Comentem, quero muito saber o que vcs estão pensando sobre a história !7
Não estava conseguindo dormir. A discussão entre mim e Carl não saia da minha cabeça. Ele tinha agido como um babaca. Quem disse que tudo tinha que ser anotado e notificado ao seu pai ? Pelo meu conhecimento, Rick não era o líder, havia um conselho, não é como se todos fossem subordinados a ele e seu filho mimado com ego inflado. Virei a cabeça no travesseiro e tentei dormir, não obtendo sucesso.
Desisti e acabei decidindo dar uma volta pela prisão, fora do bloco de celas. Antes de ir, fui até onde Rick guardava as armas e peguei uma pistola, só por precaução. Não queria acabar topando com um zumbi ou algo assim e estar de mãos vazias.
Saí do bloco de celas e sentei no gramado, admirando como tudo parecia mais silencioso e calmo durante a noite, mesmo com os mortos. Encarei a cerca. Pensava em como teria sido suas vidas se tivessem sobrevivido a isso. Se esse apocalipse não existisse. Trabalhando em uma loja de conveniência, um escritório, uma escola...
Ouvi passos atrás de mim e sem hesitar, puxei a arma, me levantei da grama e apontei para a figura envolta pela noite atrás de mim. O garoto com o chapéu me olhava com cara de descrença, como se não acreditasse que poderia puxar o gatilho.
- Você vai atirar em mim ?- perguntou ele, arqueando uma sombrancelha.
' Talvez '. Ignorei – o e voltei a encarar a cerca em silêncio. Ele sentou ao meu lado e encarou a cerca também.
- Me desculpe por hoje. Acho que eu exagerei. – falou ele, tentando dar um fim no silêncio.
- Eu tenho certeza. – falei, deixando meus pensamentos ganharem voz. – Me desculpe, também agi errado.
Ficamos em silêncio mais um pouco.
- O que seu pai disse quando você contou sobre Carol ?
- Como sabe que eu contei pra ele ?
- Do jeito que você discutiu comigo, até parece que não contaria.
- Disse que iria conversar com ela. – falou. – Sabe, acho que não fiquei tão irritado por ela não ter contado ao meu pai, mas sim por você não ter concordado comigo. Você é muito cabeça dura.
- Você nem sabe o quanto. – falei, me deitando na grama e admirando as estrelas. Consegui identificar o Órion, mirando seu arco e flecha no céu iluminado.
- Gosta de admirar as estrelas ? – perguntou ele, também deitando – se.
- Adoro. – falei. – Quando era pequena, quando meu pai voltava para casa, sempre me ensinava sobre as estrelas e sobre como me guiar por elas. No meu aniversário de oito anos ele me deu um telescópio.
Mais silêncio.
- Ele me contou uma história. Era sobre Ártemis, a deusa da lua, e Órion. Eles eram apaixonados. Mas o deus do sol e irmão gêmeo de Ártemis, Apolo, tinha ciúmes de seu amor. Um dia, Apolo transformou Órion em um cervo e desafiou Ártemis a acertá – lo de longe. Ela tinha matado – o, sem saber que era o seu amor.
- É uma história triste.
- Sim. Mas gostaria de viver um amor tão intenso.
- Um dia você vai viver.
- As opções no apocalipse não são muitas. – falei. – Mas de qualquer jeito, gostaria de viver amar, saber como é.
Mais uma vez em silêncio, olhei para Carl. Ele se virou para mim, com seu rosto banhado de luz da lua. Seus olhos azuis intensos tinham um brilho que nunca tinha visto na vida, nos olhos de nenhuma pessoa. Ele se aproximou de mim de novo e colocou a mão em meu rosto. Senti seu toque quente e não percebi o que estava fazendo até acontecer. Carl tinha me beijado. Seus lábios eram macios e viciantes. Parecia que dentro de mim, uma chama ia se acendendo, iluminando e aquecendo todo o meu corpo, de dentro pra fora.
Separamos nossos lábios, pela falta de ar e pude sentir sua respiração ofegante.
- Boa noite, Carl. – sussurei e voltei para o bloco de celas, me sentindo mais confusa do que nunca.
(...)
Acordei cedo e parecia que o dia estava sorrindo pra mim. Fui direto para o bloco da administração, para cuidar das crianças. Cheguei lá e dei de cara com Mika.
- Oi. – disse ela sorrindo. – Minha irmã está bem ?
- Não pude vê – la hoje. Mas tenho certeza de que ela está. Mas, o que você quer fazer ? Posso ler um livro pra você, se quiser.
- Seria legal. – falou ela, animada.
Passei a manhã cuidando das crianças e lendo o livro 'A Invenção de Hugo Cabret' para entretê - las. Na hora do almoço, todas foram almoçar e eu voltei para minha cela para pegar meu Ipod.
Entrei na cela e Carl estava lá, vendo as músicas no Ipod. Percebi que o fone não estava conectado e ele achava que estava. O esperto não descobriu isso até ouvir a introdução de 21 Guns do Green Day tocar a todo volume. Ele tentou desligá – lo e, depois de algumas tentativas, conseguiu.
Tentei segurar a risada, mas ele conseguiu me ouvir.
- Está se divertindo ? – perguntou ele, com uma falsa irritação.
- Muito. – falei rindo. Adentrei na cela. – O que está fazendo ?
- Ouvindo música.
- Eu quis dizer na minha cela.
- Uh... Eu precisava te ver. – falou ele, olhando para o chão.
- Pode falar.
- Não vou falar. – disse ele, se aproximando de mim.
- Então o que é ?
- Isso.
Ele mostrou uma sacola branca com algo dentro. Abri – a e tinha uma câmera fotográfica antiga, daquelas com impressão instantânea. Minha boca formou um completo 'O' e um grande sorriso estampou minha cara.
- Como você descobriu que eu gosto de fotografia ?
- Suas fotos. - ele disse. - Há um tempo estava procurando um de meus gibis na sua cela e vi que tinha umas fotos lá, muito bonitas por sinal e quando Michonne e eu saímos em uma busca, achei e pensei que...
Ele foi cortado pois o abraço que planejei dar o derrubou. Ele caiu no chão e eu cai em cima dele, a centímetros de seu rosto.
- Desculpa, eu não queria fazer isso. – falei, gaguejando. Limpei minhas roupas, que estavam sujas de pó, com minhas mãos. Sabia que meu rosto estava corado e olhava para o chão, tentando achar maneiras disfarçadas de abrir um buraco para me esconder. – Olha sobre outro dia, nós podemos esquecer, se você quiser.
- Emily, eu não quero esquecer.
Ele colocou a mão em meu queixo e seus lábios vieram de encontro aos meus, rapidamente e de modo desesperador. Talvez esse garoto seja minha morfina para o apocalipse. Parecia que não existia mais nada, somente nós dois. Só o que ouvia era uma vozinha no fundo da minha cabeça. " Você está louca ? Você não pode fazer isso ! Vocês estão no fim do mundo ! No momento em que você começa a se importar já era ! Você está morta, Emily ! Morta ! "
Até que ouvimos tiros.
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The Apocalypse
AksiyonAs citações sempre fizeram parte de sua vida e, quando a praga foi espalhada, ela recebeu um novo mantra : simplesmente sobreviva de alguma forma. Com o romper de uma nova realidade, ela confiava nessa frase como um amigo e ela cobria - a como um c...