Michael realmente estava desfrutando dessa boa ação do dia. Boa ação não, na verdade isso era um pedido de desculpa pela maneira que tinha tratado a garota esta tarde. Ele não era do tipo que fazia boas ações, muito menos por mulheres, de qualquer classe ou tamanho. Mas queria muito que esse trabalho desse certo e começar com desavenças com as alunas não seria um bom caminho.
Pelo menos foi essa a justificativa que ele se deu para explicar a súbita vontade que surgiu nele de ajudar aquela menininha quando o professor o contou as últimas travessuras dela. Fazer travessuras num colégio tão conservador como àquele era um ato de bravura, e ele admiravam isso nela.
Além de outras coisas.
Como a maneira engraçada que ela olhava pra ele neste exato momento. Às vezes ele achava que ela tinha medo. Mas quando ela o olhava assim, achava que ela era muito mais do que “a esquisita da Laura” que suas colegas achavam. E era isso que o fazia sentir tanta curiosidade de saber sobre ela.
- E então? – falou ele finalmente rompendo o silencio.
- E então o quê? – resmungou Laura, grosseira mais uma vez, vai ver os momentos com esse homem estavam afetando-a mais do que devia, logo se corrigiu – perdão, o que o senhor quer saber?
- Conseguiu falar com sua mãe? – uma velha tática dele, jogar verde para colher maduro.
- Helena Puente não é minha mãe e sim minha avó – disse ela de mau humor – e não, não consegui falar com ela.
- E faz quantos anos que vocês não se falam?
- E quem disse que eu tenho que te responder isso? – afinal, como ele sabia que fazia anos? Será que até isso ele foi investigar?
- Não precisa fazer essa cara de assombro, é só uma conversa casual – disse Michael despreocupado, enquanto Laura se levantava claramente revoltada.
- Não sou fã de conversa casual – era até engraçado ver como qualquer coisa que ele falava a afetava tanto.
- Já deu pra ver...
- Olha, escuta aqui! – Laura já estava pronta para armar um escândalo com aquele senhor, como ele ousava usar de sarcasmo com ela? Mas antes dela começar a dar seu chilique ele falou mais alto.
- Não! Escuta aqui você... senhorita! Eu só estava tentando ser simpático e como pedido de desculpas por aquele dia no jardim, tentei te ajudar e...
- Por quê?
Foi somente agora que ela havia entendido, ele não precisava se arriscar tanto por uma desconhecida que, até agora, só tinha sido muito má educada com ele. Talvez ele pudesse ter simpatizado com ela, Laura considerou. Porém isso era impossível, porque até então ela só tinha feito grosserias com ele. Pode até ser que ela estivesse arrependida agora, mas isso não iria mudar sua opinião dele sobre ela.
Afinal de contas, o que importava o que ele pensava ou deixava de pensar?, se perguntou Laura, mais irritada consigo mesma que com ele agora.
- E quem disse que eu tenho que te responder isso? – agora foi a vez dele de dar uma resposta desaforada àquela insolente menininha ingrata. – E bom, eu tenho que ir.
Sem mais, virou as costas e foi com passadas rápidas até a saída. De verdade tinha se arrependido de ter começado essa situação. Primeiramente, ele nem de longe havia amenizado a antipatia que a menina sentia por ele. Segundos, ela não conseguiu falar com a avó. E por fim, não a fez sorrir.
Mas quando ele ouviu Laura chamando seu nome, ele parou bruscamente esquecendo tudo o que tinha pensando antes. Quem sabe lá vinha mais um round das discussões interminável deles?
Seja lá o que fosse, ele estava preparado.
- Quatro – disse ela com a voz tão baixa que ele mal escutou, e ainda assim não entendeu o que ela quis dizer, ela deve ter percebido, pois falou com uma voz mais firme – Faz quatro anos e que não falo com minha avó, e... Obrigada.
Se alguma vez ele se chateou com a ingratidão dela, isso desapareceu nesse exato momento. Nos olhos dela ele via um brilho que talvez fosse de tristeza ou talvez fosse de coragem, provavelmente ela nunca havia falado sobre a avó com ninguém, e não sabia por que mas, gostava de ser o primeiro.
Não devia, mas gostava.
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Agridoce
Любовные романыLaura L. não vê a luz do dia fora dos muros de seu colégio interno faz dez anos. Ela está desesperadamente à espera de um milagre. Já Mike, um planejador de exteriores falido, não precisa de milagres: está com a vida ganha. Ou quase, só basta conclu...