vermelhas do seu cesto.
Andrew percebeu que eram diversas maçãs, seu estômago reclamou por não ter comido nada.
— Para sua informação, eu moro por aqui. E ainda está cedo para eu começar o meu trabalho pela feira. - Camille continuou, enquanto tentava ignorar o conselheiro do rei.
— Ah sim, claro. - Ele falou compreensivo, estava desanimado para discutir. A camponesa estranhou.
— Está tudo bem?
— Sim. Só estou prevendo que o meu dia não vai ser um dos melhores. - Andrew suspirou. — Acho que o rei irá ficar um tempo longe de você, Camille.
Ela franziu o cenho confusa, mas logo se lembrou da camisa de cambraia e percebeu que o seu plano havia dado certo.
— Foi um prazer revê-la, mas para a sua felicidade eu tenho que ir. - Andrew já tinha dado as costas para a camponesa, quando a ouviu o chamando.
— Milorde Andrew... Este é o seu nome, não é? - Ela perguntou para ter certeza de seu nome, e ele acenou concordando. — Pegue, você aparenta estar com fome.
Ela estendeu uma maçã na direção do nobre. Andrew se espantou levemente, já que era a primeira vez que ela estava sendo gentil com ele, mas mesmo assim aceitou de bom grado a fruta.
— Obrigado, doce camponesa.
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Scarborough Fair
Historical FictionVocê está indo para a feira de Scarborough? Não se esqueça de trazer salsa, sálvia, alecrim e tomilho. Iremos fazer uma poção para a senhoria, e quem sabe, tu terás o teu amor verdadeiro de volta? 🌿 (Inspirado na Cantiga Scarborough Fair) ➛ Lembre...