Quando Carla recobrou os sentidos estavam ela e Flávio sentados no topo de uma montanha.Um grande vale se estendia à sua frente, com mais e mais montanhas grandiosas,cobertas de uma relva florida na base, e alguns picos cobertos de neve.O sol vinha deitando-se como em um início de manhã,debruçando seus raios sobre seus corpos espectrais.
- Onde... Onde estou?
- Está em casa Carla.
- Essa... Essa não é minha casa,eu moro no Rio.Eu moro com Jaime...
- Você morava com o Jaime. Mas, antes disso, morava aqui.
- Eu não estou entendendo...
- Sabe Carla... Lembra-se do dia em que foi alvejada pelos tiros?
- Sim, lembro, já falamos sobre isso. O que tem?
- Tem certeza de que se recorda de tudo que aconteceu naquele dia?
- Você já me perguntou isso, e eu já lhe respondi.
- Acho que você deve fazer um esforço para tentar lembrar de mais alguma coisa. Depois dos disparos, depois que você viu a poça de sangue...O que mais você viu?
- Não sei ao certo. Algumas luzes eu acho.
- Sim, prossiga.
- As luzes da ambulância eu creio,e então ficou misturado com outras luzes que vinham de um corredor... Eu me lembro de um longo corredor...Eu estava andando por ele então alguém pegou minha mão...Alguém pegou minha mão e disse :" Por aqui filha, estou aqui para te ajudar".Esse alguém...Foi você?
Flávio assentiu com a cabeça que sim.
- Eu...Eu morri?-perguntou Carla com lágrimas nos olhos.
- Seu corpo físico morreu a caminho do hospital Carla.Seu espírito, que é quem de fato você é , está aqui.
Carla começou a chorar .Não iria mais rever Jaime.E seu pai, e seus irmãos?Coitadinha da Carol, coitado de seu pai.Embora tivesse conhecimentos acerca do espiritismo aquilo tudo para ela era tão real quanto suas sensações enquanto encarnada.Estava perplexa por não ter notado antes, e ao mesmo tempo triste pelas sensações das perdas que julgava ter.Seus sentimentos eram completamente humanos,e misturavam-se de tal forma em seu ser, que seria capaz de jurar que sua respiração seguia acelerada e o coração palpitante.Tudo para ela ainda era muito físico,naquele corpo já etéreo,inclusive suas sensações de tempo e espaço.Tentou se recompor , para elucidar perguntas que fervilhavam em sua mente,pois embora tivesse conhecimento das questões acerca da volatilidade temporal,sentia e vivia tudo como se estivesse encarnada.- Quando...Quando foi que eu morri?
- Acho que você já percebeu que o tempo é totalmente indiferente para nós.Não acabamos de ver seus pais se beijarem?
- Sim, eu sei disso Flávio.Eu até estudei sobre isso, só que...
- Eu sei.Uma coisa é saber o caminho, outra coisa é percorre-lo.Você ainda tem todas as sensações que tinha quando estava encarnada.Pouco a pouco irá se libertar, e terá entendimento mais amplo de tudo que te cerca.Digamos que, pelo tempo dos encarnados, está aqui a um ano.
- Meu Deus, mas onde eu estava esse tempo todo?Digo,sei que estava aqui, mas...Parece que foi ontem, entende?Os tiros, minha briga com meu pai...Então já acordei aqui, não me lembro desse intervalo de tempo,por mais que eu saiba que estava inconsciente, não sinto como se tivesse passado esse intervalo todo. Pode me entender?
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Campos de Algodão
Lãng mạnCarlos Roberto é um homem bem-sucedido do ramo da construção civil.Tem uma bela esposa, lindos filhos, e uma situação financeira que lhe confere comodidade.Mas após o falecimento de sua esposa, seu mundo começa a desmoronar.Sua personalidade cética...