Survivor

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Seguíamos o caminho dos trilhos sem nenhuma razão aparente, só procurando algum lugar ou esperando que os outros tivessem a mesma ideia que a gente. Ainda estava preocupada com os caras da casa que estávamos. Meu estômago estava embrulhado com a visão do homem sendo estrangulado na minha cara, os olhos quase saltando da cara e pedindo clemência. Eu sei que é ridículo pensar sobre as diversas maneiras pelas quais poderia ter salvado o cara, mas parecia que a morte dele tinha sido minha responsabilidade de algum modo. Continuava pousando minha mão ao lado do corpo, mesmo sabendo que não haveria nenhuma arma lá por um tempo.

Olhei discretamente sobre o ombro, em direção a Rick. Escorriam gotas de suor de sua testa, devido a longa caminhada de horas no sol. Não conseguia ver um resquício de lembrança do que aconteceu na casa, enquanto eu continuava com os joelhos fracos com a lembrança. Como ele conseguia continuar andando depois de tudo ? Como eu conseguia continuar andando ? Talvez não fossemos tão diferentes.

Estávamos andando em silêncio, até que avistamos um carga de trem parada com algo escrito. Uma grande placa de trânsito suja tinha nela fixa um mapa de Atlanta, com uma estrela no lugar em que apontava como Terminus.

Michonne e Rick trocaram olhares de desconfiança entre eles, cogitando se iriam continuar seguindo os trilhos ou não.

- O que você acha ? - perguntou Michonne a Rick.

- Vamos lá. - falou ele, tão baixo que poderia ter passado despercebido. - Vamos lá.

(...)

Minhas pernas doíam de tanto andar e minha garganta parecia lixa. Mesmo bebendo um pouco de água, parecia que nunca ia me refrescar. Minha camiseta maravilhosa do Freddie Mercury estava molhada de suor, fato que tinha passado a ignorar há algumas horas. Se um gambá passasse por mim, iria sair correndo e ganindo.

Michonne e Carl andavam atrás e eu e Rick na frente. Estava tão entediante que levei a mão ao bolso para pegar o meu Ipod e acabei lembrando que ele ficou na casa. Bufei, me perguntando por que caralhas deixei ele na casa. Que ironia, tinha deixado o meu Ipod na casa, um dos únicos bens materiais que me apegava a tempos, e tinha trazido a câmera que um garoto que conheci há dois meses, se é que o conheço, e tentando o esquecer. Se é que ele quer me conhecer, depois do que eu fiz para o seu coraçãozinho.

- Você está bem ? - perguntou Rick.

- Sim, eu só esqueci meu Ipod lá na casa.

- Você gosta de música ?

- Sim.

- Rock ? - chutou Rick.

- Na mosca

- Que bandas ?

- Rick, você já deu uma olhada na minha camiseta ? Eu estou suja mas não tanto assim. - falei, grossa sem querer. Não estava no melhor do meu humor, mas Rick ignorou o comentário maldoso.

- Quando era um pouco mais velho que você também gostava bastante de rock. Nirvana, Pearl Jam... - falou ele, dando uma pausa, que considerei como ele tivesse lembrando de sua juvetude. - Quem te ensinou a gostar dessas bandas ?

- Meus pais. Eles adoravam Beatles, então eu ouvia muito quando era criança. Minha mãe era professora de música. Aos oito anos, tinha decorado boa parte das músicas dos Beatles, então começei a procurar outras bandas. - falei, lembrando - me dos meus pais.

- Se não quiser conversar, está ok. - falou ele, num tom de compreensão. Ele mudou de assunto. - Mas, obrigada por ter me ajudado lá na casa. Já vi muitos adultos não terem fôlego para matar alguém do jeito que você fez.

The ApocalypseOnde histórias criam vida. Descubra agora