Conversas com Morena

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      A noite caía serena sobre a linda cidade maravilhosa. Ipanema, Copacabana, Urca, toda a Avenida Atlântica naquele movimento típico das noites quentes de verão, pareciam saudar o retorno de Carla, que retribuiu lá de cima abrindo um sorriso em seu coração, com aquela sensação de quem chega saudoso, de uma longa viagem. Sim, ela estava em casa. Preocupada ainda com a pequena Carolina, e mais ainda com sua mãe, a primeira coisa que faria chegando ao Rio seria procurar Morena. Quem sabe pudesse obter alguma notícia, ou ao menos, algo que lhe confortasse os pensamentos.


Morena era uma jovem senhora, de seus quarenta e poucos anos. Quem a visse na rua, diria tratar-se de uma mulher de negócios, ou dona de algum comércio. Vestia-se bem, gostava de se maquiar, era muito vaidosa. Quem poderia dizer que por trás daquela aparência de mulher requintada houvesse uma pessoa extremamente humilde, caridosa, de uma sensibilidade ímpar, sempre disposta a ajudar aos demais com seus dons espirituais, sua mediunidade.

Quando Morena viu Carla pela primeira vez, uma menina assustada, perdida, com medo da vida e de enfrentar seus desafios, logo foi lhe falando palavras de fé, palavras de perspectiva, sempre a acalmando nos momentos mais difíceis. E não seria diferente dessa vez.

- Morena, como estou feliz de te ver, já faz algum tempo não nos falamos.

- Sim Carla, um bom tempo. Espero que pelo menos tenha frequentado o centro, feito os cursos. Você sabe que deve partilhar na forma de receber, e na forma de doar.

- Sei sim morena, e tenho ido, tantas vezes quanto posso... -Carla fez uma pausa nesse momento. Morena a olhou por cima de seus óculos bifocais. - Estou ouvindo-Disse retorquindo os lábios, o olhar fixo, as mãos postas sobre a mesa buscando as de Carla.

- Minha mãe. Faleceu anteontem. Acabei de chegar de São Paulo agora, deixei o coitado do Jaime levar as malas sozinho pra casa pois precisava falar contigo, e não quis deixar pra amanhã. É que estou aflita, deixei minha irmã pequena, meus irmãos... Não sei se ficarão bem, principalmente minha mãe.


Morena respirou um pouco mais lenta e demoradamente. Fez uma pausa, e ainda com o olhar fixo, perguntou:

- Quantos irmãos homens você tem?

- Tenho dois. Eles são gêmeos, mas já estão mais crescidinhos. E uma irmã caçula de apenas sete anos

- Sei... E seu pai, como está?

- Bem, está arrasado, aliás esse é justamente o problema. Eles eram muito ligados, tenho medo que mamãe não siga em frente, fique apegada a ele, se não o vir melhor. Eles se amavam muito, sempre foram apaixonados desde o inicio. Isso é possível não?

- É possível, faz parte do caminho dela... Seu pai é um homem de fé?

- Meu pai não acredita em nada Morena, dá até desânimo na gente. Ele é muito teimoso, já perdi as esperanças.

- Nunca é tarde para as pessoas perceberem um erro, e tentarem concertar as coisas. Para seu pai, esse momento ainda não chegou, mas chegará, quando for a hora. E sua mãe, era assim também?

- Não, mamãe era católica, não frequentava a igreja, mas tinha Deus em seu coração. Era uma pessoa muito bondosa...

- E seus irmãos? Sei que tem uma irmã mais nova, e sei que tem os meninos... Quantos são mesmo?

- São dois, o Marco Antônio e o Cassius. O Marco é espevitado, deixa qualquer um louco. O Cassius já é mais tranquilo.

- Sua mãe falava de Deus com eles?

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