Agridoce

Capítulo 18

Quando Michael ajoelhou-se em sua frente e começou a limpar o machucado ficou muito perto dela. E estava muito, mas muito bonito. Por alguns instantes não pode deixar de pensar no quanto ela queria outro beijo dele, mas aquilo era errado e não podia pensar em perversões agora, tinha muito que esclarecer e com um suspiro deixou esse assunto de lado.

- O que houve? Eu te machuquei? – perguntou Michael preocupado.

Ela negou com a cabeça, e aí sim doeu. Fechou os olhos para a dor se dissipar enquanto Michael colocou a mão esquerda levemente em sua mandíbula para impedi-la de se mover.

- Laura, por favor, tente ficar um minuto quieta.

- Posso pelo menos falar? – perguntou impaciente enquanto Mike aplicava algo muito desagradável que ardia horrores.

Ele assentiu e ela começou o seu tão esperado interrogatório.

- Como se faz para desfazer um casamento? Deus permite isso? Porque eu acho que não.

E Michael se perguntou por que ainda estava surpreendido, o estranho era ela não ter começado pela parte do sexo. Mas iria ter que responder a essas e as outras perguntas embaraçosas que vinham a caminho. Era isso ou ceder à tentação de chegar mais perto daqueles lábios entreabertos de Laura.

- Quando eu te disse que casei, não disse que tinha feito isso perante Deus – disse Michael enquanto aplicava um dos muitos remédios cicatrizantes que havia na caixa de primeiros-socorros, e continuou sua explicação – existe uma coisa, que naturalmente você não deve conhecer, mas é um casamento feito no cartório, perante um juiz. Esse sim pode ser desfeito.

- Mas por que raios alguém quer se casar com um juiz e não com um padre? Esse seu casamento deve ter tido cara de julgamento – disse Laura após pensar um minuto seriamente sobre o assunto, e ter Michael aplicando mil e um remédios no seu mínimo corte não estava ajudando em muita coisa.

- Pois fique sabendo que hoje em dia é o que mais se faz, principalmente quando uma das pessoas  está mais interessada nos termos do casamento do que no casamento propriamente dito.

E de repente se viu contanto toda história de seu frustrado casamento à Laura. E se sentiu confortável falando disso, o que era muito estranho, mas o que era mais estranho ainda era que Laura parecia entender-lo, ou pelo menos tentava, apesar de toda sua inocência ela parecia ter uma mente muito rápida, e, além disso, um coração muito bom.

Ele via a preocupação refletir nos olhos dela e aquilo o cativava com uma velocidade impressionante e logo se viu contando todas suas fases pós-casamento que nunca tinha contado a ninguém, se viu contando como afundou sua própria empresa e que agora era sua oportunidade de reerguê-la. Viu-se contando coisas que nem ele mesmo tinha se dado conta até aquele momento, como por exemplo, que toda essa revolta e descrença pelas mulheres fora causado por seu orgulho ferido. Laura fazia as perguntas certas para que ele mesmo se descobrisse. E fazia de um jeito tão doce que aquela descoberta que tinha sido amarga por tantos anos, se tornou algo quase perto do prazeroso. Ao passar de cada minuto (e foram muitos minutos) ele se sentia mais leve, como se um peso tivesse sido tirado de suas costas ou um nó desfeito em sua garganta. Por incrível que pareça, Laura de fato o compreendia, mesmo não tendo nenhuma vivência nem sequer parecida com a dele. Aquilo deveria ser estranho, mas parecia ser normal, deixar Laura ver a complexidade do homem que ele era e quiria deixar de ser. 

E tudo estava maravilhosamente bem para Michael, acabava de entregar para ela um grande sanduíche e sentou ao seu lado para comer o seu, então, casualmente Laura surgiu com a seguinte pergunta:

- Mike, se pode fazer sexo antes do casamento? É normal?

Michael engasgou.

Ela tinha as bochechas extremamente coradas, o que a deixava ainda mais bonita. Mas a grande onda de desconforto que o invadiu provavelmente deve ter deixado ele igual, coisa que era ridícula. Afinal de contas, não era mais nenhum colegial, não devia se sentir intimidado. Muito menos constrangido por uma menininha dessas, mas ela não era qualquer uma dessas muitas meninas de colegial, ela era a única que conseguia perguntar sobre sexo sem perder o encanto. E ele era única pessoa que podia esclarecer essas duvidas dela, Michael sabia disso. Sabia também que não tinha força de vontade pra negar nada àquelas bochechinhas rosadas. Então respirou fundo, porque mais uma longa conversa estava por vir.

- Não sei se é errado, acho que cada um hoje em dia tem sua concepção de quando é certo começar a vida sexual, entende? – disse Michael pausando para dar uma grade mordida em seu queijo quente. – Muitos acham que deve ser na primeira oportunidade que aparecer. Muitos na primeira oportunidade conveniente, muitos acham que deve ser só quando há amor, e alguns como você, acreditam que o momento certo é quando está abençoado por Deus, o que não é errado.

- Mas é normal antes do casamento?

- Sim, é muitíssimo normal. Muito mais normal do que você deve imaginar.

- E qual sua concepção sobre o assunto? – perguntou Laura bem intrigada.

Se houvesse como Michael ficar ainda mais desconsertado, ele teria ficado agora.

- Bom... Eu acho que... – parou pra pensar bem se tinha alguma maneira de sair pela tangente – Acho que, ainda, não tenho nenhuma concepção formada pelo assunto.

Laura o olhou divertida, mas poupou-lhe do comentário maldoso.

Ele e sabia que passou muito perto de sofrer mais uma sessão de constrangimento, mas que foi abençoado com uma grande dose de misericórdia, era nesses momentos que ele tinha quase certeza de que conhecia Laura tão bem quanto permitiu que ela o conhecesse.

- Acho melhor você me falar do seu projeto pro meu jardim, é um assunto não vai fazer todo o sangue do meu corpo vir parar na minha cabeça. – falou Laura deixando Michael bastante satisfeito com a troca de assunto.

Deus! Estava tão agradecido naquele momento que seria até capaz de dizer que amava aquela menina.

Mas a pergunta era: Seria somente naquele momento?

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~momentos de tensão para Michael~
e pra mim! com esse calor todo! quase morrendo x.x