Laura se foi furiosa do jardim. Sua cabeça fervilhava com insultos e gritos para Michael e principalmente para a indiferença dele. Porém, mais quente que sua cabeça, só estava seu braço, que ainda conservava o calor da mão dele. Apesar de estar com muita raiva por seus planos frustrados de ver sua avó, no meio do furor da conversa, ela se lembrou do sonho esquisito que teve.
Era embaraçoso, além de pecaminoso. Mas principalmente era fora do seu foco principal. Sentia necessidade de visitar sua avó, a saudade crescia assombrosamente cada vez mais desde que recebeu a carta, além do mais, poderia ser a sua última visita. E se Michael não estava interessado nela, melhor dizendo, em ajudá-la. Ela faria tudo sozinha, não tinha problema, só tinha que pensar em como faria, porque por enquanto não fazia ideia.
Só que pensar não era com ela, a impaciência se acentuava com a falta de soluções. Ou então criava soluções idiotas como: fugir do colégio. Ou ainda mais inviáveis como: cavar um túnel subterrâneo para escapulir sem ser vista. Parecia que nada do que ela pensasse seria capaz de funcionar.
***
Tarde da noite Michael foi compreender que o “impossível” que Laura falara. E o que ela realmente quis dizer era ilegal. Isto é, além de impossível. Ele não seria capaz de por em risco seu trabalho... Era a única coisa que ele apreciava na vida, fora as conquistas baratas. Contudo, se fizesse tudo bem feito, conforme havia planejado, daria tudo certo.
Talvez ele estivesse ultrapassando, mesmo que só um pouco, a linha tênue entre o altruísmo e a loucura. E tudo por aquela menina interesseira. Mas aquela não era a hora apropriada para ponderações, se era para as coisas correrem bem, ele tinha que ser rápido. Pois no dia seguinte tinha uma grande compra de materiais para fazer, e Laura iria com ele. Só faltava ela saber disso. Era por isso ele estava ali, em pleno o gramado principal atrás do grande pinheiro, igual as meninas fugitivas do colégio.
Era muito interessante o esquema que elas haviam bolado para fugas (que não eram necessariamente para fora do colégio). Os dormitórios fechavam às 9:00 da noite, o que impediam as alunas até de um respiro noturno.
Isso teoricamente, porque na prática o esquema era muito bem planejado. Dentro do pinheiro folhudo havia uma escada camuflada em meio às folhagens. De longe era impossível vê-la. De perto ainda existia alguma dificuldade em localizá-la. Mas assim que Mike a encontrasse... Seria essa escada que o levaria até a janela do dormitório. Se aquele era o dormitório de Laura, ele não sabia. Mas foi nessa exata janela que a viu pela primeira vez. Então, com um pouco de sorte, ela estaria ali.
Tentou fazer tudo com extremo silêncio: pegou a escada a posicionou perto da janela e começou a subir sem emitir quase nenhum ruído. Tendo agora uma vista do dormitório, viu que era um mar de camas, e um mar de meninas adormecidas cobertas com edredons azuis e brancos. Ele sabia que Laura se distinguia de todas essas meninas adormecidas, mas no escuro era realmente impossível diferenciá-las.
Então teve que optar por algo mais brusco. E com três batidinhas no vidro, ele tinha esperança de que alguém fosse atendê-lo. Abusando um pouco mais da sorte, ele esperava que fosse uma de suas aliadas.
Não demorou muito até uma cabeça levantar, era justo a menina que tinha a cama em baixo da janela. E a julgar pelos cabelos dourados refletido a luz da lua, hoje a sorte estava do seu lado, porque era Laura.
Ela se virou olhando para ele um tanto surpreendida, um tanto maravilhada e nem um pouco adormecida. O que era uma pen... Queria sabercomo ela ficava quando acabava de acordar. Não, linha de pensamento errada, tentou reformular enquanto passava o papelzinho que tinha escrito para ela por debaixo da pesada janela.
Era uma pena ela estar acordada porque amanhã teriam muito o que fazer. Pronto, pensamento reformulado e sorriso reavivado no rosto de Laura. Viu um “Boa Noite” se formando nos lábios de Laura, enquanto ela apoiava uma mão no vidro gelado. O dedo de Michael tocou instintivamente o vidro onde a mão dela se encontrava, e lhe dedicou um sorriso e mais nada. Concentrou-se em descer e guardar a escada com a mesma eficiência que havia feito antes.
Enquanto Laura num êxtase de felicidade colocava o despertador reajustado embaixo do travesseiro e lia mais uma vez a nota que Mike havia escrito. Tinha aquele formigamento no coração que não queria parar. Guardou o papel embaixo do travesseiro também e se dedicou a dormir com as palavras ainda flutuando na mente:
Esteja às 5:00 no canto das tulipas, não use uniforme. Seja pontual, antes que eu me arrependa.
Mike.
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Olar! Voltei! Pra não variar, louca de sono de tanto me perder nas palavras. A correria da vez é por conta de um conto que eu e umas amigas escritoras queremos colocar na Amazon pro ano novo. Orando pra que dê certo! Quando der eu coloco o link aqui ;)
O capítulo de hoje foi bem curtinho, mas espero que amanhã eu consiga revisar outro pra postar, não tão tarde da noite como hoje, veremos!
Obrigada pelo comentários???? Satisfeitíssima aqui que recebi comentárioS. No plural! <3
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Agridoce
RomanceLaura L. não vê a luz do dia fora dos muros de seu colégio interno faz dez anos. Ela está desesperadamente à espera de um milagre. Já Mike, um planejador de exteriores falido, não precisa de milagres: está com a vida ganha. Ou quase, só basta conclu...