Após alguns meses , as coisas pareciam querer entrar nos eixos.Carlos não recebeu mais nenhuma notificação da escola. Marco continuava aprontando, mas nada que não pudesse ser contornado e Cassius tinha resultados melhores em seu boletim.Foi nesse âmbito de esperança, que chegou o tão esperado aniversário de 13 anos dos meninos.Carlos achou que deveria premia-los com algo que quisessem muito, para mostrar que se eles se esforçassem na vida, colheriam melhores frutos,e o tal carro motorizado era algo que eles almejavam a algum tempo.É bem verdade que o vendedor falou que era um produto recomendado apenas para maiores de 14 anos.Mas os meninos já estavam grandes, além do mais, Carlos poderia ir soltando aos poucos , observar como eles se comportariam.E, caso as notas baixassem ,ou houvesse algum tipo de reclamação, ele teria uma moeda de troca e tanto para regatear um desempenho mais favorável.Sim,de fato essa parecia ser uma ideia excelente.Mas e se Carol quisesse andar também?Iria ele negar a filha mais nova essa diversão?Bem, poderia deixar que andasse no colo dos meninos, ou só quando estivessem na praia.Pensou por fim que saberia lidar com a situação, na hora em que ocorresse.Ficou na dúvida por alguns instantes, mas por fim resolveu levar.O dia seguinte seria de muita alegria, como há muito tempo ele não sentia.
Logo cedo, Zilda acordou as crianças, dando nos meninos um apertado abraço, felicitando-os pelo aniversário.Marco perguntou do pai, e Zilda disse que ele havia saído logo cedo, mas que retornaria em breve.As crianças ficaram brincando , e após cerca de uma hora, Carlos chamou os meninos na porta de casa:- Marco Antonio! Cassius!Estou precisando de ajuda aqui, vocês podem vir por favor?
Quando os meninos saíram, deram de cara com o presente.E que presente!Marco saiu correndo na frente, e ficou rodeando o carro por uns três minutos antes de entrar.- Pai, é demais!-disse, ainda sem acreditar.-Olha Cassius, chega a trinta por hora! Veja o ponteirinho!
- Esse ponteirinho chama-se velocímetro -Disse Carlos tentando ensinar algo para o filho, que parecia não ouvir mais nada .
- Já podemos andar papai?-perguntou Cassius também eufórico, o que não era lá uma coisa muito comum.
- Bem, eu não comprei para que ficassem olhando.Porém tem algumas regras:Primeiro, quando eu disser que chega, ou a dona Zilda, não quero que fiquem enrolando, parem de uma vez, e guardem o carro.Segundo:Se vocês o estragarem de alguma forma, tão cedo não terão outro.Terceiro:Se piorarem na escola, ficam sem o carro.Quarto:Quero que andem apenas aqui na rua, e parem bem antes da esquina certo?
Carlos se referia a única esquina na rua.Sua casa era em uma rua sem saída, assim desde que os meninos não fossem perto da única esquina, não haveria problemas, mesmo porque era um bairro muito calmo, e passavam pouquíssimos carros, e ainda, quando o faziam, era em baixa velocidade, pois a própria estrutura da rua não permitia.Enfim, Carlos realmente não via perigo.Ficou cerca de uns quarenta minutos assistindo eles se divertindo.Finalmente cansou e disse:
- Zilda, você fique de olho neles.Se eles abusarem , você pode parar tudo certo?
- Pode deixar Sr Carlos, estou de olho neles.
Carlos já ia entrando quando Carol veio pedir pra andar também .Carlos pensou, olhou pra rua, e realmente não ia permitir, pois ela era muito pequena.Mas pensou consigo mesmo: " que mal há de fazer?Não há perigo, ela é uma menina esperta.Pode deixar, ela vai ficar bem."
Acabou sucumbindo à sua voz interior.Pediu aos meninos que descessem, e embora Zilda tenha olhado Carlos com um olhar desaprovador, ele disse:
VOCÊ ESTÁ LENDO
Campos de Algodão
RomanceCarlos Roberto é um homem bem-sucedido do ramo da construção civil.Tem uma bela esposa, lindos filhos, e uma situação financeira que lhe confere comodidade.Mas após o falecimento de sua esposa, seu mundo começa a desmoronar.Sua personalidade cética...