- Olá, bom dia meninos.Bom dia Carol.-Disse Virginia logo cedo as crianças.
- Bom dia tia Virgínia.-responderam em coro.
- Não estão um pouco atrasados para irem a escola Marco?
- Hoje não tem aula tia.É dia da proclamação da República.
Virginia estava tão atabalhoada nos últimos dias, que nem reparou o calendário.- É verdade meninos, eu tinha me esquecido!Então, já que é um dia de folga, poderíamos aproveitar e passear um pouco,o que vocês acham?Quem sabe ir ao parque do Ibirapuera?Podemos ir ao planetário, vocês já foram ao planetário?
- Mamãe nos levou, mas já faz bastante tempo.Normalmente a gente acabava indo ao shopping , ou pra outro lugar-Respondeu Marco.
- O que é um planetário?-Perguntou Carol,que era muito pequena quando a mãe a levou.
- Planetário é um lugar parecido com um cinema, que mostra as estrelas e planetas.A gente se sente como se estivesse no espaço.
- O papai não vai querer.Ultimamente não tem mais tempo para nós-Respondeu Marco Antonio.
- Marco!Que coisa feia de se dizer!Seu pai ama vocês mais do que tudo nessa vida!Mas os adultos as vezes tem problemas, e esses problemas deixam a gente frustrados, sem vontade de fazer nada.
- É a tal depressão que ele falou?-Perguntou Carolina.
- Bem, receio que sim Carol..Isso acontece quando a gente tem muitos, mas muitos problemas mesmo.Mais do que poderíamos suportar.
- Ele vai morrer?-Perguntou a menina.
- Não, meu Deus! De onde tirou essa ideia?
- Minha mãe morreu.A Carla também morreu.E eu...Quase morri.Daí que tenho medo que seja a vez do papai.
- Não meu anjo, é claro que não.O que aconteceu com sua mãe foi que ela cumpriu a etapa dela aqui na terra.E a Carla foi um acidente, assim como você também, a diferença é que você sobreviveu .Tenho certeza que as duas, a essa altura, já estão juntas em algum lugar, orando por nós que ficamos.
- Não acredito em orações-Disse Cassius.
- Porque não Cassius?Não crê em Deus?
- Se Deus existe ele esqueceu nossa família há muito tempo.
- Não diga isso Cassius.Deus é nosso pai, e nunca nos abandona.As vezes ficamos bravos porque ele faz as coisas de maneiras que não entendemos.De repente ele estava precisando da Carla por la, e resolveu chamar ela mais cedo.
- Mas nós também precisávamos dela.
- Eu sei meu amor.Mas acho que sua mãe e a Carla cumpriram o papel que a elas foi designado quando nasceram.Sua mãe, amou seu pai, e teve quatro lindos filhos que são vocês.Esse era o papel dela aqui na terra.Sua irmã, também amou o Jaime, e ajudou muitas pessoas enquanto estava aqui nesse mundo.Acho que essa era a missão delas, foi para isso que vieram aqui.E agora que já fizeram tudo o que tinham de fazer, deixaram vocês no mundo para completarem o serviço.
- Tia, a senhora acha que a mamãe e a Carla foram para o céu?Minha mãe falava que a gente quando morre vai para o céu.-Perguntou Carol.
- Eu não acredito que vamos exatamente para o céu Carla, mas para vários lugares diferentes ,inclusive para o céu.
- Então, acho que a gente deveria ir para o planetário, porque assim a gente estaria mais perto da mamãe e da Carla.-Disse Carol animada.Virginia riu da inocência da menina.
- E vocês meninos?O que acham?
- Podemos levar os skates que papai trouxe de Miami?
- Esta bem, claro que podem.Mas primeiro devemos falar com o pai de vocês.
Carlos ainda estava acordando, mas com tanta gente falando no ouvido dele logo cedo, ele nem teve tempo ou argumento para negar o tal passeio.Pensou que seria bom para ele fazer um programa em família, e tirar a Carol de casa um pouco.Se arrumaram todos, e foram.
O parque estava cheio de gente, e o sol se impunha majestoso no céu de São Paulo.Os meninos pegaram os skates e saíram se divertindo.Zilda empurrava a cadeira de Carla, e Carlos e Virginia iam um pouco a frente conversando.- Como está se sentindo hoje Carlos?-Perguntou Virginia por achar que Carlos estava muito calado.
- Eu estou bem, acho.Esse lugar sempre me traz muita paz.Fazia alguns anos que eu não vinha aqui.
- Eu achei que faria bem as crianças.Acho que foi bom, veja como estão se divertindo.Até a Carol esta mais coradinha.
- Eu me lembro disso aqui no final dos anos 50,era rapazote ainda,haviam inaugurado o planetário a pouco tempo.Foi uma loucura na época, tinha tanta gente que passamos a tarde toda na fila.
- Nossa, e depois disso não vieram mais?
- Amanda veio anos mais tarde com as crianças.Eu não pude vir.Tive que ficar trabalhando na firma.Como perdi momentos bons com minha família me dedicando por essa empresa.Agora não tenho mais como recuperar isso, e essa mesma empresa acaba sendo vendida, e me põe no olho da rua. È realmente muito engraçado-Carlos falou isso com um certo sarcasmo.Estava irritado por ficar em casa sem nada pra fazer nos últimos dias.Havia recebido algumas poucas propostas de emprego, mas nada a sua altura.A melhor delas era para ser engenheiro sênior de uma grande empreiteira.Carlos iria ganhar três vezes menos do que recebia como vice-presidente da firma de Verdugo.Não aceitou.A verdade é que era difícil para ele.Tinha muita experiência, isso não se poderia negar,mas trabalhar com Elias era a única coisa que havia feito por toda vida,e como sempre gozou de prestígio e regalias, tinha receio de como seria em outro lugar.Sentia-se, de fato, como uma jovem em busca do primeiro emprego, mas sem a mesma impetuosidade,apenas os medos.
- Amor...Não adianta ficar remoendo o passado, o que passou passou.A vida continua, e o que interessa é daqui pra frente.Você tem os meninos, e a Carol , eles precisam de você.E eu também preciso.
- Eu sei...é que as vezes é difícil.
- Sei disso.Vai voltar ao Dr.Geraldo fazer a outra sessão com ele não vai?
- Vou, mas só porque você quer.Não sei de que adianta isso.Você viu, ele tentou me hipnotizar mas não deu certo.Eu disse que não ia dar certo.
- Mas uma coisa você será obrigado a admitir.
- O que?
- Apaguei a luz do banheiro todos os dias , desde o dia da consulta,aquela que você sempre deixa acesa.E você nem percebeu.
- Apagou?
- Hu-hum-Murmurou Virginia, com um sorriso nos lábios.
- É...Bom,é que eu ando tão cansado que nem vi...
Hu-hum .
Entraram todos no planetário, e logo começaram as exibições.Marco ficou espantado, não podia supor que o universo era tão grande.Carlos teve que pegar Carol no colo para que a menina pudesse ver melhor.Quando saíram foram muitos os comentários, seguidos de perguntas ávidas por respostas.Virgínia divertia-se com as crianças,como eram graciosas.Aos seus olhos tinha tudo pra dar certo,era só Carlos arrumar um trabalho que as coisas logo entrariam nos eixos.Continuaram a passear durante o feriado,foram almoçar e retornaram para casa.Virgínia estava ansiosa, pois no dia seguinte iria com Carlos novamente ao Doutor Geraldo.Ela achava que aquela tal de hipnose tinha conseguido resultados positivos, e quem sabe o que mais algumas sessões poderiam conseguir?
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Campos de Algodão
RomanceCarlos Roberto é um homem bem-sucedido do ramo da construção civil.Tem uma bela esposa, lindos filhos, e uma situação financeira que lhe confere comodidade.Mas após o falecimento de sua esposa, seu mundo começa a desmoronar.Sua personalidade cética...