Aquele sábado amanheceu chuvoso.Zilda acordou as crianças, preparou o café, e estava a arrumar a casa.A toda hora olhava o relógio pensando o que teria acontecido com Carlos que até aquela hora não havia chegado.Ele estava bêbado ainda quando falou com ela de madrugada,na delegacia.
"Ele saiu daqui feito um bode louco.Ela foi embora pra casa dela, a coitada teve que ouvir tanta besteira que não viu outra solução.Toda mulher tem seu limite, e dessa vez o Senhor Carlos extrapolou todos.Logo a dona Virginia, uma moça tão boa, tão caridosa, que sempre esteve ao seu lado.Agora me sai pra rua esse homem e dá de beber?Ele fica tonto só de tomar uma latinha de cerveja!Será que ele está bem?O que eu digo para as crianças?Já sei, vou ligar pra Dona Virginia.Não Zilda,deixa de ser louca, já tem gente doida demais nessa casa ultimamente.Vou esperar mais uma hora.Não,meia hora, uma hora é tempo demais, e se ele sofreu algum acidente?Vou esperar, é melhor esperar.Calma Zilda Francisca de Assis.Te acalma,ele não deve demorar."
Ficou nesse dilema interior a manhã toda, até que Carlos apareceu,todo amarrotado,sujo, com sangue na roupa,o olho roxo e cheiro de urina e pinga.Uma visão horrível.- Minha Nossa Senhora Aparecida!
- Zilda eu não estou para sermões, por favor.
- Mas Senhor Carlos...Meu Deus do céu, o que aconteceu?
- Não foi nada demais.Eu fui assaltado ontem a noite, apenas isso.Eu revidei, e eles me bateram, estavam em maioria,o que eu podia fazer?
- Nada demais?E desde quando o Senhor bebe?
Zilda estava indo longe demais, ela percebeu isso só pelo olhar de Carlos.Mas não tinha como não questiona-lo,mesmo que fosse demitida ela não era capaz de não se importar,gostava muito dele.- Que droga Zilda.Eu bebo muito raramente, mas bebo oras.Ontem me excedi,só isso.Onde está a Virgínia?
- Bom Senhor Carlos...Eu nem sei como dizer isso, mas ela foi embora.
- Embora?Como assim embora?Embora pra onde?
- Foi pra casa dela, eu acho.Não tenho certeza.Arrumou as malas logo depois que o Senhor saiu.
- Puta que pariu.Mais essa agora...
- Mas Senhor Carlos, que boca suja é essa?
- Desculpa Zilda...Mas tem hora que não tem outra coisa pra falar.
- O Senhor vai me desculpar eu me meter, mas o que o Senhor esperava que ela fosse fazer?Ficar a noite toda agarrada no travesseiro chorando?Ela não é esse tipo de mulher Senhor Carlos, a Dona Virgínia tem amor próprio,e o Senhor mais uma vez vai me desculpar a franqueza, mas lhe conheço a muitos anos e lhe quero muito bem,bem o suficiente para falar isso.Eu até que tentei impedir, mas ela saiu daqui bem decidida.
- Quer saber, já foi tarde.Eu quero que se dane, se ela escolheu esse caminho que siga.
Zilda estava atordoada.Nunca naqueles mais de dez anos viu o patrão falar daquela forma.Ele era um homem gentil, fino,muito educado.Carlos estava realmente fora de si.- É assim mesmo Zilda, mulher quer saber de dinheiro, e quando você não pode dar o que elas querem ai te largam na rua da amargura!Eu sei que você é mulher, mas a verdade é essa
- Ela sempre esteve do seu lado Senhor Carlos,não fala isso.Sempre!
- É, esteve um tempo, mas foi só enquanto estava no bem bom.Agora que eu mais preciso,onde está?Foi-se, igual um raio, fez as malinhas,pegou os panos de bunda e me largou.Sabe porque ela fez isso,não?Eu vou te falar, você é cupincha dela então não vai me dar razão, mas eu vou falar mesmo assim porque é pura verdade:Ela me largou pois estou quebrado,falido.Não tem mais dinheiro pra nada.Pra ela estava bom quando eu tinha dinheiro pra bancar tudo.Passar dificuldade ninguém quer.Amanda jamais faria isso.
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Campos de Algodão
RomanceCarlos Roberto é um homem bem-sucedido do ramo da construção civil.Tem uma bela esposa, lindos filhos, e uma situação financeira que lhe confere comodidade.Mas após o falecimento de sua esposa, seu mundo começa a desmoronar.Sua personalidade cética...