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- Essa garota já te venceu umas
três vezes, Ron. É melhor desistir. - falou Mickey, uns segundos depois de eu ter acertado mais uma bola na caçapa. Estávamos na casa do Mickey, logo depois de termos andado um pouco de skate. Seu pai, que agora estava trabalhando em uma construção perto de Alexandria, tinha uma enorme mesa de sinuca no porão de sua casa, junto com uma gama de outros jogos e um armário de vidro transparente repleto de bebidas.Sorri tímida para Ron, enquanto mirava outra bola na caçapa, um pouco curvada para poder acertar. Ele tentou fazer o mesmo, mas errou miseravelmente, quase deixando a bola branca entrar.
Ron andou até meu lado e se curvou também, olhando para mim fixamente. Arqueei uma sombrancelha.- Ele disse para eu não te deixar ganhar. - falou ele, sorrindo levemente e mostrando seus dentes brancos. Sorri sem graça e errei ao tentar acertar outra bola.
- Eu vou vomitar o meu almoço e deixar os pombinhos a sós. - falou Mickey, indo em direção ao banheiro.
Ron ficou vermelho novamente e continuamos jogando em silêncio. Eu estava com a mente longe. Pensando nos muros, nos caminhantes que se encontravam atrás dele e, distante demais eu imagino, um grupo de pessoas que ainda procurava por mim. Será que eles deixaram a igreja depois de tudo ? Foram para Washington como Abraham queria ?
Uma chave girou na minha cabeça. Estou em Washington nesse momento ! Se minha sorte fosse suficiente, eles viriam meus rastros e seguiriam até aqui ! Mas como eles poderiam me diferenciar de algum caminhante qualquer ? E se eles tivessem decidido ir para outro lugar, meu plano estaria arruinado. Meu sorriso de esperança murchou tão rápido quanto nasceu.
- Então, qual a sua história ? - perguntou Ron, se apoiando em seu taco, me acordando de meu transe.
Franzi a testa, confusa.
- Sua história. O que você passou, o que você gosta... - falou ele.
Dei de ombros.
- Todo mundo tem algo para contar. Essa cicatriz não fala o contrário. - falou Ron, tocando levemente o meu ombro direito, exibindo a cicatriz que ganhei ao cair em um caco de vidro na prisão. Ele se sentou no sofá de Mickey, indicando onde me sentar. Ao seu lado, estava preocupada com que rumo aquela conversa estava tomando. Eu teria que contar sobre as pessoas que eu tinha matado e visto ser mortas ? Teria que falar que quase morri por uma granada, fui abusada e mordida por não um, mas vários caminhantes ? Ele ao menos já tinha visto um caminhante ? Tudo se embaralhava em minha mente junto com o pensamento de que as pessoas que tinha deixado estarem perto. Joguei essa esperança para o fundo de minha mente rapidamente e prestei atenção em Ron.
Ron percebeu minha tristeza.
- Ei, se não quiser falar, ok. - falou ele. Ficamos um tempo quietos e ele levemente tocou minha mão, que logo se transformou em um aperto de mãos no silêncio. A minha, fria, e a dele, quente. Fervendo, para ser mais específica. O porão era um lugar frio e não conseguia imaginar o motivo de seu corpo estar quente daquele jeito.Ron silenciosamente começou a aproximar - se de mim. A ponta de seu nariz estava quase roçando no meu, causando uma sensação estranha. Era diferente da de quando via Carl, não era tão intensa mas ainda estava lá, fazendo meus órgãos estremecerem. Conseguia ver as leves sardas em seu nariz e os pontinhos verde - claros em seus olhos cor de pinheiro. Conseguia me sentir ficando quase vesga pela distância que nossos rostos se encontravam. Sua respiração estava ofegante e se chocava com a minha.
Me afastei dele subitamente, levantando do sofá e me virando de costas. Respirei fundo.
- Ahn, eu preciso ir. Deanna já deve estar me procurando. - falei, abrindo a porta da casa de Mickey e sai correndo.
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The Apocalypse
AksiAs citações sempre fizeram parte de sua vida e, quando a praga foi espalhada, ela recebeu um novo mantra : simplesmente sobreviva de alguma forma. Com o romper de uma nova realidade, ela confiava nessa frase como um amigo e ela cobria - a como um c...