Capítulo Cinco

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Simplesmente o ignoro. Não quero ter que estragar a noite do Gabriel comigo por causa de um babaca. Porém, o infeliz teve a audácia de me impedir de passar, pressionando meu corpo ao dele. Mantém firme com uma das mãos na minha cintura, enquanto isso tento livrar daquele contato íntimo.

- Apesar de tudo, você está linda. - diz e com os dedos alisa minha face olhando-me profundamente.

Uma sensação desconhecida preenche todo o meu ser, causando em me um desconforto, do tipo bom. Permaneço alí, anestesiada por suas esmeraldas estonteantes. A sua presença assim, tão perto de me é um tanto assustadora.

Miguel com seus 1,80 de altura, quase trinta centímetros acima de me, inclina o corpo para baixo pretendendo alcançar a minha boca.

De olhos arregalados assisto cada movimento que ele faz. Primeiramente ele encosta seus lábios úmidos nos meus, entretanto não aprofunda para um beijo. Crava delicadamente o meu lábio inferior nos seus dentes, fazendo-me soltar um gemido baixinho, o safado sorri por satisfeito.

Lentamente se afasta, arruma a gravata e passa por me dando uma piscadela.

Chocada com a sua audácia não movimento um músculo sequer do lugar. Solto uma respiração pesada que nem sabia que estava prendendo. Ando calmamente no salto agulhas até a porta do banheiro feminino.

Não estou com vontade de fazer necessidades básicas, apenas preciso e devo melhorar essa minha cara de tacho.

Ligo a torneira da pia gigantesca de mármore preto, molhando um pouco a mão com água, retiro o excesso no papel toalha e passo nos fios desalinhados do coque. Retiro a bolsinha bege de alça do braço colocando-a na bancada da pia, a abro e pego o batom e o gloss labial incolor.

Terminando de passar o gloss no imenso espelho, vejo uma loira peituda de olhos azuis saindo do penúltimo divisório de banheiro, abaixando o vestido vermelho quente muito acima do joelho. Percebia-se que ela é uma mulher vulgar, pois além do curtíssimo vestido, o decote mostrava quase todo seus seios.

Ela fica se olha no espelho tentando domar a cabeleira bagunçada e diz alto e claro:

- Droga. Aquele safado vai me pagar mais tarde. - e sorri pro próprio reflexo.

Quando finalmente me nota no ambiente ela pergunta.

- Queridinha - olha a intimidade tá querida?, penso em dizer, mas fico calada. - Por acaso você não tem lenços demaquilantes ou umedecidos?

A loira passa a língua nos lábios borrado de batom, como quem saboreia um bom vinho e foi quando percebi uma coisa branca fixa no canto da sua boca.

- Alô? Então, tem ou não? - deixo de olhá-la e procuro o lenço umedecido na bolsa. Ao pegar a entrego.

Ela usa o lenço para limpar a boca, retirando o batom e a coisa branca. Prende os cabelos num rabo-de-cavalo, lava as mãos e sai rebolando. Depois de alguns minutos saio também.

Cheguei a mesa que já estava servida, e Gabriel a minha espera.

- Você demorou, pensei que algo havia acontecido e já estava indo atrás de você. - pergunta parecendo preocupado.

- Desculpa a demora, coisas de mulher. - não revelei a parte que entra o Miguel.

Enquanto não estávamos comendo, conversávamos amenidades. Gabriel disse-me que trabalha como fotógrafo, e que veio de uma longa família espanhola, e entre outras coisas que gosta de fazer.

Quando foi a vez dele ir ao toalete, comecei a observar o restaurante. Meu queixo caiu em ver o Miguel sentado a mesa perto dos músicos com a loira peituda do banheiro. Um ciúmes inexplicável percorre toda a minha corrente sanguínea.

Um pensamento relâmpago se forma na minha mente. Não pode ser, não! Eu mato ele se for verdade.  Aquela coisa branca na boca da loira só pode ser gozo dele. Ela fez um boquete nele no banheiro, minutos antes de me encontrar com Miguel no corredor. Desgracado! Será que ele roçou seus lábios nos meus, depois de beijá-la com a boca repleta de gozo? Com certeza. Como fui burra em permitir isso, tava na cara que ele fez o que fez para se vingar de me.

Ao concluir os fatos, notei um sorriso vitorioso da parte dele. Não deixei por menos, e passei um pouco de vinho nos lábios o provocando, o que o fez gargalhar.

Gabriel chega, comemos a sobremesa, ele paga a conta - embora não tenha entendido a reação do garçom em relutar em receber o cheque dele, e vamos para o estacionamento de mãos dadas.

Gabriel me acompanha até a porta da pensão, beija minha bochecha e vai embora na Mercedes prateada cruzando a rua. A pedido de dona Tereza que gritou da cozinha pedindo-me para pegar seu gato fujão, Xande, que estava entre os jarros de flores da calçada.

Sem muito esforço o pego colocando-o nos braços, abro a porta e quando estou prestes a fechá-la, uma Ferrari vermelha passa na rua com o vidro do passageiro abaixado, e eu juro que o vi no volante.

Por hoje só.

Beijos... : *

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