Tudo aconteceu de maneira muito rápida.Dona Zilda gritou desesperadamente por socorro, quando viu Carlos desmaiar ao telefone.O vizinho correu para ajudar, e os paramédicos também chegaram rapidamente .A única coisa que parecia quebrar a velocidade dos eventos eram os gritos desesperados de Carlos, quando recobrou a consciência. Teve que ser dopado, e ficar sob vigília.A notícia se espalhou rápido, como é comum nessas ocasiões.Um ou dois telefonemas, um avisa o outro, e logo todos estavam a par de tudo.Virgínia correu para a beneficência Portuguesa, pois quando Carlos desmaiou ao telefone, Zilda rapidamente pediu socorro, e a ambulância foi prontamente busca-lo.Virgínia desesperada, não sabia o que fazer:Por um lado tinha que cuidar de Carlos que, totalmente grogue pela medicação, mas ainda com forças para gritar a plenos pulmões , não podia ficar só;e por outro, deveria ver o corpo de Carla afinal alguém precisava fazer o reconhecimento do cadáver,preencher a papelada, cuidar dos trâmites de velório e sepultamento e Carlos não tinha condições .Ainda teria que lidar com os meninos que estavam pra lá de traumatizados,sem contar Carol ainda internada.De qualquer maneira ela teve que lidar com tudo ao mesmo tempo.Fez algumas ligações desagradáveis,afinal ninguém gosta de ser mensageiro de notícias ruins.Ligou assim para o Sr Verdugo e para Dona Sâmia, mas o pior telefonema era um interurbano, que teria que fazer para o Rio de Janeiro.
- Alo...Jaime?-Disse Virgínia, com a voz embargada.
- Sim?Virginia?O que houve?Aconteceu alguma coisa com a Carol?
- A Carol não Jaime...Ai meu Deus,como que vou falar isso Jaime?Foi a Carla...Ela...Ela estava indo para o aeroporto,daí o táxi...O táxi em que estava foi vitima de um assalto.Ninguém sabe direito o que aconteceu,parece que o motorista estava armado e resolveu revidar...A Carla foi baleada.Três tiros...Jaime, eu...
- Que?Como assim Virginia, onde foi isso, como ela está?-Perguntou o jovem desesperado.
- Ela...Jaime...Ela...
Virgínia não conseguia falar- Ai meu deus não, por favor não!
- Jaime, desculpa , me desculpa Jaime, eu sinto muito-respondeu Virginia em prantos.
Jaime nem esperou mais nada, largou o telefone e correu para o aeroporto.Virgínia do outro lado da linha estava desestruturada.Mesmo assim cumpriu sua via cruxis, cuidou de tudo, reconheceu o corpo, preencheu toda a papelada, boletim de ocorrência, delegacia, IML.Passou a noite entre lágrimas, tomando a frente da situação, sendo ajudada pelo Sr Verdugo que foi o segundo a chegar, tendo sido cabido a Dona Sâmia a tarefa de cuidar de Carlos.A noite foi longa para todos.No dia seguinte, o velório seria marcado por uma tristeza profunda, como é comum nessas ocasiões.Mas quando alguém morre jovem, e de forma tão violenta e abrupta, normalmente o clima é mais pesado, e nesse caso em particular, considerando que Carlos já havia perdido a esposa a dois anos, e sua filha caçula estivesse internada, com risco de ficar paraplégica, pode-se imaginar como foi carregada de lamento a cerimônia .Isso sem contar Jaime, que chegou por volta das oito da manhã, e apenas chorava , alisando o rosto de Carla.Virgínia não sabia o que fazer.Para todo lado que se olhasse, via-se uma pessoa em extremo sofrimento.Ficava andando pra lá e pra cá, ora abraçava Carlos, ora tentava consolar Jaime, ora abraçava os meninos.Carla sem dúvida era muito querida, não apenas por seus familiares, como também por amigos.O velório estava repleto de pessoas , antigos colegas de escola, amigos da rua, do bairro.
Carlos se culpava de todas as formas que um ser humano poderia se culpar.Se não tivesse discutido com Carla ela não teria saído afoita de casa, e nada daquilo haveria acontecido.Quantas vezes discutiram , e tantas poucas vezes ele pode dizer o quanto amava a filha, o quanto ela era importante.Todos tentavam consola-lo, mas era em vão, não existiam palavras que pudessem ser ditas naquele momento que servissem de acalanto para suas dores.
Ver o caixão descer naquela cova, e ser coberto de terra colocava um fim em tudo para Carlos.Ali, estava a filha dele, morta, enterrada para sempre, e por sua culpa.Nunca mais iria sorrir, ou brincar, nunca mais iria amar.Ele nunca mais iria vê-la, abraça-la, beija-la, dizer para ela todas as coisas que não havia dito até então.Era o fim.
Na saída do sepultamento, todos foram para a casa de Carlos.Não era prudente deixa-lo sozinho.
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Campos de Algodão
RomanceCarlos Roberto é um homem bem-sucedido do ramo da construção civil.Tem uma bela esposa, lindos filhos, e uma situação financeira que lhe confere comodidade.Mas após o falecimento de sua esposa, seu mundo começa a desmoronar.Sua personalidade cética...