A musiquinha de "game over" toca mais uma vez quando sou obrigado a levantar o rosto para atender uma cliente.
- Bom dia, Taetae - a senhora que cuidou de mim durante toda minha infância cumprimenta, alegre, antes de empurrar suas compras pelo balcão. - Gostei do novo cabelo!
Eu sorrio sincero, me sentindo realmente feliz em saber que pelo menos uma pessoa acha que o rosa me caiu bem.
Meu pai, em compensação, odiou, e fez questão de demonstrar isso quando me colocou de castigo para trabalhar aqui em sua loja por pelo menos mais duas semanas ou até que ele arrume outro ajudante.
- Bom dia, Sora! - cumprimento de volta, sorrindo para a senhorinha que me deu tanto carinho quando pequeno e que ainda hoje me traz boas energias. - Eu também gostei, mas parece que uma cor tão bonita ameaça a masculinidade de certos pais de família, se é que me entende...
Em resposta, vejo ela sorrir para mim antes de piscar um olho e pegar seu troco, para só então gritar na direção da saleta em que meu pai está descansando: - Desses pobres coitados eu sinto é pena! Estão confinados a viver o resto da vida dentro de um jeans feio e uma camisa fedorenta por pura ignorância!
Ela então sai correndo na velocidade que seus anos permitem, com as sacolinhas penduradas na mão balançando para todos os lados e um sorriso brincalhão enfeitando seu rostinho doce.
E é quando Sora finalmente atravessa a porta de vidro da lojinha que meu pai sai de dentro da sala, irritado e inundando o lugar com seu cheiro ruim de gordura e charuto velho.
- Essa velha outra vez? Quando é que ela vai morrer, afinal de contas? - meu pai resmunga, amargo, e caminha até a caixa registradora com sua carranca já tão rotineira.
- Ela mandou um abraço - minto, tentando fazê-lo se sentir um pouco culpado pela dureza em suas palavras.
- Não preciso de abraço, preciso pagar as contas. - Ele diz então, antes de bater a gavetinha das moedas e me olhar, azedo. - Está faltando dinheiro.
- Não, não está - respondo, convicto. - Você pegou algumas notas mais cedo pra comprar cigarro, lembra?
Meu pai simplesmente rosna alguma coisa e passa a mão nos poucos fios de cabelo antes de me dar as costas e andar de volta até a salinha, sempre vestindo sua melhor expressão ranzinza.
Apesar disso, eu não o culpo.
Ele é e sempre foi um bom pai, ainda que o conservadorismo muitas vezes guie suas atitudes por um caminho injusto e reduza seu discernimento a um grande monte de nada.
Mesmo assim, é triste ter que admitir o quanto ele ficou completamente cego de ódio e rancor depois que minha mãe faleceu, no auge dos meus doze anos.
Por mais que meu pai nunca tenha sido mesmo um príncipe encantado, ele não costumava assumir essa postura amarga e desprezível com a frequência que o faz hoje.
Mas parece que, quanto mais os dias passam, mais ele fecha os olhos, e sua vontade de viver para si próprio se reduz na mesma velocidade que a de viver para os outros.
Ouço o barulho da portinha se fechando e suspiro ao olhar de volta para a frente, cansado de ser um telespectador de sua decadência progressiva.
Eu queria muito ser capaz de ajudar, mas não acredito que ele ache que precisa de alguma ajuda.
Com essa conclusão, procuro esquecer de tudo quando olho pela milésima vez para o computador da loja, um verdadeiro fóssil da era digital que faz o mesmo barulho de um avião decolando. E por mais que já tenha se passado duas horas desde que eu baixei o antivírus, não é nenhuma surpresa quando vejo que ele ainda não terminou seu trabalho.
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Rose-Colored Boy ❧ Taekook
FanfictionObrigado a cumprir algumas semanas de trabalho como parte de um castigo, Taehyung vê sua vida monótona e entediante virar de cabeça para baixo ao cruzar seu caminho com o do turbulento Jungkook. Da maneira mais inesperada possível. × Jeon Jungkook...