Arno era bastante requisitado,tendo demorado quase três semanas para encaixarem um horário em sua agenda,data que foi muito aguardada por todos.Naquele dia saíram cedo de casa com receio de perder o horário, até porque o centro não ficava dentro da grande São Paulo,mas nas proximidades de Suzano,o que significou uma pequena viagem.O local em questão era uma casa muito grande,dentro de um sítio, que havia sido reformada para abrigar um centro espírita,com um enorme anfiteatro, um pátio,cantina,recepção e muitas salas para passes e grupos de oração.Logo que chegaram foram muito bem recebidos e antes de entrarem participaram de um grupo de orações e ouviram uma pequena palestra.Carlos estava inicialmente inquieto,o que é compreensível afinal nunca estivera em local parecido, e isso lhe despertava uma inquietude interior,mas foi ficando mais a vontade após algum tempo.Continuava incrédulo por dentro,é bem verdade, mas seu coração estava aberto a novas possibilidades,o que era um grande passo.Virgínia sabia disso ,por esse motivo agarrou seu braço e não largou mais.Queria que Carlos sentisse que não estava sozinho.Foram então conduzidos a uma ante-sala onde tiveram que aguardar ,e no momento adequado foram chamados.
Arnô tinha aproximadamente 50 e poucos anos mas sua pele morena e enrugada pelo tempo sugeriria um pouco mais.Seus lábios eram largos e grossos,e suportavam um bigode ralo e grisalho que ficava aparentemente espremido no pequeno espaço remanescente abaixo do seu nariz,que por sua vez era achatado e encurvado para baixo, devido provavelmente a perda dos dentes.Seus olhos puxados protegidos por um pequeno óculos de lentes arredondadas conferiam-lhe a aparência de um guru indiano,mas não era magro.Seu semblante era ,considerando o todo, sóbrio,e a despeito de qualquer impressão inicial que se pudesse ter não se podia negar que Arno transmitia muita paz,sob qualquer perspectiva.Quem o conhecia,no entanto, sabia que naquele corpo gasto pelos anos estava um homem simples em sua essência,porém de uma riqueza de conhecimento e espiritualidade pouco comuns nos dias de hoje,e logo Carlos entenderia isso.O casal andou por um corredor em direção a sala em que Arnô estava,e a cada passo que Carlos dava tinha vontade de voltar dois.Estava petrificado de medo, curiosidade, arrependimento, tudo junto.Só não mudaria de ideia pois tinha prometido a Virginia buscar ajuda.Além do mais, já havia recebido provas mais do que suficientes nos últimos dias para acreditar que de fato existia um outro mundo, uma outra realidade, que ele simplesmente desconhecia até então.Pode-se imaginar a apreensão que tomou conta de seu corpo, quando entrou naquela sala ,e deparou-se com a figura antológica de Arnô. Estava sentado a uma mesa,rodeada por algumas cadeiras e uma fotografia de Jesus pendia na parede,centralizada ao fundo.
Carlos em sua cabeça havia feito uma imagem bem diferente do que seria um centro espírita.Imaginava que encontraria mirra, arruda, um monte de velas vermelhas e um preto velho cercado de badulaques e penduricalhos agarrados ao seu pescoço.Sentia um medo intenso, e se fosse um pouco mais forte por certo teria quebrado algum dedo ou falange de Virginia, que não largava sua mão. A visão que Carlos teve,entretanto,foi bem diferente do que outrora formulou em seu imaginário.Apenas aquele homem, de branco, e a seu lado mais três indivíduos, dois homens e uma jovem bem bonita, provavelmente médiuns ou auxiliares, que vieram recebe-los .Foi assim entrando ,pé ante pé, até chegar a frente de Arnô.- Oi-Disse Carlos com a voz quase sumindo para dentro da garganta.
- Olá.Por favor, podem sentar.-Respondeu Arnô de forma sucinta -Em que posso ajuda-los?
- Bem, não sei bem por onde começar.Me chamo Carlos, e tenho perdido muitas coisas e pessoas de uns tempos pra cá.Sempre fui bem sucedido, mas estou desempregado a alguns tempo, e não vejo perspectiva de melhoras.Algumas pessoas de meu meio acreditam que a causa pode ser espiritual, por isso vim buscar ajuda.Eu nunca fui...Religioso.
- Então veio porque as pessoas ao seu redor acreditam nisso.E você, em que acredita?
- Acredito que elas estão certas e eu errado.Eu não entendo muito bem como funciona o mundo espiritual, mas também não vejo mais soluções físicas para o que tem acontecido em minha vida.
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Campos de Algodão
RomanceCarlos Roberto é um homem bem-sucedido do ramo da construção civil.Tem uma bela esposa, lindos filhos, e uma situação financeira que lhe confere comodidade.Mas após o falecimento de sua esposa, seu mundo começa a desmoronar.Sua personalidade cética...