Laura não gostava nada daquilo, tudo o que se ouvia nos últimos dias era sobre o baile de formatura ou tinha a ver com o baile de formatura ou faria parte do baile de formatura. Nossa como aquilo estava deixando Laura entediada.
O baile ia ser aberto aos amigos e família, ótimo, ambas as coisas ela não tinha. E o tema seria Central Park, não Nova York, não Broadway. Central Park.
Era justo o que mais queria na vida, uma festa no jardim! Já que ele provocava lembranças tão pouco dolorosas... Pensou Laura com seu costumeiro mal humor e um recém-adquirido sarcasmo.
E quando ouviu seu o nome sendo chamado no autofalante do colégio, Laura não sabia se reclamava por ter sido chamada porque dessa vez não tinha feito nada. Ou se agradecia por ter que deixar, muito voluntariamente, o suplício que era a reunião de baile.
Ao chegar à diretoria, encontrou com a Madre sorrindo docemente para ela atrás de sua grande mesa de maneira. Aquilo não podia ser bom. Laura já podia sentir seus músculos ficando tensos.
- Precisamos conversar, querida – e as suspeitas de Laura se confirmaram.
- Eu não fiz nada, juro, não fiz.
- Eu sei, não se assuste, só quero saber sobre o baile.
Ah não, de novo isso?
- Acho que vai bem – disse Laura com o interesse nulo mais uma vez.
- Quero dizer, você vai comparecer? – agora a simpatia da Madre começava a diminuir.
- Não está em meus planos – falou Laura com o mínimo traço de simpatia.
- Pois trate de incluir.
- Porque me perguntou, então? – resmungou Laura o mais baixo que pode.
- Te perguntei – falou a Madre, deixando bem claro que seus ouvidos estavam em pleno funcionamento – porque queria saber qual era sua intenção. Mas você tem que ir, querida. Você estudou aqui a vida toda, mais que ninguém você merece essa comemoração.
Laura contava que a tão temida Madre reconhecesse certo tipo de coisa.
- Então, você vai? – voltou a Madre a perguntar docemente.
- Eu tenho opção?
- Não – disse a Madre enquanto Laura se perguntava, porque raios ela dizia coisas tão desagradáveis parecendo ser tão inofensiva.
- Pois bem – disse a menina em tom de despedida.
- Pois bem – falou a Madre interrompendo sua despedida – Há outra coisa que temos que discutir. Você pode se sentar se quiser.
Santo Deus, se ela tinha a opção de se sentar, não deveria ser nada agradável o tal assunto. Sentou-se o mais rápido que pode. E por um momento, temeu que tivessem descoberto suas aventuras sórdidas com o senhor planejador de exteriores.
- E do que se trata? – tratou de perguntar Laura soando a mais despreocupada possível.
- Se trata de você, querida. Ou melhor, do que faremos depois que você se formar.
Faremos? No plural? Não, Laura não estava interessada nisso. E devido ao seu silêncio, a Madre resolveu continuar.
- Sabe que não tem para onde ir, e, além disso, é menor de idade, querida, não pode andar por ai sem um responsável legal. Você entende isso?
Laura assentiu, o que mais poderia fazer? Já se sentia a beira da forca.
- E... bom, há algo que preciso falar... já faz tempo que... bom, o que importa é: sua... sua responsável legal sou eu Laura.
Laura ficou boquiaberta. Claro, ela sabia já dessa pequena novidade. O que ela não sabia era que a Madre poderia hesitar em falar, agora pareceu insegura. Insegura! Chegava a ser irônico, a Madre que levava aquele colégio todo com o pulso tão firme. Estava titubeante de contar uma pequena verdade sobre a vida de Laura.
E mais uma vez, a Madre se aproximou do silêncio de Laura.
- E sendo assim, entende o porquê da importância dessa conversa. não? Quero deixar claro, Laura, que não precisa se preocupar. Aqui te acolheremos até completar sua maioridade, claro não irá estudar, mas poderá ser útil, e não só até os dezoito anos, nada disso. Sua maioridade, para mim, será aos 21, como era nos bons tempos. – disse a Madre com um sorriso radiante enquanto continuava – poderá fazer o que gosta Laura, não é minha intenção te entediar com atividades tão impróprias de sua natureza ativa. Aquele jardim que finalmente está a ponto de estar completamente reformado, ficará inteiramente aos seus cuidados, claro, se você desejar alguém para ajudá-la, assim será.
E a partir daí Laura parou de escutar. Estava cobrando consciência de uma coisa estranha. A Madre, essa Madre que sempre a castigou e a corrigiu duramente, ela gostava de Laura. Sim, gostava, ou pelo menos se preocupava. Aquilo era inesperado, e, no entanto, reconfortante também.
Já que o destino não reservava mais que o Internato Santa Tereza. Era interessante saber que ao menos não estaria ali por simples obrigação legal.
-... você poderia querer mais o que da vida? – essa foi a pergunta final do discurso da Madre. E Laura se viu obrigada a ser sincera com a mulher que se mostrou tão interessada em seu bem-estar.
- Amor – disse Laura com a cabeça o mais baixa o possível, sentia muita vergonha de se sentir tão fraca.
- Oh querida, pois saiba que aqui muita gente gosta de você, talvez não seja o que você precisa, mas será o suficiente.
Laura assentiu. O que mais poderia fazer?
- Bom, já que está tudo certo – disse Laura tentando parecer a mais satisfeita possível com a destruição dos seus sonhos de liberdade. – Já vou indo.
- Mais uma pergunta. – começou a Madre antes que Laura sequer tivesse tempo pra se levantar – Temos que ver uma roupa para você, aquele vestido que fizemos uns anos atrás não vai servir para a ocasião.
Naquele momento Laura sentiu uma grande ternura pela Madre, sabia que ela não gostava das roupas mundanas, mas estava disposta a comprar uma pra Laura, deixando seus princípios de lado. Era admirável. Mas ainda assim...
- Eu já tenho roupa Madre, não se preocupe – e saiu antes que ela perguntasse de onde tinha surgido. Com certeza ela não gostaria da resposta.
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Tamanho da negação do fim desse romance: pensando em escrever um epílogo pra ele depois do Capítulo 30.
Tamanho do tempo pra fazer isso: pequeno...
Mas o que cês acham? Clara já sei que tá de acordo =^.^=
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Agridoce
RomansaLaura L. não vê a luz do dia fora dos muros de seu colégio interno faz dez anos. Ela está desesperadamente à espera de um milagre. Já Mike, um planejador de exteriores falido, não precisa de milagres: está com a vida ganha. Ou quase, só basta conclu...