Era típico do destino de Laura pregar essas pequenas peças nela.
Logo que chegou a saleta salmão que servia de ante-sala para a grandiosa diretoria, se deparou com seu pior pesadelo, ou sonho, ainda não tinha se decidido sobre isso: Michael Levine. Ele estava bem descontraído e parecia muito à vontade sentado com os dedos tamborilando em um canudo que levava nas mãos. Suas pernas estavam estendidas se cruzavam na altura dos calcanhares, elas tomavam metade na estreita saleta. E, se Laura tinha alguma duvida sobre o tamanho dele, agora não tinha mais. Ele era o maior homem que ela já conheceu.
- Oi – disse ele tão descontraído quanto sua pose.
- Olá. – soou mais tenso do que Laura desejara, mas talvez isso se devesse ao fato de não restar opção a não ser sentar ao lado dele e esperar ser atendida.
Ao sentar, um silêncio desconfortável se condensou no local. Enquanto isso, Michael parecia ignorar a presença de Laura. Ela, por sua vez, analisava o cômodo meticulosamente, como se nunca tivesse ido ali, como se não morasse ali por dez anos.
A sala que tinha um belo piso de madeira bem lustrada e réplicas de quadros barrocos pela parede. Estava parecendo ainda menor com a presença de Michael ali. E Laura continuava sem saber o que dizer. Ainda bem que antes dela terminar sua análise do cômodo ele resolveu falar.
- O que traz a tão ocupada senhorita Laura aqui?
Não, dessa vez ela não iria ser chata com ele. Ele podia estar sendo sarcástico, mas pelo menos estava tentando puxar assunto.
- O alto-falante me trouxe aos gritos até aqui. E o ocupada eu tomarei como um elogio. Já que eu perto do senhor não tenho ocupação alguma.
- Como assim? – ele perguntou dando um meio sorriso, que fazia Laura admirar para sua boca, coisa que não vinha ao caso.
- Ouvi dizer que além de jardineiro... – ela falou e retribui o sorriso – O senhor agora tem muitas fãs.
- Ah sim, se refere às meninas que vão me visitar? Bom, elas não vão me visitar, vão ver o jardim.
- Não é isso que elas andam falando.
- E o que vocês andam conversando sobre mim?
- Não! Eu não ando conversando, são elas.
- Ah! Então você anda escutando...
Ao ver o olhar da menina com indícios de raiva resolveu mudar de assunto, ela poderia ser muito engraçada e graciosa, mas Deus, como tinha o pavio curto.
- Você também deveria ir lá me ver, Laura.
- O jardim você quer dizer?
- Sim, o jardim. Você é uma garotinha muito legal, a pesar de mal humorada.
Erro fatal, mas foi mais forte que ele, só reparou depois de ter falado.
- Olha aqui, primeiro de tudo eu não sou mal humorada, você me põe de mau humor. E eu não sou uma garotinha, de fato eu sou ...
Antes que Laura pudesse terminar seu discurso, foi interrompida pela secretária gordinha que surgia com um longo hábito nas cores do uniforme de Laura, azul e branco. Ela sempre mantinha um sorriso no rosto e foi sorrindo que estendeu uma carta a Laura, que não entendeu nada.
- Esta carta chegou para você, querida. E, senhor Levine, a madre superiora o aguarda na sala da diretoria, queira me acompanhar.
Sem poder xeretar o que tinha na carta que Laura recebeu,Mike seguiu a freira e apresentou seu projeto á Madre Superiora. Ficou cerca de quinze minutos na sala explicando e discutindo os detalhes do projeto, os ajustes foram mínimos, ela aprovou sem demoras. Ele já sabia que seria assim, não gostava de ser convencido, mas era bom no que fazia. Não passava noites em claro à toa.
Continuava se vangloriando mentalmente enquanto saia da diretoria e atravessava a pequena saleta que tinha esperado alguns minutos antes, mas um pequeno suspiro afogado o fez dar meia volta.
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Tô com a leve impressão de que peguei no ritmo das releituras pra postar aqui. E é só eu ter essas impressões pra tudo começar a ir por água abaixo, por isso, HELP! Quero continuar postando aqui mesmo que seja pra ser ignorada*
<3
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Agridoce
Roman d'amourLaura L. não vê a luz do dia fora dos muros de seu colégio interno faz dez anos. Ela está desesperadamente à espera de um milagre. Já Mike, um planejador de exteriores falido, não precisa de milagres: está com a vida ganha. Ou quase, só basta conclu...