Tragedy is not the end

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Não consegui achar comida, água ou pessoas. A única coisa que carregava comigo era a pedra que tinha usado para matar o homem, que se encontrava no meu bolso.

Dormia dentro de carros abandonados na estrada, visto que não achava nenhuma casa. Minha cabeça doía o tempo todo e de vez em quando posicionava dois dedos da mão direita na parte traseira, só para verificar que o sangue ainda estava úmido, mas em menor quantidade do que horas atrás. Tentava não dormir muito tempo durante a noite, pois sentia que minha cabeça ficava cada vez mais pesada e não conseguia pensar direito. Dava ordens a mim mesma, na esperança de que o foco de continuar não escape da minha mente.

Em uma noite, minha cabeça doía tanto que resolvi tirar um cochilo dentro de um SUV e quando acordei, o sol se punha novamente. Não durmi, somente fiquei esperando com que amanheça, com um caco de vidro da janela quebrada do carro como proteção.

De manhã, consegui achar um pequeno bairro. Vazio e com poucos caminhantes. Andei até a primeira casa que vi e entrei, fechando a porta e passando o trinco. Era simples, com móveis velhos e cheiro de madeira. A primeira coisa que fiz foi rasgar uma almofada. Usei o algodão para diminuir o sangramento na minha cabeça e amarrei um pano de cozinha ao redor da minha cabeça. Depois, fui até a cozinha. Muito pão embolorado e alimentos fora da validade, inclusive a maioria dos enlatados. Escolhi uma lata de ervilhas e separei tudo que estava dentro da validade ou com um mês ou dois fora, e coloquei encima da mesa com pano floral da sala de jantar.

Subi para o andar de cima, de onde ouvia um barulho em uma das portas. Um caminhante preso em um dos cômodos tinha me ouvido e matei - o rapidamente com uma faca de carne da cozinha. Me troquei com algumas roupas que tinha no armário e peguei uma mochila preta, colocando uma muda de roupa, os enlatados, mais algodão, esparadrapos e uma cartela de analgésicos. Fiquei uma noite na casa e depois continuei andando pela avenida vazia, sem pretensões de parar a não ser que fosse necessário.

Agora, de dia andava sem rumo e de noite tentava dormir, sempre sem sucesso. Bob, Michonne, Rick, Maggie, Beth, Carl principalmente. Todos invadiam meus sonhos, ás vezes sendo estrangulados, baleados ou esfaqueados. Todas as vezes morria e eu precisava assistir seus olhos se tornando frios. Mas diferente de tudo, a culpada de suas mortes era eu. Eu que tinha o sangue nas mãos.

Voltei aos antigos hábitos. Matar o menor número de zumbis possível. Sempre guardava o máximo de alimentos que podia carregar na mochila esfarrapada que achei. E o pior : escrevia JSS, em todos os lugares. Acho que esperava que isso fosse um sinal a alguém que estava viva, mesmo que ninguém pudesse relacionar a mim.
Mas ainda andava com a pedra uma das razões por não conseguir esquecer do que aconteceu.

(...)

Havia passado muito tempo e não conseguia mais dormir, sempre via Carl. E também quando estava acordada. Na loja de conveniência, atrás de uma pilha de caixas, com seu chapéu esfarrapado. Entre as folhagens da mata, como se estivesse brincando de esconde esconde no meio dos mortos famintos. Ás vezes via Judith também em seus braços e sorrindo para mim. Quando isso acontecia, gritava como uma louca e fugia correndo o mais rápido possível, me escondendo em um carro e esperando aquela sensação idiota passar.

(...)

Agora, não aguentaria mais. Minha comida acabara há dois dias e meus pés não mais aguentavam correr. Caminhantes se amontoavam atrás de mim e nunca conseguiria me defender de todos.

Meus pés e meu braços falharam e mergulhei em direção ao chão, os zumbis começando a se amontoar enquanto os matava com minha faca. Afinal, eu conseguiria matá - los, mas estava exausta demais para continuar andando. Dormi com os mortos em cima de mim, esperando que nenhum felizardo decida comer meu rosto.

The ApocalypseOnde histórias criam vida. Descubra agora