Capítulo 3

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Não precisou de mais do que três segundos para passar a odiar aquele homem. Odiava-o por reprimi-la, por destruir as suas plantas sem piedade e ainda mais por se aproximar de forma tão invasiva do seu espaço pessoal. Da distância que estavam dava para sentir a respiração dele, era um verdadeiro incomodo estar perto de outro ser humano assim. Principalmente porque ele era homem, ela não era todo dia que homens enormes tapavam sua boca com mãos enormes, aquilo a deixava assustada. Ela não gostava de aparentar medo, mas não pode evitar sair correndo na mesma que ele a soltou.

Mike se virou para acompanhar o rápido percurso da menina. Pela maneira que ela esbarrou nas outras meninas que vinham entrando no jardim, deveria estar muito atordoada. Esse pensamento foi deixado de lado quando as duas meninas que entravam se aproximaram dele animadamente o enchendo de perguntas sobre o primeiro dia de trabalho, sobre o que ele estava achando do colégio, sobre como ficaria o jardim, sobre o que a esquisita da Laura estava fazendo ali.

Laura... Então, era esse o nome da menina que ele acabava de assustar. E sem responder a nenhuma das outras perguntas, Michael disse:

- Eu não sei bem o que ela queria, mas ela claramente não me queria aqui.

- Ela nunca quer ninguém em lugar nenhum. Especialmente hoje.

- O que houve de errado hoje?!

Dez minutos depois conversando com as meninas foram o suficiente para despertar o interesse de Michael sobre Laura, e graças às meninas tinha um motivo para falar com ela, só faltava encontrá-la.

**

Como todo ano, Laura tentou ligar para a sua avó entrando escondida na diretoria. E como todo ano, não conseguiu que ninguém atendesse. Mas, diferente de todos os anos, foi pega pela diretora. E castigada a servir o jantar dos professores naquela noite.

Uma pena pequena para a falta que cometeu, porém asquerosa. Outras meninas surpreendidas nessa mesma situação seriam suspensas e enviadas para casa para que os pais ministrassem corretivos severos pelos desvios de conduta das filhas, contudo, como Laura não tinha pais e muito menos casa, era obrigada a carregar bandejas pesadas com comidas insossas para as pessoas que causavam seu terror nas horas matutinas.

Assim que saiu da cozinha em direção ao refeitório se deparou com aquele homem do jardim sentado junto aos seus professores. Por essa ela não esperava. Sabia que ele não era professor, não teve nenhuma aula com ele, além disso, ele não usava uniforme. Mas sua acusação de que ele era um invasor se provou estar errada. Laura assim como grande parte das pessoas que habitavam o mundo do Colégio Santa Tereza não gostava de estar errada.

Por isso, ela adiou ao máximo servir a mesa que estava sentado o homem do jardim, porém, sabendo que o momento seria inevitável, ergueu a cabeça e caminhou até lá com passos firmes.

Com um sorriso divertido no rosto, seu professor de Biologia perguntou:

- Senhorita Linton, o que andou fazendo para estar aqui novamente?

- Senhor Mont , sabe o quanto eu sou incompreendida nesta instituição. – respondeu Laura com um misto de divertimento e vergonha ao notar que o homem-semi-nu-do-jardim também prestava atenção no que ela dizia.

- Oh sim, sei o quanto é mal-interpretada aqui, mas também sei o quanto é travessa, Linton. – falou o professor sorridente a deixando com vontade de rir também, mas toda a diversão desapareceu quando uma voz profunda a interrompeu.

- E até quando a senhorita vai trabalhar aqui?

- Desculpe senhor, mas eu não estou acostumada a falar com estran... – mas foi interrompida pelo professor falando num tom de repreensão.

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