Lar

108 10 0
                                    

O final de semana em Guryong Village é sempre animado. Apesar das condições financeiras precárias, ninguém permite que a tristeza reine; crianças correm descalças pelos becos, adultos se reúnem para conversarem e outros aproveitam a folga para descansar. É o momento em que as preocupações ficam para trás, afinal, o ser humano precisa de um equilíbrio.

— Eu já vou indo meninas, deixei a parte de vocês aí — Eunjin diz antes de fechar a porta.

Ahra conheceu a minha tia semana passada quando veio me visitar. Eu acertei quando imaginei que elas se dariam bem, a Eunjin não parava de perguntar por ela e sempre pedia para eu convidá-la para ficar alguns dias aqui.

— Vou lá — digo para a minha amiga enquanto confiro a mensagem que recebi.

— Tá bom — ela coloca as mãos no meu ombro. — Não consigo acreditar nisso. — Ahra sorri.

Dou-lhe um sorriso cúmplice, também não creio no que iremos fazer. Por fim, saio de casa e caminho até a entrada do bairro. O frio é agradável, os raios solares são fracos, fazendo com que o dia fique acinzentado; a natureza parece estar ao nosso favor. Vejo uma pessoa completamente coberta: máscara no rosto, óculos de grau — sei que são falsos — e uma jaqueta.

Jungkook está escorado na parede de uma construção abandonada, só o reconheci porque combinamos ontem dele se vestir assim para ninguém reconhecê-lo. Esperei que ele negasse quando eu propus para entregarmos as cestas básicas que a Eunjin arrecadou. A sua resposta foi totalmente positiva e quem ficou coberta de incertezas fui eu já que o medo de algo dar errado é maior.

Além disso, também lhe contei sobre a Ahra e como ela descobriu sobre nós. Não quero que exista a possibilidade de outro mal-entendido e por isso decidi esclarecer tudo ontem. Combinamos dele a conhecer hoje, confesso que estou receosa e feliz ao mesmo tempo. É importante que ele conheça a minha vida e quem faz parte dela.

— Quem será? — Faço-me de desentendida ao me aproximar dele.

— Dá pra me conhecer? — Kookie pergunta preocupado.

— Nem um pouco — asseguro-o. — Bom, temos muito o que fazer, vamos. — falo animada.

Antes de dar o primeiro passo, Jungkook segura a minha mão. As minhas bochechas entram em combustão, não preciso de uma lareira ou de roupas quentes para me aquecer. Alguns vizinhos ficaram olhando, provavelmente irão contar para a minha tia, por sorte ela foi entregar as cestas em uma parte mais afastada do bairro com outros voluntários.

— Chegamos — Mostro a minha casa.

Não tenho vergonha de trazê-lo onde eu moro. Tenho consciência de que é o oposto da vida que o Jungkook leva, mas aqui é a minha realidade. Trabalhamos de forma honesta e com o pouco que temos ajudamos outras pessoas, tenho orgulho da minha origem e nunca irei renegá-la.

— Bem-vindos. — Ahra abre a porta.

Sorrio, não duvido de que ela estava parada em frente à janela nos esperando. Primeiramente, nós entramos na residência para eu poder fazer as apresentações. 

— Essa é a minha melhor amiga, Ahra — digo, o entusiasmo percorre por todo o meu corpo.

Os dois conversam um pouco e eu assisto a cena sorrindo. Depois das apresentações serem feitas, cada um pega uma caixa para levarmos. O peso é suportável, o nosso esforço físico valerá a pena. Após andarmos lentamente, chegamos na primeira casa. Coloco a caixa no chão e bato na porta.

— Vocês vieram — uma mulher grávida abre a porta. — A gente não tinha nem o que comer hoje.

— Sei que é pouco, mas tentamos fazer o melhor que pudemos.

A Empregada - JungkookOnde histórias criam vida. Descubra agora