O teto do quarto é branco, coberto por alguns mofos nas laterais. A luz que o pequeno abajur emitia o iluminava parcialmente, muitas pessoas considerariam uma visão entediante. No entanto, era como se eu estivesse sentada na primeira fileira de um teatro, o teto era a cortina e a minha mente projetava o espetáculo.
Eu passei a noite inteira me remexendo na cama, sentia o meu coração acelerar e as minhas bochechas corarem todas as vezes que lembrava daquela cena. Pensei nos prós e contras de cada hipótese caso eu tivesse agido diferente. É tudo mais fácil na imaginação, na hora de agir eu não tenho controle das minhas ações visto que o nervosismo predomina no meu corpo.
Não fui capaz de olhar para ele, mas agradeço já que isso só aumentaria a vergonha que eu sinto nesse exato momento e não há previsão de quanto tempo irá persistir. Por que não saí mais cedo? Por que tive que me encontrar com ele? Por que tive que gaguejar igual uma boba?
O lado positivo da situação é que eu geralmente chego mais tarde e saio mais cedo do que eles, amenizando o risco de encontrá-los. Essa possibilidade me conforta, tudo o que preciso é afastar esses pensamentos e prosseguir com a minha vida.
Olho para cima tentando ver até o final do prédio, mas minha vista fica embaçada devido ao sol. Abaixo a cabeça e pisco algumas vezes com o intuído de fazer a minha visão voltar ao normal, vejo uma figura com a roupa azul se aproximando. A cada piscada que dou, minha vista fica mais nítida e percebo que é a Ahra.
- Tomate! - Ela ri e abraça-me.
Sempre tive facilidade - infelizmente - em ficar vermelha. Eu coro por absolutamente qualquer coisa, até mesmo quando estou brava. O dia está mais quente que o normal, então posso concluir que estou parecendo com um camarão.
Ahra me apelidou de tomate quando éramos crianças, naquela época eu fingia que não gostava do apelido. Afinal, tomates são deliciosos. Ser comparada com eles é um honra. Além disso, nunca existiu o tom de deboche no apelido o que me deixou mais confortável.
- Também senti saudades - digo com os braços em volta do seu pescoço.
- Vamos subir, tenho uma surpresa. - Ahra dá uma piscadela.
Passamos pelo hall do prédio, sorrio para o porteiro e o desejo um bom dia. Subimos vários lances de escada que pareciam ser infinitos. O elevador não está funcionando e Ahra mora no último andar. Após vários minutos subindo, ela finalmente diz que chegamos.
Coloco as mãos na minha coxa para me apoiar e inspiro profundamente com o intuído de recuperar o fôlego. Parecia que eu tinha corrido uma maratona e não duvido que subir todas essas escadas equivale a uma.
- Vai valer a pena. - Ela abre a porta do apartamento.
O seu apartamento tem as paredes com a tonalidade azul claro e possuí vários quadros. Os móveis são brancos, a luz do sol que passa pelas janelas dá um ar aconchegante e acolhedor.
- É lindo. - Viro-me e sorrio para ela.
- Obrigada. - Ela também sorri, mas depois sua expressão fica séria. - Você sabe que pode morar comigo quando quiser né?
- Você já fez muito por mim - suspiro e chuto o ar com o pé, penso em tudo o que conquistei graças a ela.
Ando em direção à prateleira do canto, em cima dela tem um porta retrato com uma foto nossa. Estávamos no ensino fundamental, sorrio lembrando que éramos fã de High School Musical e sempre brigávamos para ser a Sharpay.
- Você não mudou nada - Ahra diz ao meu lado -, vem ver a surpresa. - Ela pega o meu braço e me leva até a cozinha.
Observo o cômodo e reparo que tem um enorme e delicioso bolo de chocolate no centro do balcão. Em primeiro lugar vem o chocolate, nem mesmo o tomate poderia competir com o alimento dos deuses. Examino minuciosamente a guloseima que parece clamar para ser devorada.
- Eu não acredito! - Abraço-a. - Você é a melhor amiga do mundo.
- Eu sei. - Ela sorri convencida. - Vamos comer, tava te esperando pra isso.
Pego os pratos e talheres com sua instrução, me informando onde estavam no armário. Enquanto isso ela pega a bebida e os copos, após pegarmos tudo o que precisamos nos sentamos.
Observo Ahra cortando o bolo, contemplo a arte que é a culinária. O recheio escorre ao ser cortado, a espátula tirando o pedaço e levando-o até o meu prato é a definição da perfeição.
- Conheceu alguém interessante na faculdade?
- Ah, não tem ninguém interessante. - Como um pedaço do bolo para fugir da pergunta.
- Sei... - Ela lança-me um olhar acusador. - Parece um criança comendo - Ahra gargalha.
Confesso que fiquei aliviada pelo fato dela não ter perguntado sobre o trabalho, a última coisa que eu quero é mentir para ela. Concentro-me em saborear a comida, a massa estava macia e o recheio estava delicioso.
- Está sujo aqui. - Ela coloca o dedo perto da minha boca e limpa. - Pronto.
Fico envergonhada por ter me sujado, acho que estou começando a concordar com o que ela disse sobre eu parecer uma criança. Os meus olhos percorrem por seus cabelos enquanto ela executa a ação. Ahra sempre preferiu o cabelo longo, porém agora ele está na altura dos ombros.
- Você deveria ser cozinheira - digo depois que ela se afasta.
- Prefiro o design mesmo. - Ri simplista.
Depois de lavar a louça e guardar tudo em seu devido lugar, vamos para a sala assistir um filme de terror. Fechamos todas as janelas para contribuir e aumentar com o clima tenso do filme.
Gritamos todas as vezes que tomamos um susto, a televisão estava no último volume fazendo com que o barulho do monstro ecoasse pelo cômodo, dando uma veracidade. Os vizinhos devem estar nos odiando agora, mas só iríamos incomodá-los somente hoje; um dia não irá fazer mal.
Depois que o filme acaba, decidimos fazer outra coisa para que a Ahra esqueça do filme ou não iria dormir durante um mês. Isso sempre acontece, ela pede para assistirmos filme de terror, durante o filme ela rói todas as unhas e no final se arrepende.
- Vou fazer chá. - Ela pula do sofá. - Me espere na varanda.
Vejo a sua figura se distanciar. Sozinha fico imersa nos pensamentos e a contrição se alastra em minha mente. Sinto-me culpada por não poder compartilhar sobre o meu novo emprego e sobre o que aconteceu na sexta-feira.
Queria contar detalhadamente o que aconteceu, lamentar-me e pedir a sua opinião no final. Ela provavelmente diria para eu fazer um barraco ou olhá-lo com raiva. No entanto, não posso falar sobre o meu emprego visto que assinei um contrato de sigilo. E quebrá-lo me causaria uma demissão por justa causa e um processo.
Existir um segredo entre nós está me corroendo. É difícil deixá-la sem saber dessa nova parte na minha, se não fosse por sua ajuda, eu não teria conseguido estudar e ter vindo morar em Seul. Eu também preciso desabafar, não contei nada para Eunjin porque não quero preocupá-la já que trabalhamos no mesmo lugar.
Inspiro profundamente, não vou deixar esses pensamentos estragarem o resto do nosso dia. Levanto-me e vou em direção à varanda, abro a porta e deparo-me com uma vista espetacular. A noite não era somente iluminada pela lua, mas também pela luz artificial da cidade.
É possível observar inúmeros prédios, carros, estabelecimentos e pessoas que dessa altura parecem formigas. E eu sou somente mais uma nessa cidade, mais uma pessoa que está na varanda observando a capital do país. No entanto, isso não é algo ruim. Sinto-me grata por residir aqui e por poder correr atrás dos meus sonhos.
Ahra interrompeu o meu devaneio e me entregou uma xícara de chá. Sento-me e cruzo as pernas. Relembramos de cada situação engraçada que vivemos na pacata cidade, nunca imaginei que iríamos conversar sobre o passado aqui e com esta vista. Apenas consigo pensar no quão certa a autora Rhonda Byrne estava quando escreveu sobre a Lei da Atração.
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A Empregada - Jungkook
Fiksi PenggemarLee Yura, ingressou em uma das faculdades mais renomadas e concorridas da Coréia do Sul. No entanto, isso não anula sua precária condição financeira atual. Ela terá que trabalhar arduamente até o dia em que receber o seu diploma; um vasto caminho co...