Crazy

279 15 2
                                    

Espero que gostem do capitulo e comentem o que acharam e se devo continuar postando. O nome do capitulo é uma das minhas musicas favoritas do Aerosmith. S2

4

Mais tarde naquela mesma noite, acordei tremendo. Gritei para que meu pai corresse antes que eles o pegassem e ele continuou parado sem fazer nada, aceitando a morte. Por que ele não lutou ? Por que ele estava tão calmo, sabendo que aquele zumbi vinha em sua direção, suplicando pela sua vida ? Demorou minutos para que eu percebesse que ele não estava mais comigo, nem na cela escura, nem no mundo que ainda vivo. 

Levantei da cama com dificuldade. Vesti uma regata cinza, shorts jeans escuros e minhas botas. Peguei meu Ipod e saí da cela. Todos ainda estavam dormindo, em um silêncio quase sereno ouvindo somente o leve gemido de zumbis ao fundo. Passei pela cela de Carl e ele dormia com uma revista de quadrinhos em seu rosto. Ele deve ter lido até tarde. Soltei uma risada baixinha e desci as escadas. Passei pelas celas do primeiro andar e abri a porta que separava o bloco do resto da prisão. Passei pela segunda porta e resolvi ir até o refeitório, talvez roubar algum doce enlatado, mas algo me distraiu.

Uma bola de basquete nova estava descansando no canto da quadra, iluminada pela noite do dia que não havia amanhecido ainda. Glenn deve ter trazido – a da última ronda, visto que todas que eu usava para ensinar as crianças da prisão estavam desgastadas e meio murchas. Ele havia voltado nessa mesma noite e o refeitório havia se enchido de risadas do casal durante o jantar. Eu achava incrível como eles haviam conseguido ter uma relação mesmo do jeito que o mundo estava. Um dia gostaria que tivesse um romance assim com alguém. Não, na verdade não gostaria, porque se eu tivesse um romance com alguém, isso levaria ao próprio/própria provavelmente querendo um filho, como se fosse o próximo passo, o destino. E eu nunca teria uma criança nesse, literalmente, fim de mundo.

Peguei a bola, me ajeitei na linha de lance livre e joguei, que bateu na tabela e voltou para o canto da quadra. Estava enferrujada, já fazia quase dois anos que não jogava basquete pra valer. 'Preciso pegar pesado' falei para mim mesma. 

Cinco minutos depois, estava com a minha regata toda suada. O meu cabelo grudava na minha testa e minha boca clamava por água. Mas eu sentia que não podia parar. Joguei a bola mais algumas vezes até ouvir passos na minha direção. Automaticamente segurei o cabo da faca na minha cintura e me virei, vendo Carl vir em minha direção, com um sorrisinho.

- Então você é uma atleta nata. – perguntou arqueando uma sombrancelha. Revirei os olhos enquanto segurava o sorriso, esperando que ele não o visse.

- Engraçadinho. – peguei a bola e joguei na cesta acertando – a. Joguei mais uma vez até perceber que Carl estava me fitando. Fiquei um pouco sem graça e estendi a bola de basquete para ele – Quer jogar ?

- Ah, eu sou horrível.

- Ninguém é horrível.

- Eu sou.

- Como você sabe e nem tenta ? – disse com um sorriso. Ele bufou e pegou a bola. Caminhamos até o garrafão e jogamos a bola na cesta algumas vezes.

- Então desde quando você joga basquete ? – ele perguntou quando acertei uma bola sem bater no aro.

- Uma pergunta para cada cesta, meu amigo. – falei jogando a bola em sua direção. Antes de jogar desta vez, ele mirou e acertou a cesta.

- Eu ganhei. – falou ele, orgulhoso.

- Mais ou menos. – disse. – Eu jogo desde os quatro anos. Aprendi com meu pai. – acertei outra cesta. – E seu chapéu ?

- Ah. – disse ele, tirando – o e o examinando. – Depois disso tudo, eu e nosso grupo estavamos tentando ir para Fort Benning, mas uma horda deles passou pelo caminho. Nós nos escondemos debaixo dos carros e depois uma garota, Sophia, desapareceu. – ele deu uma pausa. – Quando estavamos procurando – a, achamos um cervo. Eu levei um tiro que atravessou o cervo. Meu pai me deu o chapéu depois disso. – ele disse levantando a camisa até debaixo do coração, onde tinha uma cicatriz. Fitei - o durante alguns segundos, até ele abaixar a barra e eu morrer de vergonha.

- Eu sinto muito. – falei com a voz fraca. – Bom, agora quer jogar de verdade ?

- É claro.

Nós jogamos um pouco de basquete de rua e eu acertei quase todas as cestas. Parecia que meus pés flutuavam pela quadra e nenhum dos dois se importaram em acordar a prisão, a quadra ficava um pouco longe dos prédios.

- Descanse um pouco, xerife. Sua cara está pegando fogo ! – falei, fazendo – o ficar ainda mais vermelho. Ele andou até o canto da quadra e sentei a seu lado. Nós dois estavamos ofegantes e com as roupas suadas, mesmo que a noite estivesse fria e saísse vapor de nossas bocas enquanto respirávamos em intervalos curtos.

- Posso fazer mais uma pergunta ? – ele falou, virando – se para mim. Fiz o mesmo e encarei seus olhos. – Você já gostou de alguém, não do tipo família, gostou mesmo ?

- Eu não. Mas se tivesse amado, acho que não saberia. – falei. – Gostaria de amar alguém um dia.

- Eu não sei se o que senti foi amor.

- Por quem ? – perguntei curiosa.

- A garota perdida. Eu meio que gostava dela. – disse.

- E da Betty ? Você gost... Já gostou dela ?

- Já, mas percebi que não tinha nenhuma chance então desencanei rápido. 

Nós ficamos em silêncio de novo, observando o vapor que um exalava contra o ar frio, até ouvirmos um barulho saindo da cerca, onde os zumbis se amontoavam.Saímos da quadra e começamos a limpar a cerca, esperando que isso diminuisse o barulho e não acordasse ninguém. Sujos e suados, concordamos em voltar para o prédio depois em um voto silencioso.

Porém comecei a sentir dores na barriga. Achei que ia desmaiar mas senti duas mãos segurarem minha cintura. Uma das mãos de Carl segurou uma parte da pele de minha cintura e senti um raio de eletricidade (e vergonha) invadir meu corpo. Sabia que desta vez, o meu rosto que estava todo vermelho.

- Você está bem ? – perguntou, com o rosto carregado de preocupação.

- Sim. – disse baixinho, me soltando de Carl discretamente e andando até a minha cela. 

O que aconteceu ali ? Eu devo estar louca.

The ApocalypseOnde histórias criam vida. Descubra agora