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Tentei abrir a maçaneta, mas a porta estava trancada. Recuei um pouco e me joguei contra a porta, abrindo-a. A casa foi iluminada pela luz do dia e um pouco de pó subiu. Tossi como uma fumante. Era bonita. Tinha uma sala com um sofá gigante e uma estante de livros separando – a da cozinha. Andei até a estante. Tinha vários livros e quadrinhos de super heróis. Peguei vários quadrinhos do Batman e Super Homem, mas um volume me chamou atenção.

Retirei da estante e olhei a capa. Tinha uma garota ruiva com um vestido verde água tomara que caia. Parecia interessante. Coloquei tudo na minha mochila e andei até a cozinha. Era uma cozinha grande, com um balcão no meio. Vasculhei os armários e achei vários enlatados de pêssegos em calda, meus favoritos. Olhei em outro armário e tirei a sorte grande : tinha várias latinhas de refrigerante dentro. Peguei três e coloquei na minha mochila e beberiquei um pouco, ignorando que estava quente e provavelmente fora da validade, assim como a maioria das coisas neste mundo.

Fui para o andar de cima e entrei no primeiro quarto. Parecia ser um estúdio de gravação. Tinham vários microfones e gravadores. Tinha até uma vitrola no canto da sala, em cima de uma pequena mesinha. O que me chamou atenção foi um pequeno aparelho com fones de ouvido que estava em uma das gavetas : um Ipod. Coloquei um dos fones no meu ouvido e dei play na Música 1. Era Hooked a Feeling do Blue Swede. Fazia tempo que não ouvia uma voz humana, ainda mais uma música.

I can't stop this feeling
Deep inside on me 

Girl you just don't realize
What you do to me

When you hold me
In your arms so tight

You let me knows/Everything's alright

I-I-I-I'm hooked on a feeling

I'm high on believin
That you're in love with me

Ouvi a música enquanto mexia no quarto. Andei até a mesinha de cabeceira de duas gavetas e abri a primeira. Quando fechei a primeira gaveta, ouvi um clique atrás de mim. Era alguém destravando uma arma, que estava apontada para minha cabeça. Ótima maneira de começar o dia.

- Vire ou eu estoro seus miolos - falou uma voz impubescente.

Me virei lentamente e encarei o dono da voz. Era um garoto mais ou menos do meu tamanho com cabelos pretos até o queixo. Usava um chapéu de xerife
marrom. Ele era bonito, tinha que admitir. Olhos azuis da cor
do céu estavam frios, com um brilho apagado, que provavelmente fora perdido
com o tempo. Maxilar cerrado, braços finos e uma postura tensa. A sua arma ainda estava apontada para mim, como se eu fosse a qualquer momento virar um caminhante e mordê – lo.

- Ok, cowboy. Aqui está. – disse tirando minha faca do cinto e jogando pelo piso,
a fazendo deslizar. O garoto pegou a faca, sem tirar os olhos de mim.

- Pai, uma garota. No primeiro quarto. – ele disse e alguns segundos depois um
homem de olhos azuis como o filho apareceu.

- O que aconteceu ? – disse o pai assustado. Ele percebeu que estava na sala e arqueou as sombrancelhas. – Abaixe essa arma, Carl. – ele se virou para mim. – Olá, eu sou o Rick e ele é o Carl.

- Emily Grace. – disse estendendo a mão. O garoto se assustou com o esse movimento e levou a mão ao coldre. – Por favor, dê um calmante para seu filho, ele está precisando urgentemente.

O pai sorriu da reação do filho e se voltou para mim.

- Quantos zumbis já matou ?

- Não parei para contar. Não achei que importaria para algo.

- Quantas pessoas já matou ?

Engoli em seco.

- Uma.

The ApocalypseOnde histórias criam vida. Descubra agora