Inicialmente, adaptar-se a uma nova rotina é igual nadar na direção oposta de uma correnteza, todo o seu corpo trabalha para tentar lutar contra o forte fluxo de água. À medida que o tempo passa, o nosso relógio biológico aos poucos cede e, sem percebermos, nos acostumamos: a dificuldade que parecia ser ininterrupta é esvaída.
A melhor palavra para descrever a semana é: monotonia. Acordei no mesmo horário, fui trabalhar, de noite fui para a faculdade e quando cheguei em casa estudei. Tudo à minha volta estava em preto e branco, parecia que eu estava em um filme do Charlie Chaplin. Carpe diem era desconhecido para mim, era somente mais uma frase.
Contudo, sábado é um dia especial: é o aniversário da Ahra. Quando ela era mais nova, os seus pais faziam festas. Porém, conforme ela foi crescendo isso ficou de lado já que os seus gostos mudaram. Normalmente, a gente jantava com a sua família — mais alguns convidados — e fazíamos uma festa do pijama.
O tempo livre que eu tenho até a minha aula começar está sendo ocupado pela minha incessável caminhada pelas ruas movimentadas de Seul, a procura pelo presente ideal está sendo mais árduo do que imaginei. O meu salário não é nada exorbitante, porém é uma boa quantia para mim já que consigo ajudar a minha mãe e a minha tia.
Além disso, consigo pagar com tranquilidade as despesas que são provenientes da faculdade, como: o transporte e a alimentação. Economizei uma quantia razoável para o presente dela. Compreendo que os bens materiais não são tudo, porém quero retribuir o que ela fez por mim, nunca esquecerei da sua ajuda.
Roupa não. Relógio não. Sapato não. A minha amiga possui quase tudo o precisa ou quer, na verdade, não consigo pensar em nada que lhe falte. Quero algo que acrescente em sua vida e que também tenha um valor sentimental, o problema se define em duas palavras: onde e quando acharei?
Com os pés doloridos por causa do trabalho e da longa caminhada, sento-me em um banco que está na calçada, localização mais do que estratégica. Afinal, qualquer um que estiver cansado pode usufruir dele. E quando falei da estratégia é que ele está no meio da rua mais movimentada, mesmo sentados nós ficamos observando as lojas e as suas vitrines.
Estico as minhas pernas e suspiro insatisfeita por não ter encontrado nada. Observo as pessoas andando de um lado para o outro, prestando atenção nas suas sacolas para ver se compraram algo que despertasse a minha atenção. Confiro o horário no celular e vejo que ainda tenho tempo de sobra. Abro a mensagem que o Jungkook mandou alguns dias atrás para mim:
“Está tudo bem?”
Não sei como o responder já que a minha resposta é ambígua: é o sim e o não ao mesmo tempo. Estava perdida, ansiando para que uma luz surgisse e me desse uma resposta. Entretanto, as pessoas não teriam dilemas ou passariam por provações se tudo fosse resolvido com o auxílio de uma mágica.
Uma senhora e uma criança estão olhando a vitrine de uma loja do outro lado da rua. Eles me lembram a Sra. Kang e o pequeno Jinhei, pergunto-me como eles estão. No entanto, quando eles se viram para atravessar a rua percebo que os dois desconhecidos são muito parecidos com as pessoas que citei.
Enquanto eles esperam o sinal abrir, o olhar Jinhei vaga pelo local até se fixar em mim, em seguida ele olha para a sua avó que automaticamente repete o mesmo movimento; sorrio e aceno para eles. Levanto-me, ando em sua direção e os espero atravessarem a rua um pouco afastada para não atrapalhar os outros pedestres.
— Não acredito que nos encontramos — Sra. Kang diz alegremente.
Cumprimento-os animada e recebo a mesma ação com o mesmo nível de entusiasmo.
— É uma ótima coincidência — digo sincera.
— Eu vim comprar o meu tênis da escola — Jinhei levanta a sacola. — Quer ver? — ele sorri, demonstrado a sua empolgação.
— Vamos sentar primeiro — a avó do pequeno sugere.
Sentamos no mesmo banco em que eu estava. Jinhei me mostrou o tênis sem conter o sorriso um minuto sequer, falou sobre a sua escola e como está indo bem nos estudos. Ele também pediu para a sua avó mostrar a sua foto imprimida com o Jungkook, finalmente os seus colegas acreditam nele. O pequeno virou uma celebridade na escola. Após isso, eu e a Sra. Kang conversamos um pouco sobre o seu restaurante, mas fomos interrompidas por uma voz baixa, quase como um sussurro:
— Deve ser de menta né — Jinhei diz.
Sigo o seu olhar até parar em duas moças com sorvetes verdes, provavelmente do sabor menta. Observo o Jinhei novamente com os olhos que parecem duas bolas de gude. Quando somos crianças o doce é uma espécie de ímã, todavia, mesmo após crescidos é difícil resistir.
— Você quer um sorvete?
— Quero! — Jinhei pula do banco.
— Não queremos incomodar, ela deve tá ocupada… — a Sra. Kang diz desesperada, sinalizando com a mão que está tudo bem.
— Magina, eu faço questão. — Tranquilizo-a.
— Tem certeza? — Ela me encarou preocupada.
— Mais do que tudo.
Dito isso, andamos procurando algum estabelecimento que venda sorvete. E a cada passo que dávamos, ela me questionava se não estava atrapalhando já que não queria importunar. Assegurei diversas vezes que ela não precisava se preocupar com isso, sorrio lembrando do Jungkook dizendo que ela é teimosa.
Finalmente achamos a sorveteria que tanto almejamos. Entramos e ficamos na fila, quando finalmente chegou a nossa vez eu fiz o pedido: um sorvete de baunilha para a Sra. Kang, de menta para o Jinhei e um de chocolate para mim. Enquanto o funcionário colocava a casquinha debaixo da máquina para amparar o sorvete, os olhos do pequeno brilhavam como se estivessem vendo algo de outro mundo.
— Obrigado noona — ele diz assim que recebe o seu sorvete.
Em seguida, a Sra. Kang também agradece enquanto eu pago. Isso é o mínimo que eu posso fazer para compensar o quão bem acolhida eu fui no jantar. E também como poderia olhar nos olhos do Jinhei e dizer não? Nem mesmo uma pessoa com o coração petrificado conseguiria negar.
Saímos do estabelecimento e fomos andar vagarosamente pela rua enquanto degustávamos o doce gelado. Um celular toca e várias pessoas conferiram se não era o seu — inclusive eu. Quando olho para o lado vejo a Sra. Kang com o aparelho recostado na orelha, ela desliga após conversar brevemente e me encara com um semblante triste.
— Temos que ir ao supermercado ainda pra poder abrir o restaurante — ela diz. — Mês que vem vai ter um evento, por favor vá. Você e o Kookie são mais do que bem-vindos.
— Mas nós... — Tento argumentar, mas é em vão.
Ela me abraça e vai embora apressadamente com o Jinhei que acenou antes de ir para mim. Fico observando as suas figuras sumirem na multidão que anda desgovernadamente. Saio do meio das pessoas e vou para uma parte mais calma, no horário de pico o movimento é sempre assim.
Olho ao redor e um nome me chama atenção: papelaria. Entro no estabelecimento cheia de expectativa já que a Ahra é designer. Ando observando as prateleiras até uma funcionária perguntar se pode me ajudar, mas no instante em que ela fala isso o meu olhar pousa em um sketchbook lindíssimo.
A sua capa possui a coloração de um azul ardósia claro, várias nuvens com uma textura macia estão em sua extensão. É como se esse sketchbook fosse feito por fadas ou pela própria Fada do Sono. Olhei para a prateleira e só tinha apenas mais um, provavelmente é de uma edição limitada.
— Esse sketchbook é dos sonhos, você pode anotar, desenhar, escrever o que sonhou ou o que deseja — ela pega um kit de canetas que possuem a mesma estampa. — As canetas também estão inclusas.
Sem ponderar, confirmo a compra. Vamos até o caixa e peço para a funcionária embalá-lo para presente. Observo o objeto com o sorriso fincado no rosto, mal posso esperar para entregá-lo amanhã. Abro a minha mochila e o guardo com cuidado, após isso vou para o meu último compromisso: a faculdade.
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A Empregada - Jungkook
FanfictionLee Yura, ingressou em uma das faculdades mais renomadas e concorridas da Coréia do Sul. No entanto, isso não anula sua precária condição financeira atual. Ela terá que trabalhar arduamente até o dia em que receber o seu diploma; um vasto caminho co...