Marco Antonio e Cassius

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             - São gêmeos! Dois lindos meninos! Vais ter que trabalhar dobrado amigo velho!-Disse o obstetra a Carlos, após o parto.

Carlos não poderia ter ouvido uma notícia melhor. Sempre quis ter um menino, para ensina-lo a jogar bola, e vesti-lo com a camisa do Palmeiras, seu time do coração. Dois filhos homens então, e de uma só tacada? Agora sim, isso era coisa de macho !Não cabia em si, sua alegria era tanta que contagiou toda a equipe médica, deu gorjeta para as enfermeiras, abraçou o porteiro, enfim uma felicidade só. Amanda ficou até embaraçada, achando graça do quanto seu marido estava bobo. Ela também desejava um menino, assim poderia formar um casal, mas dois? Meu Deus daria muito trabalho! Seriam duas mamadas, duas fraldas, duas embaladas, duas canções de ninar, duas vezes mais sono perdido. Mas a cara de Carlos Roberto, pulando pelos corredores do Hospital Sírio Libanês, era algo que realmente valia o sacrifício.

Eles já haviam definido que se fosse uma menina, chamar-se-ia Paola ou Carolina. E, caso fosse menino, seria algum nome de raiz italiana. Acabaram, pois, escolhendo os nomes Marco Antônio e Cassius.

Os anos foram passando e logo em tenra idade suas personalidades já estavam bem definidas. Marco, era ativo, falava o tempo todo, corria e brincava com as outras crianças, e adorava pregar peças em quem pudesse. Cassius sempre foi introvertido, um garoto que falava pouco, menos até que seu pai, que já não era de muitas palavras. A desigualdade de gênio era tão acentuada quanto a igualdade na aparência. Eles eram absolutamente idênticos, e salvo por um ou outro detalhe, como uma pequena marca atras da orelha que Cassius tinha desde que nascera, ou o fato de Marco ser um pouco mais corpulento, seria impossível que pessoas de fora pudessem distinguir um do outro, fato que chegou a levar os dois a fazerem alguns comerciais de TV.

A personalidade introspectiva de Cassius acabou por preocupar Amanda, que o levou ao psicólogo. Ante a notícia que seu filho era uma criança absolutamente normal, ela resolveu aceitar o jeito dele, e tentar entende-lo melhor, embora Cassius as vezes parecesse um enigma para ela. Chegava a ficar assustada às vezes. Como por exemplo, lá pelos idos dos anos 70, quando o famoso Uri Geller apresentando-se em um programa de auditório, disse as pessoas que assistiam ao programa em suas casas que pegassem um talher qualquer, pois utilizando suas ondas mentais, mesmo a distância, iria influencia-las mentalmente para que tivessem poder sobre o metal. Assim, segurando o objeto apenas com a ponta dos dedos, indivíduos que fossem mais sensíveis serviriam como extensões de seu poder, e poderiam entortar esses talheres apenas com a força do pensamento. Marco Antônio correu, e pegou uma colher para cada um, e então Uri Geller disse na tela da TV:

- Segurem o talher apenas com a ponta dos dedos... Dessa forma-E demonstrou a forma de segurar, uma forma bem delicada, com as pontas dos dedos polegar e indicador. - Agora fechem os olhos, e digam mentalmente: "Metal entorte sob meu comando, Uri Geller, Uri Geller, Uri Geller"... Três vezes. Vamos lá... Um... Dois... Três!

A colher de Amanda estava exatamente igual. A colher de Marco Antônio, toda empenada, e ele rindo da traquinagem que fez, enquanto a mãe estava de olhos fechados. Assim também estava a colher de Cassius, mas ao contrario do irmão, este estava sério, como de praxe.

- Vocês vão me deixar louca! Marco, porque entortou a colher tanto assim, agora ficou totalmente estragada!?-disse Amanda sabendo que Marco entortara a colher com as mãos. - E você Cassius, também, por que fez isso?

- Eu não fiz nada mamãe-disse Cassius, com a inocência de uma criança.

- Então tá bem Senhor Cassius, diga-me que foi o poder de Uri Geller que fez isso?

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