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POV Carl
Já havia anoitecido e todos estavam dentro da igreja, comendo e rindo. Tinham conseguido muita comida e parecia uma ceia, com um monte de gente falando e o barulho dos pratos batendo nos talheres enquanto todos comiam, produzindo uma sinfonia relaxante que não ouvia há muito tempo. Observei meu pai brincando com Judith, enquanto ela dava comida em sua boca.
Emily estava se servindo de feijão na mesa e fui ao seu lado me servir também. Eu não queria ficar perto dela depois de tudo o que aconteceu, mas parecia que não conseguia me afastar da garota que conversava com Tara e ria de algo que disse. Seu sorriso era tão radiante que acabei sorrindo, sem nem mesmo saber o por que.
- E aí ? - perguntei a ela, batendo minha cintura com a dela, causando um choque de eletricidade quando uma nos encostamos.
- Está tudo ótimo. - ela falou, ignorando a expressão de estranheza por eu estar puxando assunto com ela em muito tempos e olhando para as pessoas da sala rindo e admirando a felicidade de todos. - Perfeito.
- Também acho. - falei. Olhamos um para o outro e acho que ficamos um bom tempo assim, pois só depois de um tempo ouvi Abraham levantando sua taça e chamando a atenção de todos. Acordei do transe que eram seus olhos escuros e sentamos em um dos bancos de madeira.
- Eu quero propor um brinde. - falou ele. - Olho para esta sala e vejo sobreviventes. Cada um de vocês merece esse título. Aos sobreviventes !
Abraham levantou sua taça e os que tinham taças de vinho levantaram as suas e bradaram 'Saúde!'. Emily levantou seu prato de comida e riu, como se estivesse zombando do fato de sermos os únicos sóbrios do jantar, tirando Judith, é claro. Fiz o mesmo.
- É só isso que querem ser ? - continuou Abraham. - Acordar de manhã, lutar contra os mortos vivos, buscar comida, dormir de noite com os dois olhos abertos, limpar e fazer de novo ? Vocês podem fazer isso. Vocês tem força, vocês tem habilidades. O fato é que pra vocês pessoal, pelo que podem fazer, isso é se render. Nós podemos levar o Eugene pra Washington, vamos poder matar os mortos e devolver o mundo pros vivos. Isso não é tão ruim considerando que é uma viagem curta.
Ele deu uma pausa e apontou para Eugene.
- Eugene, fale o que tem lá
- Infraestrutura construída pra suportar pandemias até dessa magnitude. Significa comida, combustível, refúgio. Um recomeço.
Minha cabeça voou longe pensando em recomeçar a vida. Ir para a escola de novo. Ter uma rotina diferente de matar os que já deveriam estar mortos e evitar que isso aconteça comigo. Será que conseguiria estudar na mesma classe que Emily ? Parecia uma coisa estranha de se acontecer, mas ao mesmo tempo, possível com essa confiança que Abraham e Eugene exalavam.
- Aconteça o que aconteçer, leve o tempo que levar pra construir tudo, vocês estarão á salvo lá. Mais seguros do que estiveram desde que tudo começou. - falou Abraham, olhando diretamente para meu pai.
Ele pareceu pensar um pouco.
- Venham com a gente. Salvem o mundo pra essa garotinha. Salvem pra si mesmos. Salvem pras pessoas lá fora que não tem mais nada pra fazer a não ser sobreviver.
Meu pai sorriu e olhou para Judith, que soltou um barulho engraçado, como se tentasse dizer algo.
- Que foi ? - perguntou. Algumas pessoas riram na sala, principalmente Emily, que admirava Judith como se fosse uma das coisas mais preciosas. E hoje em dia, ela era. Meu pai continuou. - Eu acho que ela sabe o que eu vou dizer. Ela topa. E se ela topa, eu topo. Topamos.
Todos riram e aplaudiram. Então parecia que tínhamos uma nova vida. Só precisava decidir se isso era bom ou ruim.

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The Apocalypse
AksiyonAs citações sempre fizeram parte de sua vida e, quando a praga foi espalhada, ela recebeu um novo mantra : simplesmente sobreviva de alguma forma. Com o romper de uma nova realidade, ela confiava nessa frase como um amigo e ela cobria - a como um c...