Estrela Cadente

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O fim da tarde era tranquilo, parecido com um lago parado no qual não há qualquer indício de ondulações na superfície da água. Os raios solares passam pelas janelas, o cheiro de café e chá emanam pelo estabelecimento; os sons que ecoam pelas pequenas caixas de som - distribuídas em todos os cantos - transmitem uma tranquilidade admirável.

No entanto, eu quebro com a inércia do local. Preparo o café com cautela, coloco a xícara em cima da bandeja para que outra funcionária o leve. Em seguida, repito o mesmo processo diversas vezes. Sinto-me igual aos funcionários da época do fordismo, exceto pelo fato de eu executar mais funções.

Observo a cafeteria e pouso o meu olhar nos clientes que estão aparentemente satisfeitos. Aproveito o pequeno tempo livre e pego o meu celular para ver o horário. Percebo que daqui alguns minutos tenho que ir para a faculdade.

Faz exatamente um mês que cheguei em Seul. No meu segundo dia aqui, testei o limite da minha resistência: passei o dia inteiro andando e entregando currículos. Alguns dias depois recebi uma ligação em que estavam oferecendo uma vaga para trabalhar na filial de uma cafeteria.

No dia seguinte, eu fui fazer a entrevista. Sai mais cedo de casa já que não conhecia a cidade, após pedir inúmeras informações na rua, consegui chegar no estabelecimento. Ele fica em um bairro distante, precisei pegar o metrô e um ônibus para chegar.

Foram feitas perguntas simples e previsíveis na entrevista: minha idade, onde moro e se já tenho experiência com a preparação de bebidas. Depois, fiz um teste e me apresentaram às regras do estabelecimento. O serviço que estava sendo oferecido é de trabalhar durante o dia preparando café e chá.

Antes de aceitar a proposta, expliquei que teria que sair mais cedo para conseguir chegar a tempo na faculdade visto que ela fica do outro lado da cidade. O meu chefe refletiu inicialmente, mas ele aceitou e permitiu que eu saísse mais cedo. Comecei a trabalhar no mesmo dia já que eles precisavam de uma nova funcionária com urgência.

- Yura, o chefe está te chamando - Choe diz com alguns talheres sujos em cima da bandeja e depois vai para a cozinha.

Espero ela voltar, posteriormente vou até o escritório aflita. A única vez que fui lá foi para assinar o contrato. Bato levemente na porta e abro-a, o Sr.Yang para de assinar alguns papéis e ergue o seu olhar até o meu rosto e, em seguida, gesticula para eu sentar na cadeira em sua frente.

- Com licença - digo e sento-me na cadeira.

- Bom Yura... - Ele olha-me cansado. - O seu trabalho é excelente, mas o fato de você estar saindo mais cedo fica complicado. Está nos prejudicando, infelizmente não dá mais para continuar assim.

Cada palavra que sai de sua boca deixa-me cada vez mais decepcionada. Em uma fração de segundo, vários pensamentos sobre o que devo fazer passam em minha mente. Estava contanto com esse trabalho e me acostumei com a rotina. Controlo as minhas emoções para não transparecer o quão desolada estou, preciso agir profissionalmente até mesmo nesta situação.

- Entendo - murmuro.

- Aqui está o seu pagamento do mês. - Ele entrega-me o envelope. - Foi bom trabalhar com você.

- Eu que agradeço a oportunidade. - Despeço-me.

Vou até o armário dos funcionários, pego a minha mochila e vou ao banheiro. Troco de roupa, encaro-me no espelho e solto o meu cabelo. Sinto um peso grande nos meus ombros, o peso da incerteza. Era óbvio que as minhas saídas mais cedo iriam me prejudicar, tive sorte de conseguir ficar um mês trabalhando aqui.

A Empregada - JungkookOnde histórias criam vida. Descubra agora