Laura já parecia bem conformada com seu destino desafortunado. Tudo o que ela precisava, era de uma recordação. E após uma de suas grandes reflexões, chegou à conclusão de que o que ela precisava, era pegar o planejamento do jardim.
Não pensem vocês, que Laura queria atrapalhar o trabalho do senhor Levine, muito pelo contrario, queria ajudar. E, além disso, o papel teria muito valor sentimental para ela.
Assim que entrou furtivamente no quarto dele, não foi nem tão difícil quanto ela esperava. Mas depois de três semanas andando furtivamente à noite, uma invasão vespertina não era grande coisa.
Na verdade, Laura passou mais tempo do que deveria dentro do quarto, analisando cada item que havia dentro do cômodo. E como se tratava de uma despedida achou que poderia se dar esse luxo. A verdade era que Michael era um homem muito peculiar e bisbilhotar as coisas dele era um pequeno prazer no meio de tanta dor que ela estava sentindo.
Sabia que seu objetivo principal era pegar o bendito papel e ir embora, mas uma pequena partezinha dela queria ver Michael. Nem que fosse pra...
O pequeno click na porta a avisou com um grande susto que seu desejo se tornou real.
Mas pela expressão de Michael ele não parecia estar tão satisfeito com esse encontro. Claro, pensou Laura, a essa altura do campeonato ele já deve estar odiando-a, sem ela nem ao menos saber por quê. E para ser sincera, tinha um pouco de medo de saber por que ele estava se comportando assim. Então já que agora já o tinha visto, se escapuliria o mais ligeiro que conseguisse.
- O que faz aqui, Laura? – disse com uma voz tão sombria que fez Laura estremecer, provavelmente de raiva.
- Nada – disse Laura tentando ridiculamente esconder o grande papel que tinha planos de furtar.
- Tem certeza? – dizia mais como uma ameaça que como uma pergunta, enquanto Laura se refugiava no canto mais distante dele o possível.
- Bom, vim pegar uma coisa, mas já estou de saída – disse mesmo sem se mover.
- Seu vestido, espero.
Santo Deus, ele nunca ia esquecer esse vestido?
- Fique tranqüilo, já o dei para sua amiga.
- E ela já me devolveu, não seja ciumenta – como ele sentia falta da maneira como ela se irritava facilmente, pensou Michael. Como sentia falta das faíscas que saiam de seus olhos quando estava com raiva.
- Não seja você convencido, senhor Levine – disse Laura se dirigindo com passos furiosos para a porta. Como podia, sua ultima recordação ser ele tirando sarro da sua cara. Estava indignada.
Já? Era o que pensava Michael enquanto a viu batendo em retirada. Podia continuar naquela discussão durante dias e nem ao menos a pode ver de perto. Não era justo, estava quase indo embora e não teve a oportunidade de vê-la direito em quase um mês.
Num impulso a segurou pelo braço antes que ela chegasse até a porta. Afinal, se ela foi até lá, tinha um motivo.
- Fale o que veio falar – dizia agora bem mais calmo, ter o calor do braço dela em sua mão ao mesmo tempo o acalmava e atormentava.
- Não vim para uma conversa casual, me solte.
- É uma pergunta, não? Mais uma de suas perguntas inoportunas – disse Michael quase sorrindo.
Laura estava ultrajada, como podia saber que ela tinha uma pergunta? Possivelmente já deveria até saber qual era a pergunta, aquilo era assustador. Só não mais assustador do que a possível resposta para tal pergunta.
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Agridoce
RomanceLaura L. não vê a luz do dia fora dos muros de seu colégio interno faz dez anos. Ela está desesperadamente à espera de um milagre. Já Mike, um planejador de exteriores falido, não precisa de milagres: está com a vida ganha. Ou quase, só basta conclu...