Capítulo 7

5.8K 867 28
                                    

E lá estava ela, encolhida no canto esquerdo do sofá, com uma mão sobre a boca tentando abafar um soluço que já havia saído, e os que estavam por vir. Mas já era tarde demais, Michael já tinha ouvido e já estava sentado ao seu lado olhando-a de um jeito ao mesmo tempo interrogante e preocupado. Ele estava tão perto dela que ela podia quase sentir seu olhar, e não restava outra opção a não ser olhar para ele.

- O que houve?

- Nada – não ajudou. Com aquela voz quebrada nem ele nem ninguém nunca conseguiriam acreditar.

- Não acho que você é uma garota que chore à toa.

- Talvez você esteja enganado.

- Talvez sim – falava distraído enquanto pegou a carta que ela estava segurando – ou talvez eu tenha encontrado o motivo das suas lágrimas.

Laura tentou recuperar a carta, mas não estava com ânimos e nem forças para lutar com ele, simplesmente o advertiu

- Roubar coisas dos outros é crime.

- Eu tenho mesmo uma pinta de fora da lei, não?

Ela negou com a cabeça e apesar da tristeza estar nos seus olhos, nos lábios se formou um pequenino sorriso. E após Mike ler a carta, ainda ficou sem entender menos ainda o que acontecia.

- Laura, qual é a razão do desespero? Ela pelo menos te deu noticias como prometeu que faria e aparentemente está tudo bem, não?

Com as mãos tremulas Laura lhe estendeu o envelope e pegou a folha que estava na mão dele para indicar o emblema verde em ambos os papéis. Os emblemas eram de um hospital, um famoso hospital da cidade. Não demorou muito para ele entender o que estava acontecendo, e demorou menos ainda para Laura perder o controle do seu choro, deixando as lágrimas rolarem soltas pelo seu rosto.

Tão logo quando percebeu o quanto ela estava chorando, Michael se viu desesperado. Não gostava de ver mulheres chorando, muito menos se eram menininhas indefesas e menos ainda se os olhos azuis dela estivessem banhados por lágrimas e parecesse uma piscina de tristeza. Não sabia o que dizer. Nada do que dissesse a consolaria nesse momento.

 Sua avó estava hospital e ela e nem ao menos poderia vê-la. Eram dez anos presa naquele colégio e ela já tinha passado por muita coisa por ali. E, ao mesmo tempo, nada.  Se ela estava chorando agora, era porque não aguentava mais. 

Michael tampouco estava se aguentando de vontade de fazer alguma coisa que pelo menos pudesse aliviar a dor da menina. Então, num impulso a envolveu com os braços a puxando para si em um abraço.

Um abraço precipitado pensou Michael após uns segundos, com a face molhada de Laura apoiada em seu ombro. Por certo, ela não negou a repentina aproximação dele. Mas estava em um colégio religioso e muito conservador, qualquer um que passasse por ali mal interpretaria a situação. E isso poderia lhe custar o emprego, ou a expulsão de Laura, entretanto acreditava que isso seria uma coisa que ela aceitaria de bom grado.

Lentamente se separou dela e se ajoelhou em frente ao sofá, onde ela continuou sentada. Não sabia o que dizer para fazer ela se sentir melhor, mas tentou.

- Laura, se ela está lá e te mandou noticias, ela não está tão mal. E esse hospital é muito bem conceituado, com certeza estão cuidando dela muito bem, não se preocupe.

- Pelo menos ela se lembrou de mim...

- Não acredito que alguma vez ela tenha esquecido.

- Eu acredito.

O silêncio só era rompido pelos soluços chorosos de Laura. Ele não tinha como argumentar contra algo que ele não conhecia. Por mais que ele pesquisasse sobre ela, coisas íntimas como a relação que ela tinha com sua família ele nunca iria saber.

- Se... Se você quiser eu posso ligar pra lá e ver se consigo saber como ela está. – uma ideia dada com uma péssima apresentação oral, com grande potencial para dar errado e com mais um montão de autocríticas que surgiriam na cabeça de Mike se ele não tivesse sido surpreendido antes.

Por ela. Dessa vez foi a vez dela o abraçar, passando os braços em volta do pescoço dele, e se inclinando para frente para ficar mais perto. Michael demorou alguns instantes até reagir, não era algo que ele podia esperar dela. Achava ainda que ela não simpatizasse com ele, mas aquele abraço dizia exatamente ao contrário. Ela estava emaranhada nos seus braços, com o rosto colado em seu peito. Era como se confiasse nele, e certamente não tinha motivos pra isso. O pior de tudo era que poderia ouvir como esse pensamento acelerava o coração dele.

Ele já estava passando a mão pelos cabelos da menina quando ela parou de chorar. Parecia mais relaxada, porém, o abraçava ainda mais forte.

Quando tudo parecia mais fácil com ele a envolvendo tão gentilmente, o alarme toca anunciando o início das aulas. Ele se separou dela deixando uma horrível sensação de frio. Mas ainda estavam perto o suficiente para que ela pudesse notar os detalhes do rosto dele, desde os olhos castanhos quase verdes e o nariz reto até a boca. Sutilezas que não era nada típico de Laura reparar, mas de alguma forma aquilo tinha chamado sua atenção. Ele estendeu a mão para limpar as lagrimas que ainda restaram em seu rosto, e o fez com tanto cuidado, que Laura sentiu vontade de chorar novamente.

Mas não choraria, já havia se humilhado na frente dele o bastante para ele se convencer que ela era uma completa idiota. Agora seria ainda mais difícil de convencê-lo de que ela não era apenas uma garotinha.

Tentou esboçar um sorriso enquanto se levantava.

- Tenho que ir, está na hora da minha aula.

- E eu tenho que trabalhar – levantando-se também e dando espaço para ela passar.

Depois de uns poucos passos, Laura parou e se virou.

- Acho que já está virando costume, mas... Obrigada. Novamente. – e dessa vez sim conseguiu mostrar um sorriso verdadeiro mesmo que fosse de vergonha.

Ele também sorriu, mas de satisfação.

- Não há o que agradecer. Se pudesse, te ajudaria mais.

- Ajudaria mesmo?

Ele somente assentiu. Nela se formou um pequeno calorzinho em seu coração, que em questão de segundos se espalhou por todo o corpo, principalmente nas bochechas. Mas simplesmente se virou e seguiu o fluxo de meninas em direção à sala.

AgridoceOnde histórias criam vida. Descubra agora