Laura tratou de se convencer que logo ele apareceria, não podia ir embora assim, podia?
Mas pelo visto, foi sim. Depois de uma semana, suas esperanças começaram a desaparecer. Não pretendia sofrer mais uma vez por alguém que nem ao menos estava se importando com isso. Ou pelo menos não deixaria nada transparecer, já que sofrer era inevitável.
Era só questão de achar uma distração, o que não foi muito difícil. Já que o muito sacana deixou a segunda maior paixão de Laura em suas mãos: o plano do jardim.
Dedicou-se arduamente as tarefas de jardinagem que tanto esmerava e que tão pouco praticava nos últimos tempos. Plantava, regava, podava e arrumava as plantas exatamente como estavam dispostas no plano. Salvo alguns detalhes pessoais. Enquanto os burburinhos sobre o baile de formatura começavam a pipocar entre os corredores do colégio, a vida de Laura resumia novamente ao jardim.
E em uma bela tarde, uma dessas tardes em que Laura cuidava das suas estimadas plantas, sentiu uma voz atrás dela. E estremeceu.
- Assim irei ficar desempregado ,senhorita.
Por um momento, suplicou para que aquela voz masculina fosse de Michael. No momento seguinte se arrependeu. Não. Já não queria ser feita de boba.
Que bom que não era ele, pensou quando se virou para ver quem era o dono da voz. Queria sentir alivio, mas sentiu outra coisa ao invés. Decepção talvez. Disse uma voz muito incômoda, que ela fez questão de ignorar. Não, não tinha tempo pra ficar ouvindo vozes inconvenientes em sua cabeça Tinha que dizer algo para o sorridente moço num ridículo uniforme (quase tão ridículo quanto o da própria Laura) pelo menos para não fazer papel de boba, mais uma vez.
- Não tenho culpa se sou boa no que faço – disse com um ar simpático de despreocupação, que nem de longe era o que sentia. Então era aquele o substituto de Michael? De verdade ele não ia voltar nunca?
- Mike me falou sobre a senhorita. Ou sobre outra senhorita... Mas não, tenho certeza que era a senhorita.
Deus do céu, será possível que só bastava ouvir o nome dele pra ficar tão nervosa? Não queria se sentir assim.
- Hum... – foi o único que Laura falou, não tinha interesse em saber o que ele falou, provavelmente seria algo ruim.
- Ele disse que quando a senhorita estivesse aqui, não era pra eu perturbá-la – pelo visto o moço não precisava de muito incentivo para falar. E pelo visto também, Laura não sabia ocultar a vontade de dizer que ele estava sim atrapalhando. – Ora, não quero contrariar as ordens do meu patrão, mas considere que eu tenho muito trabalho pra fazer em muito pouco tempo.
- Eu já fiz tudo – já não se preocupando em se mostrar simpática.
- Não tudo – disse o moço até agora sem nome, que olhava todo o jardim. – Mike me mandou fazer uns trabalhos de última hora – dizia ele sorridente. – ele está muito empolgado.
- Hum – disse Laura porque simplesmente tinha que fazer aquele homem parar de falar.
Mas isso não o deteve, claro.
- A propósito, me chamo Denis Bellman. Sou amigo de Michael, por isso sei que ele está empolgado. Mas também trabalho para ele, por isso estou aqui enquanto ele curte a vida.
O estomago de Laura se revirou. O seguinte ‘Hum’ que ela falou foi de dor.
- Pois é! – continuou o tal Denis ainda animadíssimo, alheio ao estado calamitoso da menina. – Acredita que agora ele comprou um apartamento novo? A firma está indo bem novamente, mas creio que seja pra tanto, não acha?
- Acho que já vou indo – disse Laura inquieta, precisava sair dali. Antes de fazer algo bobo como perguntar mais sobre Mike, ou pior, chorar.
- Você não é de muitas palavras, não? – perguntou Denis, com uma voz que Laura entendeu que ele era mais um para achá-la estranha.
- Tenho que ir – E foi. Correndo.
Não podia evitar se sentir muito incomodada enquanto ele estava empolgado com seu novo apartamento. Ela parecia estar andando pra trás, ou para baixo, caindo num poço que parecia não ter fim. E não podia negar, sentia um pouco de inveja, ele tinha tudo, liberdade, um emprego legal, um apartamento legal, e, mesmo que ele não quisesse, tinha seu coração.
Mesmo contra a vontade dela, sabia que era dele.
Tentava, tentava mesmo não pensar nele e não sentir saudade de conversar e rir com ele. Mas às vezes era inevitável. E era inevitável pensar que se ao menos alguma vez, ele também pensava nela.
***
Michael não se esquecia de Laura nem por um instante. Tudo que ele fazia, sabia que tinha uma relação direta com a menina e já não o incomodava sentir assim. Muito pelo contrário, isso o completava.
Fazia muitos dias que já não pensava com amargura sobre as mulheres. Toda aquela desconfiança e mau humor se foram, ela o mudou. Ele pensava nisso assim que o advogado o deixou sozinho na mesa de um elegante pub no centro da cidade.
O advogado tinha ido lhe entregar os papéis da guarda de Laura. Agora ela era sua. Pelo menos legalmente.
Depois de tomar consciência total do tamanho de sua alegria, tentou não pensar muito em que Laura podia recusar sua oferta. Foi embora do pub em direção a sua maior crise de consumismo: comprou um apartamento. Enorme.
Claro, fez pensando em Laura, pelo que conhecia do gosto dela, sabia que ela ia gostar, com certeza. Tinha espaço pra um jardim. Meu Deus, ele comprou um apartamento, estava ficando louco. E gostava disso.
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Agridoce
RomantikLaura L. não vê a luz do dia fora dos muros de seu colégio interno faz dez anos. Ela está desesperadamente à espera de um milagre. Já Mike, um planejador de exteriores falido, não precisa de milagres: está com a vida ganha. Ou quase, só basta conclu...