Amigo Imaginário

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               -Sono qui,amore mio...Ho detto che sarei tornato*

               -Acorde Sr. Carlos. Acorde!- gritava Dona Zilda balançando o patrão que, ao que parecia, já havia rolado do colchão para o chão frio há muito tempo.  

               - Que foi?Que foi?Zilda?Que houve?-Disse Carlos com os olhos ainda remelentos e com aquela falta de noção de espaço e tempo, tão peculiar quando temos o sono interrompido abruptamente. 

               - O senhor aí falando um monte de coisa sem sentido,nesse chão gelado .Cruz credo!

               - Não foi nada Zilda, só um sonho.

               - E o que sonhou?

               - Sonhei que estava em um lugar e... Mas afinal pra que diabos isso lhe interessa  Zilda.Será que eu não posso nem sonhar?Digo ,você não sonha nunca?

               - Claro que sonho. É que, às vezes, os sonhos tem significado, patrão.

               - Que significado que nada! A gente trabalha o dia todo, e o nosso cérebro vai captando situações do dia a dia, coisas que vivemos ou que vemos na TV, nossos medos, atribulações, mistura tudo num pote só, e aí a gente sonha. Só isso.

                - Bem, mas também o senhor não precisa falar desse jeito, não é?Além do mais, qual o problema de compartilhar comigo?Mesmo porque, se não tem nenhum significado...

                - Às vezes você me deixa sem saber o que dizer Zilda. Isso é raro, você deveria trabalhar comigo no escritório. Está bem, vou dizer, embora não lembre direito...

                - Sou toda ouvidos patrão.

                - Sonhei que estava em um lugar bonito, cheio de flores, e tinha uma mulher e uma criança... Daí apareceu um cara e matou a criança... Matou com uma espada.

                - Nossa! Foi um pesadelo então!O senhor conhecia a criança?Conhecia alguém?

                - Não, quer dizer, eu acho que não... Eu me lembro de que eram soldados... Usavam umas roupas de soldados pelo menos...

               - E onde o senhor estava no sonho?

               - Eu? Eu não estava em lugar nenhum eu acho, como assim?

               - Ah, sabe como é né patrão, às vezes é alguma coisa que o senhor viveu em outra encarnação.

               - Ah meu pai!Que encarnação mulher, que papo é esse?Foi um sonho ruim , só isso!Aliás, já passou, deixe-me tomar um banho, que preciso levar Cassius no psicólogo.Meu café já esta pronto não?

                - Sim senhor, assim que o senhor sair de seu banho a mesa já estará posta.

                - Ah, só mais uma coisa que lembrei agora, sobre o sonho. E é uma coisa muito importante, e sei que vou usa-la hoje mesmo de uma forma positiva!

                - Verdade? E o que foi patrão?-perguntou Zilda radiante,esperando alguma resposta positiva.

               - O numero 14. Apareceu bem na minha frente. Sabe o que isso significa?

               - Não.

               - É borboleta, primeiro prêmio. Vou fazer uma fézinha na federal!

Campos de AlgodãoOnde histórias criam vida. Descubra agora