Capítulo 1

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“Colégio Santa Tereza”, era o que dizia o imponente letreiro dourado a frente de Mike. Coisa que para ele significava seu destino, um destino bem agradável, diga-se de passagem. O colégio era uma grande construção clássica com monumentais colunas que impressionava pela simplicidade das suas formas. Ao longo do gramado, estavam reunidas em filas muitíssimas meninas de uniforme azul marinho, diante delas três freiras que sorridentes esperavam a chegada de Mike.

Uma saudação de boas vindas não caria mal, mas o fato de está rodeado de mulheres por todos os lados o deixava um pouco apreensivo, tinha mulheres de todas as formas e faixas etárias, desde anciãs redondas vestidas de hábito à mulheres uniformizadas dos cinco aos dezoito anos. Todas pareciam tão angelicais perfeitamente enfileiradas e sorridentes o saudando. Mas Mike bem sabia que por trás desses sorrisos estavam monstros, ou aprendizes de monstro. E eram tantas ali que ele não conseguia se sentir à vontade. Deveria estar todo o colégio ali reunido no grande gramado esperando pela sua chegada.

 Resolveu mudar o rumo de seu olhar, a fim de tentar esquecer o que significava todas aquelas mulheres para ele. Quando avistou e em uma das janelas do segundo andar daquele grande prédio que olhava uma menina uniformizada e angelical como todas as outras, mas não sorridente. Forçou a vista para enxergar melhor, porém tudo o que conseguiu ver foi uma cascata de cabelos dourados que se distanciava da janela.

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Colégio Santa Tereza” dizia o imponente letreiro dourado, mas não era isso que Laura L. estava observando. E sim ao pôr-do-sol que estava logo atrás dele, que mesmo com o com as letras metálicas atrapalhando sua visão, continuava podendo ver os nuances de rosas e púrpura  que se transformavam gradativamente.

Entretanto, no auge de sua contemplação, foi interrompida por palmas e risinhos vindos do gramado. Parecia que o colégio tem um novo visitante. No qual Laura não estava nem um pouco interessada em conhecer. Visitantes daquela escola iam embora com a mesma facilidade que chegaram. E ela não, nunca ia. Então, se desencostou da janela e deu meia volta para ir ao único lugar que sempre permaneceu ali com ela: seu jardim.

Após a cerimônia de boas vindas a Madre Superiora mostrou a Mike todas as instalações do colégio. E por dentro, a construção se mostrava ainda mais requintada. Tons pastéis nas paredes e tetos com móveis delicados e lustrosos, o piso era tão limpo que quase podia ver seu reflexo nele.

Enquanto a Madre explicava a história de cada cômodo, Mike pensava que não iria lhe cair mal uma temporada na serra e fazendo o que mais gostava. O lugar era mais que agradável e todas as mulheres dali eram freiras ou crianças, dessa vez as coisas não poderiam dar errado. Mike só saiu de seus pensamentos quando a Madre Superiora deixou de falar sobre datas e fatos passados e disse algo que realmente o interessava.

- Pronto para conhecer o jardim o qual o senhor irá reformar? – perguntou a Madre com um sorriso entusiasmado no rosto, e após Mike assentir se dirigiam a ala sul da construção.

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No seu jardim Laura se sentia sempre um pouco melhor do que realmente estava. Ali seus pensamentos ficam mais claros e se sentia menos sozinha. Desde que entrou naquela escola gostou de passar algum tempo ali e esse sentimento cresceu através dos anos. Principalmente nos três últimos anos em que passava as tardes livres com o Seu Jaime, o jardineiro. Juntos iam cuidando e transformando aquele jardim em algo muito especial. Ele lhe ensinou tudo que ela sabia sobre jardinagem até hoje. E não era pouca coisa!

Mas no início desse ano, Seu Jaime se aposentou e a abandonou, como todos os outros amigos que ela tinha feito ao longo da vida. E agora o jardim estava só aos cuidados dela, o que tornava aquele espaço seu e de ninguém mais.

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Chegando ao tão falado jardim Mike viu que aquilo sim daria trabalho, tinha um espaço incrível e um aproveitamento nem tão incrível assim. Entusiasmado caminhou explorando mais o espaço , quando de repente se deparou com aquela cascata dourada de cabelos novamente, e conseqüentemente, com a dona também. A menina parecia ainda mais angelical, estava sentada na grama e parecia estar tão à vontade que ele também se sentiu à vontade em olhá-la. Sua observação foi interrompida pela Madre Superiora que surgiu ao seu lado para mais uma conversa desinteressante.

- Então senhor Levine, o que achou sobre seu novo desafio?

- Bastante... Instigante, pode-se dizer. – disse ele enquanto olhava ao seu redor, e tentando manter sua visão periférica fixa na menina sem perder a compostura diante da Madre.

 - Devo interpretar isso como uma resposta positiva ao emprego?

- Pode ter certeza.

A Madre sorriu satisfeita, falando sem parar sobre a evolução e declínio daquele jardim. Mike deveria estar escutando atentamente, no entanto, sua atenção estava posta no sumiço repentino da menina de cabelos dourados.

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