Era 4:45 da manhã e o céu ainda estava escuro. Laura saiu pela janela de escapada com sua única roupa que não era uniforme. Estava no jardim, no lugar marcado, e enquanto esperava, admirava as flores estavam ainda mais bonitas que no dia anterior. Podia ser que sua afeição por flores fosse estranha, principalmente para as outras meninas do internato, mas essa era uma das poucas coisas que ela se podia dar ao luxo de poder chamar de sua.
Michael se aproximou dela silenciosamente, mas ainda sim ela percebeu sua presença. Mesmo sem vê-lo, podia sentir sua presença. Talvez fosse pelo formigamento que sentia perto do coração, ou então pelo cheiro de colônia que ele tinha.
Entretanto, logo quando se virou para cumprimentá-lo, notou sua cara de poucos amigos. Realmente o mau humor da manhã acaba até com as melhores pessoas. Porém, resolveu não dar importância, nada poderia fazê-la tão feliz quanto estava se sentindo agora.
- Bom dia, alegria!
- Tanto faz... – ele respondeu sem nenhum entusiasmo. – Espero que você tenha imaginado que vai ter que ir escondida na minha caminhonete.
- Sim, claro! Já havia até pensado que eu poderia ir deitada no banco de trás até você passar pela vigilância.
- Laura, está muito claro que você nunca planejou uma fuga. Você vai na caçamba da caminhonete. Com muitas coisas a sua frente para te camuflar – feito esse comunicado, ele se encaminhou para o carro com tanta rapidez que Laura teve que correr para alcançá-lo.
Ele observou ela entrar com muita torpeza na grande caçamba da sua caminhonete de trabalho, uma Hilux preta que quase brilhava de tão nova. Mas para Laura e seu vestido de sair, foi um tremendo desafio subir nela, ainda mais sem a ajuda de Mike. Que somente entrou em ação quanto ela já estava lá dentro, ele se dedicou a colocar plásticos e caixas de papelão a frente da menina, para despistar qualquer eminente suspeita.
Apesar de ser um trajeto curto, dentro do breu em movimento que era caminhonete, os cinco minutos de percurso pareceram uma eternidade para Laura. Sua cabeça quicava constantemente no chão da caçamba. E no meio de uma ladeira as caixas começaram a esmagá-la, sorte que estavam vazias, de repente o carro parou e finalmente pode ver um clarão de luz novamente.
Michael somente tirou as caixas da frente e mais uma vez deixou ela se virar sozinha. Estava claro que ele ainda estava de mau humor, assim que ela conseguiu sair, tratou entrar no carro o mais rápido que o seu traje de sair permitiu. Após dez minutos de um silêncio incomodo (ao menos para Laura) ela resolveu ter uma conversa casual com Michael.
- Lá trás foi bem desconfortável...
- Na volta piora.
- É só uma conversa casual Mike, do jeito que você gosta.
- Você não é fã disso, e nem sabe fazer isso.
- Ai, por que você está chato? – por fim Laura perdeu a calma com um grito histérico.
- Sou chato. E se quiser sair, a porta da rua é serventia da casa, ou do carro.
Depois de trinta segundos em silêncio ele pensou que tinha conseguido calar Laura, mas estava errado.
- Não.
- O quê? – Michael teve que olhar para ela pra pelo menos tentar entender o que ela queria dizer com tanta revolta.
- Não, você não é chato.
Péssima idéia estar olhando para ela neste momento, seus olhos estavam com um brilho que ele não conhecia, isso desde cedo. Mas agora também tinha algo desafiador neles, que ele resolveu ignorar.
Sim, ele estava chato. Como ela tinha salientado. Na verdade, ele estava insuportável, nem ele mesmo se aguentava. E estava com pena de Laura por ter que aguentar isso o dia inteiro. Seu egoísmo e covardia chegavam a ser vergonhoso. Ele estava irritado por perceber que estava pondo em risco seu emprego, coisa que deveria ser a mais importante para ele. Confuso por essa saída com Laura, porque ela talvez estivesse começando a ser importante para ele. Ou já estava sendo importante. Importante demais para o gosto e a segurança dele. Estava irritado por ela ser apenas uma criança, uma garotinha, e ele parecia estar imerso nas suas contradições sem que ela percebesse nada.
Mas o que o deixava mais irritado era que nada ia acontecer. Porque não podia, porque não deveria, porque não era nem mesmo de acordo com as leis. E principalmente porque depois da visita ao hospital era bem provável que a adorável garotinha não precisasse mais dele. Então não precisaria mais ser adorável.
Além de pedófilo, agora estava parecendo uma criança contrariada. E ela ainda parecia surpresa por ele estar se comportando de forma desagradável?! Santo Deus, ele tinha seus motivos...
O contraste se acentuava ainda mais quando ele estava tão amargurado e ela tão radiante. Ela estava diferente, definitivamente eram os olhos, e algo mais. Não era o cabelo. Ah sim, era a roupa! A roupa era totalmente diferente, era... A roupa era...
- Sua roupa... Ela é horrível.
Laura abriu muito os olhos, olhando dele para a roupa, queria se certificar que ele estava falando da sua roupa de sair.
- Não é nada! É linda e marrom.
- Você dá sorte de o marrom cair bem e você, mas isso não faz sua roupa ficar nem um pouquinho menos feia.
E mais uma vez Laura se viu descontrolada, de joelhos no banco do carona e com a voz esganiçada falando muito mais alto do que deveria. Será que não conseguia controlar seus impulsos de infantilidade assim perto de Michael?!
- Olha! Você me escuta! Fui eu que fiz essa roupa e se quer opinar, faça melhor.
Ele pensou em responder uma reposta ainda mais mal criada para ela, mas sinceramente, ficou receoso que ela pulasse em cima dele e o matasse a sopapos.
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Sabe o que eu queria?! Que os capítulos fossem maiores! Eu não sei o que eu tinha na cabeça na época que eu escrevi isso... Eu cortava os capítulos no meio das cenas??? Será que eu queria criar algum tipo de suspense?! Só consegui criar autoreprovação hoje. Além de um pouco de preguiça de pegar o próximo capítulo e juntar com esse. Quem sabe amanhã!
Queria agradecer pelas estrelas e pelos comentários, estou me sentindo simplesmente a CALÇADA DA FAMA! <3Beijos!
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Agridoce
RomanceLaura L. não vê a luz do dia fora dos muros de seu colégio interno faz dez anos. Ela está desesperadamente à espera de um milagre. Já Mike, um planejador de exteriores falido, não precisa de milagres: está com a vida ganha. Ou quase, só basta conclu...